Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

sexta, 28 dezembro 2012 20:37

Mar das especiarias

São crónicas de viagem recheadas de histórias deliciosas sobre povos muito distantes do nosso quotidiano.

É uma viagem pela pegada colectiva de um povo que há quinhentos anos conquistou mares nunca antes navegados. É um trajecto pela herança cultural que está em risco de desaparecer da memória dos portugueses, mas que contra todas as expectativas permanece viva nos hábitos culturais e sociais dos povos que habitam as ilhas à Leste da Indonésia. É uma narrativa de viagem, uma forma de escrita que muito aprecio, do escritor, jornalista, errante e investigador, Joaquim Magalhães de Castro. É uma excelente oportunidade também para “passear” pelo quotidiano de povos tão distantes de nós, mas que surpreendentemente tem os mesmos apelidos e algumas semelhanças fisionómicas. É a célebre capacidade portuguesa em se misturar. São histórias sobre ilhas com nomes misteriosos, que impelem a nossa imaginação numa aventura quase magalhanesca, (já sei, o termo não existe, inventei-o agora mesmo!). Com prefácio de Ana Gomes, espero que apreciei esta experiência tanto quanto eu. Boa leitura!

sexta, 28 dezembro 2012 20:33

Rosa brava

É um relato histórico sobre um dos períodos mais conturbados da história de Portugal.

Acima de tudo é um exercício literário sobre a vida da rainha mais amaldiçoada da história do nosso país. José António de Saraiva escreveu um livro muito interessante, de ficção histórica se é que lhe podemos chamar assim, sendo de facto um dos relatos mais emocionantes que já li neste últimos tempos. Ela, a nossa rosa brava, apenas comparável a lady Macbeth de Shakespeare, pela ambição desmedida, pela ousadia, pela sua pérfida personalidade que contra todas as expectativas, contra tudo e todos, chega a ser coroada rainha de Portugal, ela é a figura central do livro e é uma personagem cheia de nuances inesperados que a conduzem ao abismo. Esta Leonor Teles é tão rica em pormenores que, mesmo que não conheçamos a história de Portugal, tudo o que lhe desejámos é o cadafalso, o seu percurso faria corar o príncipe de Maquiavel. O enredo é muito aliciante e nunca nós sentimos defraudados, ou menos empolgados pelo desenlace. A escrita de José António Saraiva é dinâmica e muito visual, conseguimos imaginar a corte portuguesa, os meandros mais obscuros dos conluios políticos da época e embora o final seja o esperado, até porque é baseado em factos documentados, o escritor deixa-o um tanto quanto em aberto, mas eu sou suspeita até porque como já referi gostei muito de o ler. Espero que o meu entusiasmo se pegue. Boa leitura.

sexta, 28 dezembro 2012 20:30

Memórias do rock português

É um passeio pela história musical portuguesa do século XX.

É um manual do rock português moderno português e um testemunho pessoal interessante sobre algumas das bandas e artistas mais influentes do cenário musical do nosso país. Aristides Duarte faz um relato objectivo do percurso profissional de vários dos grupos de rock e músicos portugueses. São as biografias actualizadas de 60 bandas, em dois volumes, através de uma cronologia pormenorizada que inclui também a discografia editada e onde ainda há espaço para relatos de concertos e muitas entrevistas. O autor retrocede no tempo para relembrar-nos de alguns das mais memoráveis canções que fazem parte do nosso memorial colectivo e dos grupos de rock que nasceram nos anos 70 e 80, no chamado boom da música portuguesa, desde, Os Ban, os CTT, os Delfins, os GNR, Go Graal Blues Band, Grupo de Baile, os Heróis do Mar, Lena de Água, Iodo, os Já fumega, Mler Ife Dada, Peste e Sida, Quinta do Bill, só para nomear alguns. É um compendio para ser lido pelos fãs e não só. É um documento importante que serve para traçar o percurso temporal da música feita em Portugal. Boa leitura.

sexta, 28 dezembro 2012 20:28

A menina do mar

É um dos mais belos contos infantis da literatura portuguesa, escrito por Sofia de Melo Breyner.

Este conto faz parte do imaginário infantil de qualquer criança. Porquê? Porque a escrita de Sofia de Melo Breyner encanta já a várias gerações de portugueses que, lêem e relêem este conto escrito para ser lido apenas aos seus cinco filhos e que acabou por ser ouvido por milhões. A menina do mar, embora seja uma referência obrigatória dos programas oficiais dos planos de leitura nacional, nunca sofreu o desgaste desse título tão pesadamente administrativo. É um livro amado por todos os que com ele se deparam. A palavra obrigatória nunca se aplicou a este conto, muito pelo contrário. É uma leitura cheia de encanto, magia e recheado de personagens maravilhosos que povoam os fundos marítimos. É a história de uma amizade entre um menino que vivia em terra e uma menina que vive no mar. Sofia de Melo Breyner na sua obra sempre gostou de abordar o oceano, porque é “desde a orla do mar/ onde tudo começou intacto no primeiro dia de mim”. E nós perpetuamos a sua escrita, ao ler esta obra magnífica aos mais jovens. Boa leitura

sexta, 28 dezembro 2012 20:25

A pesca à linha e algumas memórias

É um conjunto de pequenas histórias deliciosamente escritas por António Alçada Baptista.

