É um espaço cheio de cor, tradição e inovação em azulejaria portuguesa. Fica no coração do centro histórico do Porto e oferece ainda uma vasta gama de artesanato regional que contam a história de um povo, através dos mais diversos materiais, como nos conta o seu fundador.
A ideia de abrir um espaço para mostrar artesanato português, em particular os azulejos, aconteceu de que forma?
Francisco Ribeiro: Gosto pessoal. Também faço. Eu tenho lojas de artesanato há mais de vinte anos. Foi acontecendo. Vou sempre as feiras, as novidades estão lá. São pessoas que ainda não estão inseridas no negócio e é a primeira oportunidade que tem para mostrar os seus trabalhos é nesses locais, as Câmaras é que pagam os stands. Mas, os artesãos também já vêm ter comigo.
Quais são as zonas do país onde ainda podemos encontrar estes artesãos?
FR: É mais no Norte e no Alentejo. É sempre nas zonas mais pobres. Quanto mais carenciado for o local, mais aparecem. É como no resto do mundo, não é? Se for a Inglaterra não há artesãos, há artistas. Se for a África são todos artesãos. Aqui é igual. O nível de vida é baixo e ganham pouco. A maior parte dos artesãos são reformados, são os melhores, ou então tem uma outra profissão e o artesanato é uma espécie de passatempo.
Quem é o tipo de pessoas que gostam de artesanato?
FR: São os turistas.
Existe um público específico que compre mais do que os outros?
FR: Depende das épocas. É conforme, existam alturas em que há mais espanhóis, ou russos.
Os portugueses compram artesanato? O azulejo em particular?
FR: Pouco. Faço mais restauro para a área de restauração, quando faltam cinco ou seis azulejos numa parede contactam-me. Há poucas pessoas interessadas, embora agora haja havendo mais. Eu sou colecionador de azulejos, há vinte anos, antigamente ia tudo para o lixo. Os primeiros que arranjei recolhi de uma obra de construção, pedi aos trabalhadores para ficar com alguns, iam para o lixo, eram azulejos do século XVII, XVIII.
Nuno Cordeiro aborda o design de mobiliário através de um olhar demorado pelo que o envolve. Um trabalho inspirado nas paisagens portuguesas, rurais e urbanas, que se traduz em peças únicas de elevada qualidade.
Qual é a visão que tens para o teu mobiliário?
Nuno Cordeiro: O meu trabalho está inspirado nas paisagens portuguesas. Os socalcos do alto Minho, no casario do Porto e na paisagem digital de um mapa de ondulação. Estas mesas foram literalmente copiadas a partir das formas dos campos do concelho de Megalhaço. O meu avô era marceneiro e tinha uma oficina e produzia mobiliário e o que restou foram esses desperdícios de madeira que foi usando. Cada uma tinha um formato espessura diferente. Então lembrei-me de associar essas duas vertentes com a geografia de Melgaço, todos os campos nesta zona também tem formas e alturas diferentes para suportar o declive.
As peças então são todas diferentes?
NC: Exactamente. São peças únicas e originais. Conforme o tamanho da peça maior que disponho, vou anexando as restantes para criar uma mesa.
Qual é o tipo de materiais que usas?
NC: Uso madeiras exóticas do Brasil e África. O mogno, o pau-rosa e faia. Há peças em que utilizei aglomerado, papel autocolante e vinil.
João Pedro Pupo é o jovem talento responsável pelo conceito JPPupo design. Um projecto que tem como objectivo promover o trabalho que desenvolve ao nível da ilustração e da pintura digital, que é uma das metas que pretende atingir num futuro muito próximo.
Fala-me um pouco do teu projecto. Qual é a visão de jppupo designs?
João Pedro Pupo: É uma forma de expressão. É para mostrar os meus trabalhos em todas as redes sociais. É para isso que serve e para estabelecer vínculos e poder usufruir dessa forma de comunicação que me permite potenciar contactos profissionais. Pretendo criar uma página pessoal com os meus trabalhos, que seja um reflexo de mim próprio. Ainda não tenho um portfólio consistente para colocar lá, quero criar algo mais complexo
Como defines as tuas ilustrações?
