Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

quarta, 05 fevereiro 2014 08:51

o quase fim do mundo

 

Mais um livro surpreendente do escritor angolano, Pepetela.

"O quase fim do mundo" é um romance maravilhoso, carregado de uma ironia refinada e envolto numa narrativa deliciosa que expõem as fragilidades, as incongruências e as virtudes dos seres humanos, independentemente da cor da pele, do estatuto social e capacidade económica. O fio condutor desta história é simples, tal qual o título sugere, o mundo como o conhecemos desaparece e não vou adiantar como, mas o que posso dizer é que ao contrário dos outros livros que descrevem cenários apocaliptícos, ou de guerras, ou de grandes catástrofes naturais, ou ainda de invasões alienígenas para justificar o fim de todos os seres humanos que habitam o planeta, aqui tudo acontece por um único motivo, puro preconceito. Acima de tudo creio que "o quase fim do mundo" é um livro que nos faz pensar, não apenas sobre as questões relacionadas com as diferenças raciais, étnicas, culturais e sociais, mas em particular sobre o valor que dámos as coisas, se quase todos os seres vivos pura e simplesmente se esfumassem, qual seria o verdadeiro valor dos bens materiais para os poucos que ficam? O que seria essêncial e o que passaria a ser supérfulo? O que nos moveria? Trata-se de um exercício literário perturbante no sentido em que se nos colocássemos nessa posição, como reagiríamos, perante a perda total da nossa identidade? Agora, imagine como seria o mundo se tudo permanecesse intacto e só você e um punhado de pessoas sobrevivessem? Bem, o escritor responde, e tudo o que tem de fazer é ler. Boa leitura.

quarta, 05 fevereiro 2014 08:49

No pico mais alto de portugal

 

Existe uma pequena editora, a companhia das ilhas, fundada por Carlos Alberto Machado e Sara Santos, na ilha do Pico, nos Açores. É um sonho quase utópico que procura dar uma maior visibilidade aos novos autores portugueses de ficção, mas que também publica poesia e teatro.

Qual era necessidade de criar uma editora no arquipélago dos Açores?
Carlos Alberto Machado: Bom, há necessidade de editoras independentemente dos locais onde estamos. Felizmente existe muita gente, muitos autores por editar. Há uns mais conhecidos, outros menos, isto em termos gerais. Nos Açores, em particular, sente-se mais a falta de editoras com um espectro mais alargado, que não apenas publicações sobre temas açorianos, sobretudo escritores locais, já que, as duas que existem normalmente nunca se dedicam à publicação de novos autores. Também há razões pessoais e outras mais genéricas, mas a vida das editoras é isto, aparecem e desaparecem.

Mas, quais são os desafios de uma editora como a companhia das ilhas?
CAM: Não há desafios muito concretos, existe é um conjunto de autores açorianos que não estão editados e que nós podemos editar. É um projecto que segue em paralelo um com o outro. Editámos mais poesia e teatro, coisa que não é muito comum nas editoras nacionais e vamos manter essa linha. Este ano já vamos iniciar outras áreas. No fundo quando alguém se lança numa editora tenta diferenciar-se dos outros projectos, não para ser distinto, mas porque as pessoas são diferentes e tem ideias díspares sobre os livros que acham que são precisos e que são interessantes para oferecer aos leitores.

Abordou que publicam novos autores, mas é apenas os açorianos ou aparecem escritores fora das ilhas?
CAM: Não temos preferências etárias. Nos Açores e não só, mas aqui em particular, as duas editoras que são relativamente recentes privilegiam os consagrados. Nós pensámos que a oferta deve pautar-se pela qualidade e daí tanto podemos editar um autor com um nome feito, como também um que esta a aparecer, ou que tenha pouca coisa publicada. Vamos iniciar a publicação de um revista só com autores açorianos, dirigida exclusivamente ao arquipélago e que privilegia os ficcionistas relativamente jovens com o máximo de 40 anos, mas com a particularidade de não terem obra publicada, ou pelo menos quase nenhuma. Esta é uma vertente importante. Em termos nacionais já editámos alguns autores, nomeadamente duas escritoras, cujos livros foram os primeiros a serem editados, mas não fazemos questão que sejam apenas os novos.