As crónicas que inundam este livro reflectem a memória colectiva intelectual de dois países, Portugal e o amado Brasil do autor. São o retrato de uma época, dos seus intervenientes que António Alçada Baptista recorda, através de histórias leves e algumas até anedóticas que merecem uma leitura cuidada. É um livro de fácil leitura, muito divertido, porque fala de uma portugalidade, sob o ponto de vista de um homem que sempre deambulou pelas letras deste e do outro lado do Atlântico. Alguns dos textos que constam desta colectânea tinham já sido publicados numa revista feminina, contudo o tempo não deixa qualquer marca nestas pequenas histórias, muito pelo contrário, torna-as ainda mais interessantes, graças ao sentido de humor acutilante do escritor. Vou realçar uma dessas crónicas, muito engraçada, intitulada, “o pacto perdido”. Aborda a curiosa relação de lealdade entre ladrões, e desde já adianto que é verídica e só poderia ter acontecido em Portugal, na minha modesta opinião. Outras das pérolas deste livro são as suas memorialistas sobre algumas das personalidades da vida artística e literária do nosso país e do Brasil, que descortinam assim muitas das idiossincrasias destes personagens e a sua forma de estar na vida. E como não quero parecer injusta em relação a nenhum dos visados, peço só que leiam-nas todas, vão ver, não custa nadita de nada. Boa leitura.

sexta, 28 dezembro 2012 20:23

O último cabalista de lisboa

É o romance de estreia do escritor Richard Zimler no nosso país que retrata um período histórico em que a Igreja era omnipresente em todas as facetas da vida quotidiana. São os primórdios da infâmia que foi a inquisição.

Richard Zimmler escreve os seus livros em inglês. Os temas dos seus romances contudo, transpõem o leitor para as diversas realidades da sociedade portuguesa fruto de uma pesquisa rigorosa. O último cabalista de Lisboa é o resultado desse estudo, uma era negra dominada pelo medo e terror que foi a inquisição. Sendo um americano de origem judaica, o escritor naturalmente pesquisou sobre a vida dos judeus nesse período e o resultado é um romance muito interessante sobre um cristão-novo, Berequias Zarco, um jovem discípulo de célebre escola cabalística de Lisboa que vê a sua família envolvida num crime. É uma espécie de thriller policial histórico, que retrata a vida dos judeus que foram forçados a converter-se ao catolicismo, mas que continuaram a manter as suas tradições e os seus hábitos seculares na penumbra dos seus lares. É um retrato ficcionado da época, embora todos os factos históricos sejam baseados na realidade conhecida desse ano do senhor de 1506. É um livro muito interessante, porque aborda o cabalismo, um ramo do judaísmo muito na moda recentemente, graças à Madonna. Acima de tudo é um romance pleno de acção, com um assassinato por descortinar e pelo meio temos um reino que embora relutante, tem de implementar um dogma que visa perseguir todos os professam uma fé diferente, imposta por uma Igreja castradora. Todos os ingredientes para uma boa leitura.

sexta, 28 dezembro 2012 20:21

As estórias abensonhadas

São contos escritos pela pena de Mia Couto, já publicados em jornal, que cobrem o período pós-guerra em Moçambique. A fantasia começa...

O que mais me fascina nos escritores africanos é a sua pungente imaginação, tudo é possível, literalmente. Árvores que engolem pessoas, animais que falam, espíritos que espreitam os vivos, fantasmas que se materializam em diferentes formas. Não há impossíveis. O limite da imaginação não existe. Mia Couto insere-se nessa categoria. De sonhadores que ouviam desde a infância estas estórias encantadas, ou melhor, abensonhadas. São contos que nos remetem para um outro mundo. A África que o escritor ama e que não se cansa de descrever, como se não existisse, como de uma fantasia se tratasse. Ele descreve sonhos com personagens ambíguas, umas mais do mais do que outras, que nos remetem para realidades paralelas, como um caleidoscópio cheio de cores e padrões inesperados. A linguagem é o seu auxiliar nesta memória colectiva, cheia de palavras plenas, fofas, sonoridades estranhas que os ouvidos acostumados ao português parecem mágicas. A intenção é essa. Transportar o leitor para esse seu universo muito longínquo, mas ao mesmo tempo tão próximo. Parece, mas não é. São estórias que se querem fingir de verdade, como o próprio autor escreve. Cabe ao leitor decidir se fica até ao fim. Espero que fique e leia. Boa leitura!

sexta, 28 dezembro 2012 20:18

A crónica dos bons malandros

Uma publicação de grande sucesso do jornalista, Mário Zambujal. Uma leitura muito divertida sobre um grupo de malandros bem à maneira lusa.

