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Claúdia Dias no centro cultural de vila flor

Written by  bruno barreto ft paulo pacheco

O Centro Cultural Vila Flor, Em Guimarães, acolhe a 02 e 03 de novembro, as primeiras duas criações do ciclo “Sete Anos Sete Peças” de Cláudia Dias que coloca frente a frente medo e desejo de futuro, palavras e cumplicidade, diferença e unificação.

A coreógrafa e performer Cláudia Dias traz ao Centro Cultural Vila Flor (CCVF) as primeiras duas criações do ciclo “Sete Anos Sete Peças”, um projeto que, tal como o nome indica, pressupõe a criação de sete peças em sete anos consecutivos com sete artistas convidados. “Segunda-Feira: Atenção à Direita!” e “Terça-Feira: Tudo o que é sólido dissolve-se no ar” sobem ao palco do CCVF a 02 e 03 de novembro, sempre às 21h30. Em 2019, o CCVF continuará a acompanhar este projeto, com a apresentação de “Quarta-feira: o Tempo das Cerejas”.

“Segunda-Feira: Atenção à Direita!” é primeiro espetáculo do ciclo de sete peças que Cláudia Dias se propôs fazer ao longo de sete anos consecutivos. “Este projeto, como outros que desenvolvi anteriormente, nasce de uma inquietude muitas das vezes indizível ou inominável e que, após ser trazida para fora dessa interioridade inicial, ganha sentido numa frase ou numa palavra”, assume a criadora. “Neste caso, trata-se da palavra Encontro mas, mais do que do seu significado, trata-se do que a palavra evoca, convoca e aciona. Para mim, a palavra 'encontro' aciona desde logo uma imagem: duas pessoas paradas de frente uma para outra e a possibilidade de irem ao encontro de ou irem de encontro a. Dois corpos e uma distância entre si para ser articulada, percorrida, vivida, mantida, abolida ou amplificada.”.

Em “Segunda-Feira: Atenção à Direita!” Cláudia Dias sobe ao ringue de boxe com Jaime Neves. O encontro está marcado para dia 02 de novembro, às 21h30. O ringue é o palco do Grande Auditório do CCVF. Cláudia e Jaime propõem-se reconstituir um combate de boxe, punhos cerrados, um contra o outro. Boxe, full contact ou vale-tudo-menos-tirar-olhos, uma coisa parece certa: vão dar e levar na boca – não há que ter medo das palavras – literal e metaforicamente.

O combate tem vários blocos de mais ou menos trinta perguntas sobre distância e proximidade, ou sobre cumplicidade, intimidade, diferença, ou ainda sobre porque são as coisas como elas são, e nós com elas, e isto em, fazendo as contas, mais de duzentas perguntas, jogadas ao vivo e em direto, cada pergunta, cada golpe, gancho ou uppercut – palavras que nomeiam partes do combate – e que nos podem pôr KO.

Cláudia e Jaime vão levar na boca, literal e metaforicamente, sim, senhor. Os dois pertencem a uma comunidade que tem sido levada ao tapete vezes sem conta, uma geração derrotada, um país prostrado, um Estado falido, uma união falhada, uma península arrasada, um continente perdido. Quando se esmurrarem com argumentos, entre sangue, suor e lágrimas, far-se-á luz, como nas fábulas esclarecidas. Ao sentimento de opressão, de que se libertam combatendo, opor-se-á o sentimento de solidariedade, entre pares, que se reforça no combate, quando eles se reconhecerem como iguais. Punhos cerrados. Destas forças contrárias, sai atrito bastante para passar das palavras aos atos.

No segundo espetáculo do projeto “Sete Anos Sete Peças”, Cláudia Dias inspira-se no universo dos desenhos animados de Osvaldo Cavandoli para criar “Terça-Feira: Tudo o que é sólido dissolve-se no ar”, que se apresenta no 03 de novembro, às 21h30, no Pequeno Auditório do CCVF. “Quando era criança assistia fascinada, como muitas pessoas da minha geração, aos programas televisivos do Vasco Granja e ficava deliciada com aqueles desenhos animados que criavam mundos a partir de plasticina, cartolina ou de uma só linha. Cerca de trinta e tal anos depois convoco esse universo, nomeadamente o trabalho de Osvaldo Cavandoli, para esta segunda criação do projeto Sete Anos Sete Peças”, partilha a criadora.

Em palco, Cláudia Dias e Luca Bellezze constroem uma narrativa visual, usando uma linha para contar a história de um menino de dez anos, cujos avôs foram expulsos primeiro da Palestina e depois do Líbano, que viaja desde a Síria até Itália. Em paralelo, criaram também uma narrativa sonora, com ruídos e barulhos deste caminho de fuga. A tudo isto se acrescentam os corpos de ambos, de forma não-verbal, precisamente para escapar às ideias feitas. E o texto, em vez de ser posto na boca dos atores, para que se identifiquem falsamente com os refugiados, é projetado no cenário, para sublinhar a distância que separa uns dos outros. As palavras contam, embora nem sempre como contamos.

Num tempo em que as linhas divisórias, as fronteiras, as barreiras, as linhas da frente e de mira dos conflitos bélicos, as fileiras e as linhas de identificação do drama dos refugiados, as linhas de respeito dos limites marítimos das nações, as linhas duras das fações radicais de organizações políticas e religiosas estão na ordem do dia, Cláudia Dias e Luca Bellezze trabalham (n)uma linha unificadora, capaz de juntar o que se encontra separado.

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