Os Açorianos, por serem ilheús, são preferencialmente poetas?
CAM: Não me parece, porque dos textos que se vão publicando há muita ficção, falei da revista cujo conteúdo optámos por não incluir poesia, mas a maioria escreve ficção, embora tenha havido grandes poetas açorianos. Não sei se há uma diferença muito grande, não posso afirmar de todo isso com segurança, não sei se a região difere do resto do território nacional nesse aspecto, diz-se que Portugal é um país de poetas, se calhar é verdade, porque existe muito boa poesia no nosso país.

 

quarta, 05 fevereiro 2014 08:47

As ilhas afortunadas

 

É um filme de Nelson Camacho e Filipa Gracês. Uma comédia que estabelece um paralelo entre a escrita poética de Fernando Pessoa e a realidade actual da ilha da Madeira.

Como é surge ideia para o argumento das ilhas afortunadas?
Nelson Camacho: Começa com um convite irrecusável, sabia que tinha apenas só dois meses para executá-lo, aceitei o desafio, por outro lado, nunca tinha feito uma curta-metragem com guião, que foi outro dos obstáculos a ultrapassar em termos das minhas experiências com vídeo. Tudo começa com a Filipa Garcês que é a pessoa que me acompanha de perto neste projecto, ela é co-autora do script e começámos a conversar o que poderíamos filmar em tão pouco tempo, nas horas vagas, nos fins de semanas e folgas. Eu gosto muito de Fernando Pessoa, em particular as ilhas afortunadas e tendo em conta que a Filipa, como actriz, já tinha tido algumas experiências com esta e outras personagens, comecámos a pensar numa história que passasse pela Madeira, que fosse ficção e pudesse provocar o riso dos madeirenses, na nossa perspectiva. Tudo começa assim, com muito trabalho criativo, a Filipa incansável na parte dos dialógos e lutámos imenso para criar algo com lógica, de 15 a 20 minutos, que era outro desafio imenso, porque uma curta-metragem livre teria sido concerteza mais pequena, só por uma questão de tempo, já que tivemos apenas dois meses. Assim, sendo deitámos mãos à obra.

Vamos falar do argumento, há uma ponte entre a poesia de Fernando Pessoa e as restantes personagens , qual foi o teu maior desafio em termos de escrita?
Filipa Garcês: Essencialmente foi tentar escrever algo actual e que enquadra-se a realidade madeirense, a partir do poema desenvolvemos as personagens e a história.

Outras das curiosidades deste filme é todas as personagens masculinas são representadas por uma mulher.
FG: Exactamente, foi muito complicado desdobrar-me em várias personagens, ainda por cima masculinas, fui um duplo desafio tendo em conta, na minha opinião, de se tratar de uma comédia que é uma ideia que ainda esta associada ao homem, posso dizer até que nesse sentido foi triplo o esforço e vendo o feedback do público achámos que foi bastante positivo.

NC: Gostava de acrescentar que também foi um desafio para a Filipa muito grande, a partir do momento em que quero colocar as personagens em contacto umas com as outras, porque é algo extremamente difícil contabilizar o tempo necessário de resposta para bater certo no trabalho de edição. Claro que há sempre truques que se podem utilizar, mas não deixa de ser meticuloso tendo em conta os diálogos longos e acreditem que tivemos de repetir muitas vezes (risos).

Qual das personagens é a que gostaram mais?
NC: Gosto imenso do polícia intolerante, cruel, diz algumas verdades, é incisivo e acho que é fantástico.

FG: Gostei mais do Sergei, o ucraniano, porque representa a fragilidade dos emigrantes em termos de barreiras linguísticas, o não compreender o que os locais dizem, os hábitos são diferentes.

NC: Se calhar também há uma certa timidez.