JPP: O meu tipo de design assenta muito na fase de construção de personalidades artísticas. Ainda não sei ao certo o que quero fazer da vida e daquilo que eu gosto. Sei que gostaria de fazer, mas não sei o que me vai permitido concretizar. De modo que tento expandir o mais que posso essas áreas de design e para poder obter um emprego. Daquilo que gosto mais é de um design que esteja ligado à ilustração, embora seja mais abstracta. Numa tarde estava a ver um filme que é o “trol hunter” e não sei porque fiquei inspirado e fiz um desenho. Gosto mais do lado psicadélico da ilustração. Isso tem muito a ver com as minhas influências da música.
Quem são as tuas referências em termos de design?
JPP: Comecei a interessar-me pela ilustração, se bem que não cheguei mesmo a essa área de pintura digital com o objectivo de desenvolver conceitos de filmes e jogos. Tem um homem de Singapura, Feng Zhu, que trabalha nessa área e as suas ilustrações são incríveis, tem um estúdio de design. Ele já trabalhou para filmes como o “transformers”. Uma pessoa ao ver os seus trabalhos fica logo inspirada. o Alex Grey, é outra fonte de inspiração bastante importante para mim. Não na parte digital, mas pelos seus trabalhos na área do psicadelismo.
Como decorre o teu processo criativo?
JPP: Começo tanto ao nível de sketches manuais ou digitais por coisa nenhuma. Pego na folha e faço traços, depois vejo o que se começa a formar. Às vezes tenho uma ideia inicial em mente, mas nem sempre o resultado final é o mesmo. Nunca sei o que vou fazer. Começo sempre pelo esboço e depois vejo para onde vai, isto se for para mim. Para outras pessoas já tenho a ideia do que vou fazer. Como o cartaz para o “flora mac2012”, que é algo que gosto muito de desenvolver. Foi projectado em fotoshop e depois coloquei uma teia de texturas.
É uma jovem artista que procura o confronto pela forma como interpreta o mundo nas suas obras. A sua arte possui uma dinâmica dualista que inspira horror e ao mesmo tempo inspira uma grande beleza estilística. Gera repulsa, mas atraí o observador para uma narrativa surrealista, plena de carácter.
Como defines o teu universo artístico?
Ana Gomes: É baseado naquilo que vejo e interpreto. No que esta à minha volta. Não penso demasiado em conceitos, ou em teorias. Eu gosto de perceber o que esta em meu redor, o que me pode trazer e o que me parece que deve ser. Se vejo uma pessoa, por exemplo, com ar mais fora do vulgar, com uma expressão ou postura diferente, tudo isso me transmite emoções e uma imagem que depois tento passar para os meus trabalhos. Gosto de criar uma narrativa em volta das personagens, com a cor, com a composição. Às vezes são literais, outras não. Deixo ao observador.
Muitas das tuas personagens tem características retiradas de insectos. Lembram esses pequenos animais, mas ampliados.
AG: Sim, adoro insectos. São as criaturas mais alienígenas que temos no nosso planeta. Ao vê-los a olho nu não conseguimos perceber como eles são. Realmente, nessas fotografias de que falas, há milhares de coisas, olhos, pelo, carapaças e articulações diferentes.
Tu fazes uma pesquisa detalhada então?
AG; Sim, estou constantemente a pesquisar animais estranhos, insectos que são descobertos recentemente. Sobretudo, uso essas imagens para tirar ideias. São baseadas no mundo real.
Verifico que ilustras muitas capas para álbuns de bandas. Como é que surgem estes convites?
