A galeria da Mouraria passa a contar com uma pequena mostra de objectos de design criados por vários artistas madeirenses. Um conceito que visa incentivar a aquisição de utilitários com um toque artístico para embelezar o seu quotidiano.
O tema desta exposição é utilitário, qual é o porquê por detrás desta escolha?
Trindade Vieira: No fundo é uma ideia que já tinha há mais um ano. Eu não tenho espírito comercial e iam passando os meses e pensei que poderia haver uma solução para isto. A galeria Mouraria seria ideal, como é um espaço grande e com uma outra sala mais pequena, o galerista poderia achar interessante essa ideia e assim foi. Abordei-o o ano passado em Dezembro, ele pensou e em Janeiro disse-me que tinha gostado e arrancámos este ano com o conceito.
Qual é então a ideia que pretendes desenvolver através deste evento?
TV: No fundo é criar um espaço que podemos chamar de loja de design, um pouco do estilo do que se vê nas grandes galerias, ou museus em que há uma loja de merchandising em que após uma visita as pessoas entram e compram um poster, um chaveiro, seja lá o que for.
Eu reparei que fizestes uns sacos com as impressões das bananeiras?
TV: Sim, mas isso já tem dois a três anos. Há peças que venho criando a uns cinco anos.
A porta 33 desenvolveu um trabalho notável, ao longo dos seus 23 anos de existência, com o objectivo de dar a conhecer os artistas plásticos madeirenses ao mundo e promovendo o intercâmbio dos movimentos culturais de fora para dentro da ilha. Um labor dantesco que culminou com a sua presença na ARCO de Madrid e que apesar de todas vicissitudes ira continuar a fomentar as suas acções culturais na Madeira.
Qual era a realidade artística da ilha quando surgiu a porta 33 e em que circunstâncias aparecem?
Maurício Pestana Reis: Acho que era muito mais descondicional. Ou seja, ainda não tinha entrado esta prática que não é comum de uma escola de artes a formar pessoas em diversos graus. Isto no campo artístico.
Cecília Vieira de Freitas: Já nos anos 50 havia uma escola, o que não havia eram espaços positivos nesse sentido.
MPR: Não havia era tantos alunos como há hoje e tantos graus académicos como actualmente existem na Madeira. As pessoas colocavam-se à margem de uma aprendizagem oficial, universitária. Havia um lado experimental e de conhecimento intrínseco que levava as pessoas a tentarem alargar os seus horizontes por si próprios. Isto era a realidade do grupo da porta 33. Há 23 anos essa preocupação não era pura e simplesmente académica e de formação, era uma necessidade que as pessoas sentiam de experimentar, ver e conhecer um aspecto da realidade que é a cultura, neste caso, as artes plásticas. Por outro lado, não havia galerias comerciais, como surgiram na década seguinte e que até agora se mantém com algumas interrupções, mas já há um hábito do que é uma instituição desse género e do que representa. Não exista o museu de arte contemporânea do Funchal. As posições tomadas com algum mérito eram casuisticamente por uma ou outra pessoa e em espaços díspares. Entre eles, o Teatro Municipal do Funchal que teve alguma importância, o Museu de Arte Sacra até alguns átrios de hotéis madeirenses. Digamos que não havia um fio condutor que pudesse mostrar ao público e debater de matéria assídua o que é essa parte da cultura contemporânea que é dada a ver através de obras plásticas de grandes artistas. Foi essa necessidade de abrir os horizontes, que levou seis pessoas a iniciarem a porta 33. Esses foram os motivos que nos levaram a criar este projecto tendo uma raiz sistemática, de trabalhar próximo aos artistas. Desde que abrimos proporcionámos visitas à Madeira, não só para ajudarem a montar exposições, como também para debaterem e opinarem sobre o seu próprio trabalho. Este convite não foi só extensível aos artistas, como aos teóricos que pensam sobre a obra dos artistas com quem trabalhámos. Pensámos que era uma forma de realmente de tornar mais acessível a um público, que afastado dos grandes centros, devido a nossa condição periférica, as práticas artísticas que não são muitos acessíveis. Nós trazemos essas centralidades a Região Autónoma da Madeira. Esse trabalho foi conseguido, porque trouxe as pessoas até cá, jornalistas da comunicação social nacional e internacional, que retrataram e deram o devido destaque ao trabalho desenvolvido pela porta 33.
Outra faceta do vosso projeto foi levar os artistas madeirenses até a ARCO em Madrid, qual foi a importância deste evento para a porta 33?
MPR: Vamos para o ARCO nove anos depois de ter aberto a porta 33.
Mas, porque 9 anos depois? Porque tinham uma certa maturidade?
MPR: Não, a ARCO é uma feira internacional de arte muito profissional e muito exigente em termos financeiros. É muito cara e muito competitiva. No primeiro ano em que participámos foi o primeiro ano dedicado à Portugal. Todas as edições dedicam um grande espaço, um foco central, a um país.
