As iniciativas culturais e pedagógicas prolongam-se por vários meses, com sessões de cinema e eventos abertos a toda a comunidade.
Cinema, conversas, literatura e muita ANIMação. Os programas associados às celebrações dos 50 anos do 25 de abril que a cooperativa de produção cultural Curtas Metragens promove são variados e abrangentes, pretendendo alcançar todo o tipo de audiências. Desde os mais novos aos mais experientes, do universo escolar às salas de cinema, esta proposta apela à participação de todos, pretendendo proporcionar a partilha e a criação de novas e marcantes memórias sobre o que significa viver em Democracia e Liberdade em Portugal.
Com a missão de representar e divulgar o cinema de curta-metragem português, a Agência da Curta Metragem apresenta o mais recente programa 25 de abril em curtas. Um conjunto de filmes que representa o antes, o durante e o pós-revolução, incluindo o olhar sobre a resistência e o fascismo, presentes em Os Salteadores, de Abi Feijó, e Menina, de Simão Cayatte, assim como as memórias e traumas da guerra colonial em Estilhaços, de José Miguel Ribeiro.
Já a Solar, a Galeria de Arte Cinemática, apresenta a ANIMar 19, uma exposição que, em conjunto com o projeto FILMar, propõe uma viagem visual e sensorial à fronteira entre o mar e o cinema, com filmes, sons, sessões e atividades pensadas para todos, que decorre até ao dia 8 de junho. Tendo em mente as celebrações deste meio século de democracia, a ANIMar propõe ainda um conjunto de iniciativas temáticas. Surgem assim as Conversas de Abril, que ocuparão, no mês de maio, o espaço da Loja das Curtas, tais como as Curtas de Abril, um conjunto de sessões de cinema que fará chegar às escolas imagens e narrativas reminiscentes da ditadura, resistência e liberdade. Este programa de curtas-metragens da ANIMar para Escolas está disponível para todas as instituições de ensino que pretendam reservar uma sessão especial de cinema nas suas instalações ou nas salas do Teatro Municipal de Vila do Conde.
Conversas de Abril, durante o mês de maio
No dia 4 de maio, às 16:00, a Loja das Curtas acolhe a primeira sessão deste ciclo de conversas, tendo o seu ponto de partida na apresentação do livro O Guardião da Constituição, uma edição do Tribunal Constitucional com texto de Isabel Minhós Martins (Planeta Tangerina) e ilustrações e de Yara Kono (Planeta Tangerina). Cinquenta anos depois da Revolução dos Cravos e quarenta e sete anos depois da Constituição da República Portuguesa ter entrado em vigor, o país atravessa uma nova etapa da sua história. A atual geração depara-se com um clima de incertezas, acompanhado pelo crescimento global de tendências ideológicas plenamente antidemocráticas. Se às gerações anteriores ainda lhes restam as suas memórias vívidas do Fascismo, e no calor da revolução, já à geração atual esse contraponto articula-se apenas no plano simbólico. Como conseguimos zelar pelas conquistas da Revolução de Abril num tempo em que os seus guardiões já nasceram num estado de plena democracia? Isabel Minhós Martins e Joana Riquito (do Gabinete de Relações Externas do Tribunal Constitucional e uma das revisoras de conteúdos desta edição) juntam-se para conversar sobre esta árdua tarefa que é ser guardião da Constituição da República Portuguesa de 1976 neste novo tempo, pontuado por tentativas revisionistas contra as conquistas trazidas pela Revolução dos Cravos nas nossas vidas.
Na tarde de 11 de maio, pelas 17:00, Margarida Ribeiro, Mafalda Martins, Tânia Dinis e Mariana Sardon, tendo como convidadas as professoras Guilhermina Costa e Isabel Barca, apresentam o projeto SEMPRE, histórias de liberdade, a partir de uma conversa em torno do tema Repensar a História. SEMPRE, histórias de liberdade é um projeto artístico multidisciplinar evocativo dos tempos de abril, a partir da exploração dos arquivos e coleções pessoais recolhidos junto daqueles que viveram o período da revolução em Vila do Conde. Materializa-se numa interpretação multidisciplinar, na forma de uma manifestação, a 1 de maio, pelas 21:30, no Mercado Municipal de Vila do Conde, com uma extensão, a 19 de outubro, numa exposição, numa publicação e numa cassete.
A 18 de maio, pelas 16:30, a artista Tânia Dinis apresenta o seu projeto Álbuns de Guerra, numa conversa aberta sobre o tema. Esta criação artística sobre a Guerra Colonial, nasceu a partir das imagens e memórias partilhadas pelas mulheres da zona do Vale do Ave que, ao longo dos 24 meses de serviço militar e dos então namorados, noivos ou maridos, materializaram a sua relação amorosa trocando fotografias, aerogramas e cartas. Este projeto interpretativo das artistas Tânia Dinis e Catarina Laranjeiro, coproduzido pelo Teatro Oficina e Associação Cultural Tenda de Saias, esteve em circulação por diferentes regiões do país, como na Casa da Memória (Guimarães), no Congresso Internacional de Fotografia e História (Funchal) e no TAGV - Teatro Académico de Gil Vicente (Coimbra).
Já no dia 25 de maio, às 16:00, terá lugar a última tertúlia de abril, com o título A Greve na Pesca do Bacalhau. Uma conversa que contará com a moderação de Abel Coentrão (jornalista e diretor da associação cultural Bind'ó Peixe) e a participação de três convidados muito especiais: Celestino São Roque (ex-pescador do navio São Jorge), António de Sousa Oliveira (ex-pescador do navio Neptuno) e Carlos Marques Fernandes (ex-radiotelegrafista do navio São Gonçalinho). A sua presença nesta conversa será fundamental para se reavivar as recordações do seu tempo na pesca do bacalhau e, principalmente, da primavera de 1974, em que viveram a Revolução dos Cravos a milhares de quilómetros de Portugal. Nesse ano, uma greve das tripulações dos navios portugueses, em São João da Terra Nova, no Canadá, ditaria o fim da mítica pesca à linha com botes de um homem só.