FG: É uma personagem que é-me bastante querida.

quarta, 05 fevereiro 2014 00:05

Catequese segundo praga

      

Desde 2011 que o Teatro Praga se dedica à Catequese. Em diferentes formatos e com diferentes temáticas este é sempre o espaço que quer ser um momento de reflexão, misto de intimidade dubitativa e pregação intolerante. Desta vez, na sua viagem pregatória, passa pela Porta 33 com André Teodósio e o escritor José Maria Vieira Mendes. Ambos ajudaram os participantes não a encontrar respostas mas a reformular as suas perguntas. Sobre teatro, por exemplo. Mas também literatura ou dança ou dicionários ou mortes e nascimentos e histórias e por aí fora.

Catequese porquê? É uma provocação?
André Teodósio: Não, achámos que é preciso partilhar alguma gramática para conseguirmos a nossa megalopsique ou a nossa transcendência de alma. É um posicionamento, uma saída do nosso agir quotidiano, como se nos víssemos ou tívessemos uma auto-consciência para podermos decidir o nosso futuro, ou o nosso caminho, portanto, o que tentámos fazer com esta catequese é sermos o homem e o nosso próprio deus ex-máquina ao mesmo tempo, estarmos a fazer qualquer coisa e estarmos a ver qualquer coisa. A catequese é uma espécie de uma conversão de outras maneiras de fazer, ou de outros tipos de percepção para a nossa maneira de experimentar uma determinada forma de consciência.

Uma dessas formas de consciência é o sublime. Explica essa ideia.
AT: É uma forma do estar a viver entre o real aquilo que não programamos e conhecemos e a realidade onde nos encontrámos diariamente. O sublime é esse posicionamento quase fantasioso, por exemplo, de viver junto ao real para sempre, ou viver somente na realidade, é a maneira que nos posicionámos nas várias contingências, ou tipos de modos de viver, ou de acontecer, de agir, ou de pensar, que coexistem em nós. É o não seguir só um caminho e não estar só num sítio, é conseguir dar um passo e saber que pode ser mortal ou não, é como a pintura do Caspar David Friedrich, do homem que esta na falésia, ele tem o real e tem a vida dele por detrás, se der um passo em frente morre, se for para atrás continua na sua vida, mas não tem aquela experiência estética do real, de uma beleza monstruosa. É justamente a manobra do sublime que tentámos fazer também.

Então como se passa da ideia, do conceito, para a práctica no workshop?
AT: O que estamos a fazer é duvidar do saber, do ser, de que somos alguma coisa, para a ideia de que estamos a ser muitas coisas ao mesmo tempo. Portanto, começou por esse primeiro passo, a atribuição do que o teatro é, atribuímos coisas ao ser e depois duvidamos do que o ser é alguma coisa e passámos a estar. Dentro deste estar sabemos que estamos em relação com muitas coisas as quais usámos para nós espelharmos ou usamos para espelhar. Este último passo é o espelhamento daquilo que nos apresentámos como sendo e através do olhar dos outros irmos manipulando os nossos corpos, ou as nossas maneiras de agir segundo aquilo que estamos a ser, mas modificando ao mesmo tempo para podermos ser mais qualquer outra coisa. É mesmo um processo do sublime, há uma coisa real do qual nos esquecemos, ou que vislumbrámos de vez em quando, porque vivemos na realidade e então falta o passo, o que desejamos ser na articulação destas duas coisas. É algo práctico, temos o texto, estamos em frente a um espelho e tentámos um exercício do movimento do corpo, da consciência, da maneira como nos podemos representar e ao mesmo tempo os outros estão a olhar para nós e vão-nos imitar a fazer qualquer coisa e nós também temos que imitar o que eles estão a fazer, é a nossa imitação. É um jogo de espelhamentos, é um desprendimento total dos restinhos ainda de ser e da maneira que somos até ficar nada.

http://www.porta33.com/eventos/content_eventos/Catequese/Catequese_Andre_e_Teodosio_Jose_Maria_Vieira_Mendes.html

quarta, 05 fevereiro 2014 00:00

Não é um ovni é um omniflow

Trata-se de um dispositivo híbrido que permite captar a luz solar e o vento.

