Como te defines? Para além de artista plástico, ilustras livros, mas também escreves.
PSB: Defino-me só como artista. Mesmo quando estou a fazer uma ilustração, não estou a ser um mero ilustrador, porque a minha preocupação ultrapassa o simples facto de estar a ilustrar um texto. Mais do que isso é uma envolvência. As pessoas sentem necessidade de tocar naquela ilustração, há qualquer coisa ali que mexe com elas e foi o que fiz no último livro.
Como no caso do livro do Valter Hugo Mãe?
PSB: No Valter foi diferente, mas que implica as pessoas sentirem quase a textura do desenho. Os desenhos são a esferográfica, as pessoas diziam-me que era uma coisa tão básica, sim, mas eu gosto desse processo de repetir, repetir, repetir até criar uma imagem e que implica isso? O que se consegue fazer também com uma esferográfica e eu questiono isso. O que é ser artista? É esta questão complexa que tento trazer para os meus trabalhos, brinco, misturo tudo e acho o resultado é feliz.
Sentes a necessidade de trazer o público até tua obra, porquê?
PSB: Tem a ver com uma leitura, com um processo do que é a vida e porque só se cria e se o fazemos é por um motivo muito simples, nós temos um tempo na nossa vida, eu ir-me-ei embora um dia, o que fica? Os objectos, até na arte contemporânea, ele são efémeros, desaparecem. Eu preciso isso, de dizer as pessoas, olhem o mundo de forma diferente. Esta peça chama-se reflorestar, decompomos a palavra e temos estar, como fazemos isso? Senta-te um pouco nesta banca e olha o mundo a tua volta. Ao mesmo tempo não é uma banca, é um objecto, precisa de se inovar. Ela é apelativa, porque tem uma mancha de luz. A ideia inicial era representar uma nuvem, depois comecei a desligar-me e ia sendo cada vez mais pintura, mas faltava um pormenor, a floresta. Por isso abandonei o resto e ficou uma mancha de tinta, não ando á procura do perfeito. O azul mexe e só a luz esta na esquina. O que valorizo e não valorizo? É uma questão de consciência e de estar no mundo, por isso trago comigo as pessoas, quero que sintam. Vivemos apressados e depois nos esquecemos de sentir.
Então rejeitas a ideia da obra estática na parede?
PSB: Sim, eu quero que as pessoas mexam, explorem e descubram. Eu dou aulas de teatro e levo o aluno a descobrir-se a ele próprio. É o corpo que fala. Tem uma voz. A descoberta é que é fantástica, porque a vida é uma magia.
Trabalhas muito sob o conceito?
PSB: Eu acho isso terrível num sentido, são muitos dias á espera de inspiração. Eu acho que nós na terra somos meras marionetas. Há qualquer coisa depois de isso tudo. Eu tenho essa filosofia. O de estar aqui. Sei que pode demorar mais tempo ou menos, mas vou obter uma resposta. Quando me dizem que tenho de criar um objecto para uma exposição de design, penso em como vai ser esse objecto e remeto-me para a minha infância e passa a ser uma banca tradicional das nossas cozinhas e depois para onde vou? O que ela precisa? Tem de deixar de ser objecto e passar a ser tela. Eu gosto de misturar tudo, porque te obrigo a pensar, como espectadora. A vida só tem beleza quando se pensa. É um exercício filosófico. A vida tem mais intensidade quando envolve raciocínio. É uma questão de integrar as pessoas. Estamos sempre em mutação, o céu é lindo, mas transforma-se em noite e isso pode ser assustador. Por outro lado, pode ser lindo. É uma viagem de optimismo. Interna. Toda a obra de arte reflecte sobre isso. Há uma escritora, a Yvette K. Centeno, que afirma que, a arte é a resolução de um problema. Claro que implica outras coisas, como quero a luz e ainda entra a vertente pessoal. O jogo. O que me interessa no fundo é que olhem.