CVF: Sendo que nesse ano a feira convida as galerias do respectivo país. O comissário selecciona essas instituições e por isso não pagam o stand. Tem algumas despesas, mas o país é convidado pela feira. Aí tivemos possibilidade de estar presentes, porque em anos anteriores, nem nos ocorria porque economicamente era impensável.
MPR: Esse ano foi muito importante. Integrados na delegação portuguesa e posteriormente confirmado pela direção da feira para nos deslocarmos até Madrid. E a partir daí sentimos a necessidade de fazer-nos representar na ARCO. Estivemos em cinco edições entre 1998 até 2005. O nosso stand destacou-se na altura, porque nós pedíamos a um artista para elaborar a concepção desse espaço de raiz e nessas edições em que participámos quatro artistas eram madeirenses. O Rigo, o António Dantas, a Lurdes Castro e o Rui Carvalho. Sendo os não madeirenses, o Pedro Cabrita Reis que é um nome incontornável na arte portuguesa e no cenário internacional. É um artista com um percurso e uma idade que não levanta dúvidas quanto à qualidade do seu trabalho.
CVF: No caso do João Penalva foi um projecto que nasceu aqui. Era um vídeo com uma longa duração. Todo ele foi filmado e pensado cá. Isto em 2001. Depois por motivos de ordem económica deixámos de ir.
Mas, qual é o feedback de um ARCO para a porta 33?Para além do facto de ser uma feira internacional e dar à vossa galeria uma grande visibilidade internacional?
MPR: Nós sentimos que as relações na Madeira mudaram. O nosso trabalho começou a passar melhor. A porta 33 tornou-se uma referência no ARCO. Os jornais da altura dedicavam muito espaço à cultura. Hoje em dia é muito pouco, é residual. Não só nas artes plásticas, como na música e o cinema. A sétima arte ainda é alvo de alguma cobertura mediática, mas não é o cinema propriamente dito, mas sim a indústria dos Óscares, de Hollywood que gera muito dinheiro. O cinema mais artístico e de autor vai aparecendo, mas muito pouco. A cultura é muito maltratada. Sabemos disso e não é novidade. Por outro lado, a experiência em Madrid foi importante por nós ter dado a conhecer a um meio que é mundial. No caso do vídeo do João Penalva, naqueles 3 dias que dura a feira, tivemos os principais directores dos museus de todo o mundo presentes no nosso stand. O vídeo foi praticamente todo vendido aí, para o museu de Luxemburgo, para a Fundação de Serralves e foi ainda, posto a circular nas principais instituições europeias. Foi mostrado inclusive no Japão e em Nova Iorque numa grande galeria. Nessa altura, também havia uma confiança no país e nas instituições. Hoje em dia, a energia é outra, as pessoas na Europa estão a passar por grandes dificuldades.
João Onofre é um dos expoentes máximos da arte conceptual no nosso país. Um trabalho que desenvolve há 14 anos e que tem merecido destaque no mundo da arte contemporânea internacional. Presente em vários museus e colecções pelo mundo fora, este artista continua a desenvolver o que apelida de documentários expandidos que apresentou recentemente num workshop da galeria porta 33.
Quando aborda o seu trabalho fala de documentários expandidos, porque utiliza essa terminologia?
João Onofre: Porque o meu trabalho, os meus vídeos não são documentários no sentido mais tradicional. São expandidos porque não são narrativos diria que tem mais a ver a arte conceptual do que o documentarismo tal como os conhecemos no cinema.
Não nota uma certa desconfiança no meio artístico perante o trabalho que desenvolve?
JO: Não creio, os trabalhos em filme e em vídeo estão presentes em colecções de museus e centros culturais privadas, eu presumo que já existem na arte desde o século XX e XXI e estão perfeitamente enraizados.
O seu trabalho de arte conceptual é associado ao movimento dos anos 60. Revê-se nesse tipo de comentários? Os artistas dessa época influenciam-no em que medida?
JO: Nos finais dos anos 60 início dos anos 70 surgem os movimentos de vanguarda nos EUA e creio que isso é uma linhagem que não posso esconder e da qual me orgulho em ser colocado como descendente desse grupo e revejo-me neste tipo de comentário.
Como é que vê o mundo da arte em Portugal, houve uma evolução?
JO: O mundo da arte contemporânea em Portugal, sim de certa forma evoluiu. Mais artistas surgiram nos pós-25 de Abril, nos últimos 10 anos emergiram novas caras no panorama artístico nacional. O nosso país é pequeno e o meio da arte contemporânea reflecte isso.
Nove mulheres. Nove artistas. Nove madeirenses juntas numa exposição, no centro cultural Anjos Teixeira, no Funchal, que visa realçar o papel importante que desempenham na evolução das sociedades e como dinamizadoras culturais, com o intuito de assinalar o dia internacional da mulher.
O que procurou abordar nestes dois trabalhos para esta exposição?