Há cerca de três meses o empreendedor, Pedro Ruão, engenheiro de materiais, decidiu lançar no mercado nacional com um sucesso assinável um produto inovador, uma turbina omnidirecional imóvel, que capta o vento e o sol em todas as direcções, em simultâneo. O Omniflow permite produzir energia eléctrica e transformá-la em energia útil para fornecer a sua casa, escritório, edifício, carro elétrico ou qualquer outra aplicação elétrica.

Trata-se de um aparelho de pequenas dimensões que causa pouco impacto paisagístico, ou visual, ao contrário de outros dipositivos à venda no mercado. Mais, a turbina pode ser personalizada com a cor e decoração gráfica para publicidade ou exibição do logotipo da empresa. Outra das vantagens é que não oferece perigo as aves, devido ao difusor omnidireccional que protege a turbina e as suas partes móveis não visíveis e sem efeito de cintilação e sombras. É ainda um sistema que em funcionamento não produz ruído. O preço deste aparelho varia consoante à sua aplicação, para a producção de energia de uma moradia unifamiliar, sem contar com os custos de instalação por um técnico devidamente qualificado, pode rondar os 2500 euros.

http://omniflow.pt/

terça, 21 janeiro 2014 18:01

Lukatoyboy versus PT

Trata-se de um projecto musical único, que mistura música electrónica com discursos sobre políticos, elementos sonoros da sociedade portuguesa e notícias nacionais. Um conceito artístico dealizado pelo dramaturgo Jorge Palinhos, inserido no projecto "o terror e miséria da terceira república" do grupo de teatro reponsabilidade teatral e executado Luka Ivanovic', mais conhecido por lukatoyboy, DJ, músico e jornalista.

Em que âmbito surgiu o projecto com o luka?
Jorge palinhos: Foi integrado no projeto "conta-me como é", que prepara vários fins de semana temáticos organizados por diferentes dramaturgos inseridos num projecto mais amplo, "o terror e miséria da terceira república" da responsabilidade teatral, que é um grupo de teatro de Coimbra.

Neste trabalho musical há uma súmula de gravações. Como é que foi feita essa escolha específica?
JP: Procurei notícias ou discursos políticos que estivessem mais directamente relacionados com a situação actual, especialmente alguns momentos mais marcantes da vida política e social portuguesa, não dos últimos anos, mas meses, porque acontecia tanta coisa diferente que noticias não é o que falte.

Qual foi a reacção do público? Tendo em conta que no concerto não é audível que se trate de discursos de personalidades ligadas à sociedade portuguesa, mesmo políticos, aliás quase nem se percebe que é português.
JP: Há algumas parte que se percebe e até acaba por funcionar bem de uma forma surpreendente. Em que estamos a ouvir uma coisa que é apenas som e ritmo e se transforma em palavras e acho que isso é muito interessante. Mas, a reacção do público foi alguma perplexidade e interesse.

Então porque ficaram perplexos e surpreendidos?
JP: Por ser uma proposta inovadora e inesperada. Conseguir tornar palavras e discursos em algo que seja mais musical e por som é algo que as pessoas não estão habituadas a ouvir.

 

terça, 21 janeiro 2014 17:59

As naturalis

 

Joana Ribeiro é uma designer de jóias de autor que se inspira nas texturas que encontra na natureza. As suas peças únicas e artísticas reflectem uma grande diversidade plástica e original, que conquistaram não só o público feminino, como os júris de vários concursos nacionais e internacionais.

Muitos joalheiros tem como inspiração à natureza, o que te distingue dos restantes profissionais?
Joana Ribeiro:Muitos dos joalheiros procuram na natureza as formas, eu procuro que se sinta a textura mesmo, das folhas das raízes e das papoilas. São jóias que pretendem ser diferentes ao toque.

Essas diferenças também se notam nos materiais, ou não?
JR: Sim, de certa forma. As peças são todas feitas em prata. No entanto, há peças em que procuro realçar a cor através de esmaltes que não
é uma técnica tão usada na joalharia, uso também pedras mais vulgares que se podem encontrar num jardim. Tentar mostrar um pouco do bruto com a elegância da prata.

