Estudos sobre o desejo - Tomo I - O Barão a partir de Branquinho da Fonseca, Aldous Huxley, George Bataille, entre outros, com estreia no dia 11 de Julho, em Marvila, na Rua Pereira Henrique 1, em Lisboa.
Estão cinco performers diante de nós, em palco. Vieram contar-nos a história de O Barão, um conto de Branquinho da Fonseca. Estão preparados, a atestar pela forma como nos olham, expectantes, à procura, com pupilas muito abertas, como animais preparados para um ataque. Estão ali com um propósito, todos os dias, o de encontrar o desejo. A pulsão que os habita, o lugar escondido a que nem sempre conseguem aceder. Recorrem ao conto d’O Barão porque sabem que nesta história há um inspetor que não gosta de viajar e que preza em demasia o seu estatuto, e um excêntrico Barão, de passado obscuro e paixões perdidas.
Através da manipulação de histórias pessoais estimuladas pelo cruzamento com textos de Aldous Huxley e de George Bataille, entre outros, contaremos a história do Barão para nela nos projetarmos e nos dispormos a encontrar, nem que por breves segundos, a ponte que nos levará ao lado do desejo puro, da contemplação despudorada do belo que nos rodeia. Estaremos em cena completos, totais, disponíveis. Prontos para experimentar, mas com a noção constante de que isto é um espetáculo. Estaremos no palco e, nesse lugar sagrado, seremos pessoas-personagem. Todos os caminhos estão em aberto, quando, num palco, misturamos atores e desejo.
Miguel Maia sobre o espetáculo
“Estudos sobre o desejo” é um conjunto de espetáculo que abordam um conceito que é fulcral na criação artística, o do desejo enquanto força motriz de qualquer ato consciente ou inconsciente de criação. Neste primeiro Tomo, trabalhamos o conto O Barão. Trata-se de um conto (ou, para alguns, uma novela) de Branquinho da Fonseca, publicado pela primeira vez em 1942, que tem como pano de fundo uma remota aldeia portuguesa, e que facilmente relacionamos com o Portugal fechado e enegrecido do antigo regime. A história, narrada na primeira pessoa por um inspetor da escola primária em visita de trabalho à aldeia, relata o estranho encontro deste com o Barão, destacado habitante de personalidade excêntrica e de reputação tanto temida como respeitada. A esta base juntamos o ensaio de Aldous Huxley, As Portas da Percepção e alguns excertos de textos de George Bataille, cruzando-os com histórias pessoais.
Encaramos este espetáculo como um estudo. Que fazemos recorrendo aos performers, às memórias dos seus corpos, às propostas das suas mentes quando sujeitas ao ato de mostrar. Ao movimento. Queremos mostrar, sim, mas antes temos que estudar/experimentar. O processo criativo tem por base o uso de textos analíticos e poéticos como combustível para aquilo que os corpos propõem. Encontrar, nesta procura de uma ideia de desejo e de coisa escondida no inconsciente, um movimento. Um levantar de mão, uma canção, uma disposição do corpo que nos faça, nem que por um segundo, aceder ao lugar que pretendemos: o da contemplação absoluta do belo. Sabemo-lo impossível, mas somos incapazes de resistir.
Este trabalho do Barão está intimamente ligado tanto ao meu percurso pessoal como profissional: baseia-se num conceito que vejo pouco explorado e que me parece central na criação artística – o desejo enquanto objeto que queima e que faz mover todos os pensadores e artistas que admiro. Os textos que tenho dirigido no âmbito do projeto Esta noite grita-se têm-me permitido trabalhar com muitos atores e muitos textos, dando-me novas bases para coisas que quero agora explorar mais aprofundadamente. Paralelamente sinto a necessidade de voltar a trabalhar com atores que propõem soluções numa perspetiva de cocriação dirigida. Somente com este trabalho sinto ser possível evoluir como criador e usar o palco para aquilo que mais gosto – refletir com uma distorção controlada este mundo que habito. Para, por momentos, me sentir melhor.
Adaptação, Dramaturgia e Encenação Miguel Maia, a partir de vários textos (O Barão, de Branquinho da Fonseca, Portas da Percepção, de Aldous Huxley, O Olho, de George Bataille, entre outros). Interpretação e co-criação Inês Garrido, Isac Graça, Rita Marques e Telmo Mendes Direção de produção Leonor Buescu Assessoria de Imprensa Mafalda Simões Design Eduardo Trave Espaço Cénico Miguel Maia Figurinos Sofia Lima Desenho de Luz Manuel Abrantes Operação de Luz Carolina Caramelo / Gonçalo Morais Vídeo Mário Jerónimo Negrão Fotografia Sónia Godinho Registo vídeo André Lopes Registo áudio Félix Brückelmann Duração prevista 1h40m Classificação Etária M/12 (previsão, por classificar CCE)
Apoio MarvãoGest - Armazém 16, I.F.I.C.T. – Instituto de Formação, Criação e Investigação teatral, Fundação GDA
Estreia 11 de Julho Armazém 16 - One your first stop - Marvila, Rua Pereira Henriques 1.
De 11 a 21 de Julho Reservas: 916 911 100 | companhia@cepatorta.org | www.cepatorta.org/barao
Outras datas: Caldas da Rainha | Outubro 2019 Porto, Passos Manuel | 12 e 13 de Outubro de 2019
BIOGRAFIA
A Companhia A Companhia Cepa Torta é uma plataforma artística que desde 1999 trabalha na área do teatro e performance. É constituída por um conjunto de artistas que colaboram entre si nos diferentes projetos que assentam na criação artística teatral, no trabalho com a comunidade onde se encontra (Marvila), e no serviço educativo – secção O Rebento. Nos seus 20 anos de existência apresentou trabalhos no Teatro na Malaposta, Teatro Ibérico, Teatro Taborda, Biblioteca de Marvila, Teatro da Comuna, Teatro da Trindade, Teatro da Garagem, Fala-Só, Fábrica Braço de Prata, Bridewell Theatre (Londres), entre muitos outros espalhados pelo país. O trabalho assenta tanto no teatro de repertório (Brecht, Gil Vicente, Raul Brandão, Eurípedes, Tchékhov, Durënmatt) como em criações originais. Um dos projetos emblemáticos mais recentes é o Festim de leituras de textos de teatro, Esta noite grita-se, dirigido por Miguel Maia e Filipe Abreu, e que vai já na sua 3ª temporada, com a participação de um grande conjunto de actores para um total de 7 textos em diversos espaços de Lisboa. Com um coletivo eclético, a companhia tem a ambição contínua de pesquisar formas de fazer, investindo na procura de novas abordagens de encenação e criação. A revisitação do património dramatúrgico clássico e por isso intemporal coabita com um interesse contínuo na contemporaneidade e nos dramas da realidade atual. A companhia que não tem apoios para a sua estrutura tenta desenvolver projetos em simultâneo numa perspetiva de trabalho em rede com parceiros da área artística, comunitária e educativa. A secção O Rebento desenvolve projetos pedagógicos em Marvila, Odivelas e tem vindo a apresentar espetáculos de norte a sul do país.