AG: Quando principiei a trabalhar com bandas, nomeadamente os Karnak Seti, tudo começou porque eu conhecia alguns membros e eles gostavam das minhas ilustrações, por isso, comecei a desenvolver um trabalho em conjunto. Eles deram-me muita liberdade criativa, porque gostavam muito do meu imaginário e do meu traço. A partir daí comecei a fazer ilustrações para eles. Depois foi uma sequência. Outras bandas viram esses trabalhos, os meus portfolios online e entravam em contacto comigo.
Qual é o feedback que obténs do público em geral quando vem as tuas ilustrações tão inusitadas?
AG: O comentário que ouço com frequência é: esta mulher é tão feia, mas é bonito. As pessoas gostam do trabalho em si, mas tem medo das criaturas que represento e do próprio ambiente mais tenebroso. Gostam muito dos desenhos e dizem que estão bonitos, muito bem-feitos e executados, mas tem medo.
É isso que procuras? Essa reacção?
AG: Sim. Sempre tive uma paixão pelo belo horrendo, que é uma beleza quase marginalizada, que não é bonita para todos e eu gosto de delimitar o meu público que aprecia os meus trabalhos a esse ponto, que eles vejam nessas criaturas quão bonitas elas são, independentemente do aspecto físico. Daí eu dar uma expressão mais humana para a mais aberrante das criaturas. Hoje em dia, a sociedade vive muito do estereótipo da magreza. Com a chegada do verão, as pessoas ficam passadas do juízo, porque querem emagrecer e perder peso para parecerem bonitas para as outras. Realmente, como vivemos numa sociedade assim, eu tento educar o olhar dos outros para mostrar que nem tudo o que é bonito para todos, é belo para mim, que aprendam a olhar para outro tipo de beleza. Não ir tanto atrás do rebanho. Olhar à nossa volta e não ver só o que os outros vêm. Mas, também aceitar que o que vemos também é bonito.
De nacionalidade portuguesa, embora não o pareça, quer na linguagem, quer no nome, Hernando Urrutia tem tido um percurso artístico que está ligado ao principio das origens comunicativas do ser humano, aos símbolos. Um retrocesso as origens que renova constantemente na sua obra conceptual e que emerge como um novo conceito visual que depende da interpretação de cada um de nós.
Como se faz o artista?
Hernando Urrutia: Vem de uma procura intelectual. Eu era um professor universitário e foi convidado por uns antropólogos, sociólogos e geólogos para fazer investigação de campo na Amazónia. Queriam alguém com conhecimentos de desenho, queriam um artista para desenhar os objectos e elementos que faziam parte dessa pesquisa. Fui e fiquei apaixonado por essa investigação, por esse mundo diferente, longe do nosso conceito ocidental, que me fez reflexionar sobre os signos, de como se faziam os pictogramas, como ecoavam essas vozes e porque escreviam aquilo tudo.
A exposição retro é um retrocesso aos 26 anos de carreira? Porque quisestes fazer essa reflexão agora e como tudo começou?
HU: Sim, é um retrocesso de vinte e seis anos. Isto já vinha dos 20 anos de carreira, estive a preparar uma exposição na fortaleza de São Tiago, um projecto que não pode seguir em frente por falta de verbas. Só que entretanto, no aniversário dos vinte e cinco anos houve a possibilidade de fazer um catálogo de grande formato com uma editora do continente, mas devido as restrições inerentes à actual situação do país decidi fazer um trabalho mais modesto e simples, mas sem deixar passar a oportunidade. Por vezes, deixámos de fazer certas coisas e não o devemos fazer. Digamos que era uma divida que tinha com a galeria da mouraria, porque desde que cheguei, passados dois meses, já estava a expor graças ao Ricardo. Depois estive doente e tive muitos problemas e isto fez com tudo se atrasasse. Agora que estou melhor, decidi faze-lo, de forma modesta. Esta exposição tem um duplo sentido, é um retrocesso pela carreira e pela linguagem dos nossos antepassados. Os símbolos eram importantes, estavam nos paus, nas paredes, depois foram-se convertendo numa linguagem. Os signos surgem das vivências e dos estudos que fiz com etnias da América do Sul e também de origem africana. Tenho duas vertentes diferentes da percepção da linguagem do símbolo. Apesar de termos duas culturas no mesmo continente, as duas reportam diferentes aproximações dentro da temática do signo. Há diferentes épocas da humanidade e diferentes culturas que sempre tiveram presente o símbolo que representam sempre o mesmo, mesmo nas estruturas nórdicas, da América do sul e de África, o que acontece? O homem tem sempre as mesmas preocupações da vida, do comum, do que é natural e do céu. Todos são iguais em todas as partes, diferem é nos momentos, nos séculos. Esses signos são estudados porquê? O homem é o mesmo. O que me faz reflectir é como um homem de uma cultura específica seguem a mesma temática.
