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365 dias de leitura

Written by  Yvette Vieira crtz direitos reservados

Cláudia Sousa é coordenadora do projecto de um ano de leituras, no âmbito de uma candidatura ao Viseu Cultura, pela Câmara Municipal de Viseu, e que nos explica o cerne desta iniciativa que tem vindo a ser promovida em vários equipamentos culturais do concelho e outros estabelecimentos aderentes.

Porquê decidiram propor este projecto de leitura durante um ano?
Cláudia Sousa: As normas do programa Viseu Cultura, que financia este projecto, obrigam a que as atividades sejam desenvolvidas até ao final do ano em que o apoio é dado. Do conhecimento de anos anteriores a perspetiva era que o protocolo que antecede o financiamento fosse assinado em Março e as ações teriam de ser desenvolvidas obrigatoriamente até 31 de Dezembro. Ao chamarmos “365 Dias de Leitura” estávamos já a dar indicação que o objetivo é construir uma iniciativa que se possa prolongar para além do financiamento e que queremos muito que ele passe a ser uma oferta cultural constante da cidade, que começou em 2021, mas que sobreviverá nos anos que se seguem.

Serve também para estimular junto da população o acesso as bibliotecas públicas?
CS: Esperamos que consiga também cumprir esse objectivo, nomeadamente estimulando a própria biblioteca pública a sair um pouco do seu espaço físico e a ir ao encontro dos seus utilizadores e potenciais utilizadores.

Reparei que existem espaços em Viseu onde se lê para pessoas invisuais, ou com baixa escolaridade. Esse é um dos objetivos destes 365 dias de Leituras?
CS: Procuramos oferecer possibilidade de leitura autónoma e independente, daí a preocupação em investir em equipamentos que fazem a conversão de documentos de texto, nomeadamente, PDF e EPUB, alguns dos formatos de livros, em áudio, o que torna mais acessível o acesso a livros a pessoas com cegueira e pessoas que não sabem ler. Pretendemos também desenvolver sessões de leitura em voz alta, mas que essas sessões sejam inclusivas e sirvam pessoas com e sem cegueira, exímios leitores e pessoas que nunca tiveram a oportunidade de aprender a ler.

Quais os tipos de leituras propostos? Literatura de que tipo? A escolha dos livros como é feita?
CS: Inicialmente houve da nossa parte a preocupação em pensar quais os tipos de livro que fariam mais sentido. Pensámos em leituras mais rápidas como os contos, crónicas. Com a implementação percebemos que mais interessante do que fazermos uma seleção prévia, seria ter a capacidade de oferecer o que as pessoas querem ler. Por outro lado, também nos pareceu muito importante incentivar o ato de comprar livros, quer digitais ou em papel. Optamos assim por colocar no leitor livros de autores em livro acesso e reservar o valor para a compra de livros para comprar o que as pessoas querem ler. Os equipamentos são disponibilizados com saldo para a aquisição de livros e temos pedido a utilizadores e aos Espaços Leitores sugestões de livros e autores para que possam ser comprados.

Ao seu ver, que tipo de público acede a esta iniciativa desde que começou?
CS: Até à data, no que a pessoas leitoras diz respeito, o projecto não tem tido muita adesão. Por um lado, não tem havido muita divulgação e as pessoas só agora começam a perceber em que consiste “365 Dias Leitura”. Por outro lado, infelizmente, sabemos que existe pouca motivação para a leitura, as pessoas mais motivadas defendem o livro em papel, não valorizando a leitura digital. Estas são questões que tivemos em conta na estruturação do projecto e que são algumas das principais motivações para a sua implementação.

Acha que as novas gerações ainda leem livros físicos?
CS: Acho que existem, tanto nas novas gerações como nas que a antecedem, todo o tipo de pessoas. Há quem leia livros físicos, ou em papel, há quem leia livros digitais, quem leia ambos e quem não leia. Queremos promover a leitura em todos os suportes, embora o recurso seja o digital. Sabemos que nas gerações mais novas encontramos mais facilmente pessoas para quem o digital e a tecnologia é uma ferramenta constante, mas também quem ainda não tem acesso ou quem têm acesso, mas usa apenas para utilizar redes sociais, onde se lê, muitas vezes sem sequer se ter consciência disso, ou sem percebermos que não lemos o que gostaríamos, mas sim o que nos aparece à frente, partilhado pelos contactos que temos.

Ainda há um público jovem para as bibliotecas?
CS: Do que conheço, e não é muito, diria que os públicos jovens recorrem muito as bibliotecas para encontrar espaços de estudo. É bom que as bibliotecas possam ser isso, mas elas são muito mais do que isso. Com bastantes constrangimentos, nomeadamente no que diz respeito à capacidade financeira para constituir acervos que sejam por si só abrangentes e motivadores para tanta gente com gostos tão diferentes.

E qual acha que deve ser o papel das bibliotecas no novo milénio?
CS: Na minha opinião, que não tenho formação específica na área da biblioteconomia, mas sim em intervenção social, diria que o papel está muito bem definido pelo trabalho da Maria José Moura e equipas, e pelo Manifesto IFLA/Unesco sobre bibliotecas públicas. Importará acompanhar a inovação, nomeadamente tecnológica, importará continuar a investir em meios materiais e técnicos, nomeadamente a formação dos seus profissionais, e importará também não ter problemas em sair dos seus espaços para se aproximar mais dos públicos que devem servir. Mas, penso que nada disto é novidade e que está implícito nas anteriores definições.

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