Trata-se de um dos livros com mais sucesso deste escritor português. Embora Mário Zambujal tenha já referido em mais do que uma ocasião que é um livro que o persegue, porque toda a gente continua a falar dele e isso marcou em muito a sua carreira nas letras, o facto é que a sua estrutura simples e os próprios personagens que criou fazem deste pequena narrativa um divertimento puro para quem o lê e relê. Ele mesmo afirmou aqui, numa entrevista que me concedeu, que o fez por graça para fazer a vontade de alguns amigos. Ainda bem! As crónicas destes malandros são de tal forma engraçadas e singelas, que conseguimos criar uma grande empatia com as peripécias deste bando de falhados, muito ao gosto nacional. Eles pensam que são espertos, mas estão redondamente enganados. A estrutura também é curiosa, porque cada capítulo descreve a “carreira” no crime de cada um dos malandros. O final é hilariante! A forma como pretendem levar à cabo um assalto ousado no Museu Gulbenkian, é o epitáfio de tudo o que nunca se deve fazer quando se pretende roubar um edifício fortemente protegido. Imaginem o meu entusiasmo era tal pelo livro que, quando visitei pela primeira vez a Fundação, fiquei especada a imaginar, ria-me sozinha até enquanto relembrava toda a confusão que os malandros alegadamente criaram na ala árabe. Devo dizer que o meu comportamento na altura, chamou à atenção de um dos seguranças e não pelos melhores motivos. Parecia mesmo uma maluquinha. O livro é uma delícia e o Mário Zambujal que me perdoe, mas é um daqueles que “carregamos” sempre connosco. Boa Leitura!

sexta, 28 dezembro 2012 20:16

O amor de perdição

É um dos livros mais representativos do romantismo em Portugal. É também uma das maiores obras-primas da literatura no nosso país.

Amor de perdição é um dos maiores clássicos da literatura portuguesa, porquê? Porque Camilo Castelo Branco é um grande escritor, é um dos monstros sagrados da literatura portuguesa e uma personalidade que ao igual que os seus livros viveu uma vida tão apaixonadamente voraz como os personagens que descreveu. Comecemos pelo livro, é o romance amaldiçoado entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque. Um amor condenado desde o primeiro suspiro, devido a inimizades antigas entre as duas famílias, as semelhanças com o Romeu e Julieta de Shakespeare acabam aqui, embora também haja lutas, sangue e lágrimas com fartura.

É um romance de extremos. Ou é o tudo, ou é o nada. O amor de Simão e Paula é tão violento que acaba por contagiar tudo o que está à sua volta. É uma infecção que se alastra pelo enredo e que “ataca” quase todos os personagens. Uma febre de romantismo incurável que os leva a cometer as loucuras em nome de sentimentos mais nobres. É esta paixão exacerbada, atribulada e tumultuosa com sede de sangue que incendeia página á pagina uma narrativa interessante que prende o leitor até o final esperado. Podemos até estabelecer um paralelo entre esta publicação e a vida do autor, já que Camilo levava à letra aquilo que descrevia nos seus livros. Também ele era um homem de fortes paixões que o levaram como é sabido á prisão. Podemos dizer mesmo que viveu como escreveu literalmente. Boa leitura!

sexta, 28 dezembro 2012 20:10

Gente feliz com lágrimas

É uma das obras maiores de João de Melo e um retrato de uma família açoriana que podia ser decalcada para qualquer agregado familiar da época em que se insere.

Trata-se de uma saga familiar brutal, porque descreve bem a pobreza, a violência física e psicológica de um agregado familiar açoriano. É a vivência dos três personagens e irmãos, o Nuno Miguel, a Maria Amélia e o Luís Miguel, desde a sua infância até a idade adulta, relatando o inferno que foi as suas vidas até a “libertação”. É um romance emocionante pela escrita que não poupa o leitor, é crua e fere a nossa sensibilidade em certas passagens, mas em boa hora. João de Melo não doura o passado, nem o romanceia, subjuga as palavras para passar sentimentos e emoções que não deixam o leitor indiferente.

O mais curioso deste livro é que poderia ser transposto para a realidade de qualquer família da época. Os maus tratos e abusos infligidos às crianças, a fome, o trabalho infantil imposto pela pobreza e ignorância num país empobrecido. O êxodo dos ilhéus para o Continente é outro dos temas muito bem descrito pelo autor, os jovens que partiam para o seminário em busca de uma educação gratuita e de uma vida melhor. Existem imensos açorianos e madeirenses que ao lerem esta publicação, a geração de 40, revêem-se por inteiro neste romance, emocionam-se na leitura ao ponto de afirmarem que aquela foi a sua história de vida e choram porque recordar dói, mesmo passado muito tempo. Um decalque sociológico e histórico que gerou um dos maiores romances da literatura portuguesa e que foi premiado merecidamente mais do que uma vez. Boa leitura.

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