Também falas do indivisível. Esta abordagem vai ao encontro da tua arte conceptualista?
HU: Sim. Os símbolos dizem certas coisas e a única forma de representa-los é dessa forma. Não existe outro meio, o indivisível é o que não se pode traduzir em palavras, mas num signo que fala de muitas coisas ao mesmo tempo, que identifica simbologias e significâncias. O indivisível é praticamente a forma que um crítico muito importante encontrou de definir a minha obra. Representa aquilo de que não se pode falar, não se pode dizer. Esse é uma faceta do ser humano, uma emergência, o desejo de dizer o que não pode traduzir por palavras.
Estas obras representam um retrocesso, mas ao mesmo tempo simbolizam um avanço numa direcção.
HU: Sim, que é uma obra do presente, olhando para o passado e para o futuro. A obra é atemporal. Actualmente pode ser contemporânea, mas depende do contexto. Se vês esta obra numa caverna dizes que é antiquíssimo. Mas, se a olhas num outro posicionamento, dizes que é diferente e se encaras a obra no futuro afirmas que é muito contemporânea. A situação depende da temporalidade.
Cristina Perneta é uma artista plástica sensível, atenta as pequenas coisas que nos rodeiam, transforma essas essências de alma em obras de arte que timidamente sugerem mundos alternativos, outras vivências.
Tens três componentes que se repetem no teu trabalho, a luz, a terra e a água. Porquê são tão importantes estes elementos na tua obra?
Cristina Perneta: Sim é verdade, é uma forma de encontrar essa paz. Identifico-me com esse tipo de energia, essa empatia.
De uma forma geral acabas por abordar a natureza e com diversos suportes artísticos.
CP: Tem a ver com a minha forma de ser. O que procuro? É aquilo que faço no meu dia-a-dia, seja na pintura, no desenho, naquilo que gosto de criar.
Uma das tuas exposições aborda a laurissilva, porque escolhestes esse tema?
CP: É algo que me fascina por aquilo que esta detrás do tema em si. Pela natureza. Sentir essa parte como um todo. No fundo somos todos um. Essa ligação acaba por criar esta rede com as pessoas. A natureza transfere essa harmonia, essa paz.
A mostra terra, ar e fogo é outra abordagem a mesma temática. Nesta existe uma forte componente multimédia aliada as restantes vertentes artísticas.
CP: Essa foi uma experiência entre aquilo que faço e os elementos que a natureza criou, tendo em conta a nossa direcção. Deixar fazer esse fazer pela natureza, como por exemplo, o sol é um destruidor, mas ao mesmo tempo é um criador. A própria água também se insere nessa dinâmica. Depois ensaiei os vários sentidos, o tacto, o cheiro, etc. Usei os elementos básicos, como a luz, para criar uma textura e a alteração de cor no próprio objecto.
A obra artística de Paulo Sérgio Beju implica uma envolvência do espectador, do seu toque, do seu pensamento e do seu sentir. É uma reflexão do não óbvio. A aparência que se transfigura, transmuta no próprio objecto de arte. É uma reflexão sobre a vida e o mundo que nos rodeia.
A tua obra explana diversas componentes artísticas, desde a palavra, as colagens, a esferográfica e as instalações. De que ponto partes?