Então fazes uma pesquisa de materiais, após encontrar esses elementos na natureza?
JR: Sim faço sempre uma pesquisa. Em todos os lugares que vou, ao estacionar o carro procuro sempre jardins e estou atenta aos detalhes que esses espaços naturais possuem, vou com uma tesoura na carteira e faço recolha de amostras, procuro saber que planta é aquela e quais são as suas características.

Então o teu processo criativo começa na natureza e só então ficas inspirada para criar a peça?
JR: Exactamente. Tem muita base na experimentação e não no desenho. Primeiro faço umas maquetes e só depois idealizo uma peça.

As tuas jóias incluem anéis, brincos e bandoletes. Achei muito curiosa à escolha deste tipo de acessório, porque não é muito vulgar na joalharia.
JR: Isso tudo começou com um desafio, era uma pessoa que gostava muito das minhas jóias, mas que não usava brincos, porque tinha o cabelo muito curto e então desafio-me para adorna-lo e pronto a partir daí como gostei do resultado final passei a fazer bandoletes.

 

É a segunda edição mais completa do livro publicado anteriormente pelo advogado e historiador, Rui Nepomuceno.

Porquê a segunda edição deste livro?
Rui Nepomuceno: Porque o primeiro esgotou. Depois continuei a estudar, a ler documentos, a ir aos arquivos e cheguei a conclusão ou que tinha que emendar o primeiro, ou acrescentar muito mais. Então resolvi fazer um livro com o mesmo título, mas uma segunda edição, melhorada e aumentada.

Quanto tempo levou a estudar este tema?
RN: Cerca de vinte anos, porque tive de ver documentos e ler tudo o que se publicou sobre este tema.

A outra versão já é extensa.
RN: Mas, este é ainda mais. Repare a história da Madeira nunca se tinha verdadeiramente contado, porque nas universidades portuguesas não existe. Durante anos fiz fichas exaustivas sobre o tema. No meu tempo não havia computador, portanto fazia tudo à mão. E um dia reparei que tinha doze anos de ficheiros e pensei e se eu morrer? Esta aqui tanto trabalho perdido, então decidi publicar o livro.

Então esta é a versão final?
RN: Sim, agora tenho outro livro para sair.

 

terça, 21 janeiro 2014 17:49

O insurrecto

 

José Vieira Mendes assume-se como um escritor de literatura dramática e desde 2008 integra o Teatro Praga como artista residente e dramaturgo, mas a sua produção literária também inclui ensaios para teatro, libretos para óperas e tradutor.

Fala-me um pouco sobre o teu processo de escrita para o teatro. Nas tuas peças englobas todos os tipos de escrita que existem e acaba por ser difícil de levar à cena.
José Vieira Mendes: Eu não tenho um processo fixo. O que me interessa fazer é uma literatura dramática, sobretudo, os códigos que estou a usar, ou me estou a mexer são da literatura dramática, que tem uma história própria, tradições e autores que foi conhecendo ao longo dos tempos e estou com essa bagagem toda que conheço, estou a tentar ocupar o meu espaço nesses códigos. Não me preocupa de todo o espectáculo de teatro quando estou a escrever e quando escrevo é literatura e não um peça de teatro. É inevitável que seja influenciado pelo teatro, na medida que sou uma pessoa que trabalho em teatro, para além da literatura, mas tento distinguir esses dois momentos. Tanto sou influenciado pelo teatro, como pela vida em Lisboa, pelo telejornal, ou mesmo "a casa dos segredos", nesse ponto de vista não acho que haja uma relação privilegiada entre aquilo que escrevo e os espectáculos.

Não é uma contradição?
JVM: As peças que são levadas à cena é um problema que não me diz respeito até porque, idealmente para mim não gostava que esses textos fossem levados à cena nesse sentido, mas também não faço questão que não o sejam. Os textos estão disponíveis e interessa-me publicados e se por acaso alguém quiser fazer um espectáculo que os faça e se for uma pessoa com dinheiro ainda melhor, porque ainda recebo, porque é o único interesse que tenho em relação aos meus textos e o teatro. Não acho que o texto necessite de um espectáculo.