Paulo Sérgio Beju: Parto de um ponto muito simples que é a vida. Ela tem uma grande componente que é a poesia e por isso alarga-se a todos os meios de expressão desde a pintura, a escultura, a escrita e se calhar isto tem muito a ver com a minha experiência, já fiz teatro durante dez anos. O teatro implica um espaço, um corpo e as suas sensações. Isso faz com que tenha esta multiplicação na forma de expressar. Há sempre trabalhos que surgem da pintura, do desenho e da escrita. Não há uma área específica.
Tu misturas de tudo um pouco. Utilizas várias técnicas nos teus trabalhos.
PSB: Sim, porque não há áreas estanques. Nós misturámos tudo. Não existe escultura pela escultura, pintura pela pintura. Temos é que dar o nosso cunho pessoal.
Desde sempre foi assim?
PSB: Não. Há uma evolução no trabalho que se vai desenvolvendo e cada vez mais.
Então, quando é que surgiu este novo método de trabalho?
PSB: Creio que começou em 2002 com a minha primeira exposição. Havia muitos conceitos misturados ao mesmo tempo, mostrava fotografia, instalação e desenho. Fiz uma ligação ao espaço envolvente para quem aprecia-se se sentisse envolvido. Quando se cria uma peça, o espectador faz quase um processo como o artista, ele cria uma relação com a obra. Quando fiz a minha primeira exposição quis ultrapassar essa ideia do quadro na parede, tinha que ser mais, tinha que ser envolvente.
Lucilina Freitas divide-se entre o ensino e a criação de universos tridimensionais que confundem o observador levando-o a questionar-se perante o objecto de arte. A sua intenção é argumentar e ir para além de visível sem nunca deturpar a essência da sua criação.
O que decidiste criar para esta exposição?
Lucilina Freitas: Decidi criar estes copos de licor, era uma peça que já utilizei diversas vezes, tem a ver com a minha formação de design. Não sou capaz de pegar numa garrafa e colocar elementos figurativos. Sempre gostei de peças mais limpas, mais clean.
Refletem a ilha de alguma forma?
LF: Não, é um conjunto de coisas que tenho cá dentro, que não sei onde vou buscar.
Mas, escolhestes um conjunto de copos que nos remetem para os regionalismos?
LF: Não pretendia seguir os regionalismos. Aproveitei os copos de licor e ofereço na embalagem uma receita de licor tin-tan-tun e de tangerina. É algo que aprecio muito, o toque do vidro, não pretendia pintar em cerâmica, pelo menos por enquanto ainda não. Pertence se calhar a um conjunto de memórias que temos dentro de nós e que deitámos cá para fora sem dar-nos de conta, contudo a intenção não era abordar a ilha e os seus costumes.
Qual é o teu material de eleição?
LF: O meu trabalho tem sempre um pouco das três componentes, pintura, escultura e a instalação. Fiz uma mesa que embora não o pareça é um exercício de pintura. É uma reflexão, é design ou é uma imagem pintada? Nos primeiros trabalhos que idealizei introduzi figuras para um conjunto de móveis. O que fiz? Tirei-os da tela e passei-os para as três dimensões.
O que escolhes primeiro o conceito ou passas de imediato para a instalação?
LF: O conceito. Se me derem um tema, eu desenvolvo a partir daí. Arranjo um fio condutor, um mote, o que se nota se calhar é que as peças acabam por estar relacionadas umas com as outras. Entretanto, não tenho trabalhado muito, tenho duas experiências de exposições individuais. Faço peças de arte isoladas, na maior parte dos casos. Mas, sempre que há uma proposta, eu desenvolvo dentro da minha linguagem, do meu mundo, daquilo que gosto.
A obra de José Pinho reflecte uma conceptualização de dois binómios, o homem e o meio onde se insere. A humanidade e o planeta. Uma linguagem criativa que alia o conceito aos vários níveis da percepção, as suas várias dimensões e formatos.
Vives nesta ilha há já algum tempo. Esse aspecto tem influência na tua obra?
José Pinho: Não necessariamente. O meu processo conceptual não está ligado muito à ilha. Esta associado à urbanidade em geral, do que propriamente um espaço especifico.
Tens preferência pela cerâmica, o “antípodas” é disso um exemplo.
JP: Quando penso no mundo, tento fazer isso em termos gerais. Esse trabalho tinha um certo sentido etéreo. O facto de as caras parecerem espessas e aparentemente estarem a flutuar tinha a ver com o conceito de um totem dos índios que tinha sido desmembrado. Foi esse o ponto de partida, depois o ponto de chegada é a peça em si. Nunca me prendo a um objecto.
Então partes do conceito e depois é que crias é isso?
JP: Exactamente. O processo de criação e de produção tem uma palavra a dizer no desenvolvimento do conceito. Eu defino à partida, mas não tenho o final completamente definido. Há coisas conforme vais fazendo, sugerem outras e soluções que vão aparecendo melhores daquelas que ao princípio surgem na tua cabeça.
O que te inspira quando abordas um conceito?
JP: Um dos conceitos que mais me inspira permanentemente é a relação do homem com o seu meio. A sua ligação com o espaço e a distância que o homem actual tem em relação ao planeta. Quando tema é o urbano, remeto sempre a uma certa impessoalidade, ao facto de nos isolarmos na teia da cidade, no fundo de vivermos todos juntos e todos muito sozinhos. É sempre esta relação que influência meu ponto de partida. É um pensamento para seja o que for. Nunca estou preso totalmente a um tempo.
Dizem que à arte nada mais é do que traços e sombras que fazem sobressair o volume. Esta é uma definição perfeita para os trabalhos da artista plástica Guareta Coromoto que desafiam o nosso olhar com o seu constante movimento perpetuado pelas cores e pelas personagens que povoam as suas telas.
Noto que no seu trabalho existe o desenvolvimento constante da figura, quer humana, ou de animais. Porquê sente essa necessidade?
Guareta Coromoto: Eu penso que há coisas que vivem connosco. Muitas vezes num trabalho, mesmo que comece só com as cores, nós artistas temos muitas formas de começar, temos que ter um tema e de início seguimos sempre essa linha, mas quando dá-mos conta muitas vezes adoptámos outro caminho. O que acontece? Eu posso encetar pela cor, mas a partir daí eu começo a imaginar uma história e há sempre a figura humana, ou de animais. Crio uma história em torno daquele trabalho. Penso que isso acaba por existir em nós, em vir ter connosco. Esses personagens estão cá dentro.
São personagens do seu quotidiano, ou do seu imaginário?
GC: Do quotidiano e do imaginário. Muitas vezes vou buscar histórias que ouvia em miúda, outras que a minha mãe vai contando, algumas ancestrais. Insiro lendas, narrativas e contos, coisas que fazem parte do imaginário e outras que recrio.
Na sua pintura há um traço com cores muito fortes, essa componente é resultado das suas origens sul americanas ou da ilha?
GC: Quando comecei a trabalhar nas belas-artes a minha palete era mais neutra, já havia a figura humana, mas usava os verdes, os azuis, os ocres e as cinzas. Ao longo do tempo houve cores que começaram a sobressair e vir cá para fora. Comecei a usar o amarelo e começou a sobressair, depois o vermelho, o rosa e houve um dia em que decidi experimentar determinadas tonalidades que enchem a nossa alma. Agora não sei se é porque elas existem cá dentro, ou por ter nascido num país sul-americano, por muito que não vivamos lá muito tempo dizem que fica connosco. O facto é que eu gosto da música, dos ritmos.
As cores sublinham as histórias que conta na tela, em que medida?
GC: Ajudam, conferem-lhe mais magia, mais contraste. Eu até uso poucas, as mais obscuras tem mais luz, acabam por fazer sobressair mais as formas. Posso utilizar o preto como contraste para sublinhar mais a forma e uso a cor para fazer sobressair a luz e determinados volumes.
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