Então como te defines, quando se faz uma pesquisa com o teu nome apareces como dramaturgo.
JVM: Eu defino-me como dramaturgo e foi isso que acabei de explicar. É uma pessoa que escreve literatura dramática que estão inseridos nessa tradição, um autor de literatura dramática tem uma relação diferente com o teatro, porque os seus textos só estão completos se forem postos em cena, há autores que acham que sabem o que é o teatro e escrevem para ele. Como não tenho nenhum desses conhecimento, como não sei o que é o teatro e como aquilo que estou a tentar descobrir o que é a literatura dramática e o pode ser o meu texto, não tenho qualquer interesse entre essa relação entre o texto e o teatro.

Então não te preocupas com o feedback do público?
JVM: Eu preocupo-me com o feedback dos leitores. Eu quero que os meus textos sejam publicados e lidos. Essa é a relação privilegiada, que interessa ter com o leitor. Os meus textos não tem uma relação com o espectador, o espectáculo é que o tem. O meu texto é letras em papel e a relação passa a ser com o leitor e não o espectador. A ideia de que texto é teatro é errada, texto é texto, depois há pessoas que dizem: vou fazer um espectáculo a partir deste texto, ou vou adaptar este texto, mas isso é na cabeça deles, as pessoas que vão ver esse espectáculo por sua vez, não o vêem esse texto, estão a ver a obra. A relação directa que posso ter com o público, é mais uma relação com o leitor e não com o espectador.

 

terça, 21 janeiro 2014 17:47

Que fazer das ruinas

É um filme de Filipe Ferraz que é acima de tudo uma reflexão sobre uma sociedade em ruínas fruto da soberba humana.

Como surge o projecto ruínas?
Filipe Ferraz; Surge de um convite do centro das artes global produzido pelo Maurício Marques, decidi falar das ruínas como metáfora da realidade que estamos a viver, em que tudo esta em ruínas e continuámos a fingir que não. Toda a gente continua a tentar ter uma vida normal e fingir que não vê nada à sua volta.

É uma espécie de auto da barca?
FF: Sim, é uma espécie de auto, só que é num mundo onde não há Deus, porque os protagonistas não chegam a ser deuses, toda a gente trabalha a mando de alguém e ninguém é responsável por nada e vamos andando assim. É um auto sem Deus.

Tivestes uma especial preocupação com a escolha dos cenários. Há paisagens da ilha em abandono da dita Madeira nova, tiveste isso em consideração?
FF: Sim a história partiu desses locais, eram esses que queria filmar e mostrar essa ideia de ruínas e depois começámos a criar as cenas em torno dos cenários.

Qual foi a tua maior dificuldade neste projecto? O maior obstáculo?
FF: A maior dificuldade foi técnica, era não ter bons equipamentos, não termos capacidade de pagar profissionais especializados que tenham alguma disponibilidade, estávamos sempre a trabalhar na folga de alguém, sempre meia hora para fazer uma cena, filmar com apenas uma pessoa e fingir que a outra personagem esta além. A dificuldade foi sempre essa, o tempo.

Dos personagens que criaste para esta curta-metragem qual foi a tua preferida?
FF: Não sei, porque no fundo todos eles não estão  a fazer de si próprios. Gosto muito do Nuno, porque é exactamente aquela figura que esta sempre no ar, o Maggiori que diz mal de tudo e nunca faz nada, Marta que é uma bilhardeira, parece uma cabeleira às vezes e tem uma opinião de cinco em segundos. Gosto deles todos porque são os meus amigos que estão ali.

É também uma crítica à sociedade madeirense?
FF: Sim, completamente. É uma sociedade que não é responsável pelo que faz e o responsável é sempre outro, ou alguma externa, não me admira de chegar ao ponto de alguém estar a pintar cadáveres e ter de ir embora, porque já é seis da tarde, como se fosse trabalhar num banco.

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