Alice Sousa: Com o título “em frente” sugere os nossos passos na vida. Tem várias explorações de materiais, mas a principal ideia é de que nos nossos reveses temos de estimular-nos. O outro trabalho reflecte uma natureza interiorizada, embora use elementos concretos. É uma das viagens culturais que fiz ao longo da vida, visitei o atelier do Cézanne onde estava um gato tigrado ao sabor das caricias das pessoas que passavam e lembrei-me que a minha avó, também tinha uma gata que fazia às vezes de cão. Esperava-nos no princípio da estrada, porque sabia que vínhamos à caminho de casa. Uma amiga minha, a Flor Campino que foi minha colega na escola e vive no Porto escreveu um poema que me era dirigido e ao meu irmão e que inseri nesta pintura. Sou feita de recordações e isso reflecte-se na minha obra.
Acha que é importante realizar este tipo de iniciativas, ainda faz sentido?
Irene Lucília: Acho que sim. É um pretexto para mostrar a arte que se faz na Madeira. Portanto, independentemente de ser a semana da mulher, este tipo de eventos sempre tem o seu lugar. Por um lado, os artistas manifestam-se e levam essa partilha até as pessoas. Por outro lado, estando a mulher subjacente a esta ideia, eu penso que alguns destes trabalhos têm essa relação direta com a temática. É uma preocupação de todas as artistas terem escolhido trabalhos que fossem mais próximos com esta efeméride.
Graça Berimbau: Escolhi estes dois quadros no sentido de comemorar o dia internacional da mulher. Eu já os tinha feito anteriormente, são retratos de mulheres artistas, que vivem e trabalham na ilha. É um projecto de pintura que tenho vindo a desenvolver há dois anos. Estes quadros já integraram uma exposição recentemente intitulado linha de partida. Achei que fazia sentido mostra-los, até porque são os retratos de duas artistas que também integram esta mostra, nomeadamente a Alice Sousa e a Teresa Jardim.
De seu nome Edna, ela prefere ser Maria Imaginário porque a designação remete-nos para um mundo infantil recheado de figuras coloridas que definem o seu universo artístico. Um mundo inventado por esta jovem ilustradora portuguesa, com apenas 26 anos, que vai para além das fronteiras do nosso país, e cuja precoce carreira se prevê que seja longa e recheada de enorme sucesso.
Porquê criastes este pseudónimo?
Maria Imaginário: Achei que era um nome adequado para aquilo que fazia.
As tuas ilustrações, tem como base os contos infantis da tua infância?
MI: Não, acho. Simplesmente é um tipo de ilustração ligado à infância, mas que não remete de nenhuma forma a contos, ou histórias.
Como é que decorre o teu processo criativo?
MI: Tenho ideias e depende se tenho um trabalho comissionado ou não. Tento sempre trabalhá-las de melhor forma para conseguir um bom conceito de forma à que as pessoas percebam a mensagem e adequar isso ao meu estilo.
Quando começou essa paixão pelo desenho?
MI: Desde que foi para escola penso eu. Tirei um curso de ilustração e banda desenhada na AR.Co. Mas, de uma forma mais profissional desde 2009.
Não é uma mera exposição fotográfica, é uma experiência sensorial, em duas dimensões com imagens e sons. Uma concepção que teve como tema transversal, a guerra fria, por isso, deixe-se influenciar pelas novas tecnologias e visite esta mostra na Casa das Mudas, na Calheta.
O tema paperclip como se extende para a restante mostra fotográfica? Há fotos da natureza e do meio urbano.
Nuno Serrão: Para mim enquadram-se todas no tema, é uma questão de interpretação e, essa deixo para os visitantes da exposição. Há muitas formas de interpretar a influência do período da guerra fria nesta exposição, desde um conteúdo simbólico onde a imaginação sem limites e uma intensa cultura da curiosidade eram as principais linhas guias. Dos cenários pós-apocalípticos, a uma forte influência da corrida espacial, a toda uma cultura urbana que surgiu nessa altura, há muito por onde divagar.
Em que medida os sons que criastes para cada imagem eram essenciais nesta exposição?
NS: As ambiências sonoras foram dirigidas por mim e criadas na sua maioria pelo Alexnoise, eram essenciais pois faziam parte integrante de um conceito onde a arte não se esgota na fotografia, mas estende-se às música que foram criadas e há própria programação envolvida na criação do software.
Os sons resultam de uma mistura, ou foram captados no exterior e depois editados?
NS:Todos os temas são originais e, cada um dos instrumentos pensado e enquadrado dentro de um cenário que criei para cada uma das fotografias. Não houve captura de sons no local da fotografia. O conceito é usar (entre outras variáveis) sons captados pelo microfone do telefone do visitante, de forma a que façam parte da soundscape da fotografia em questão.
O Walk&Talk é um projecto que recupera edifícios antigos, através de confrontos artísticos que embelezam a cidade Ponta Delgada em São Miguel, nos Açores. Tudo começou quando dois jovens encontraram-se e de um devaneio chegou a mudança das fachadas. Este ano a sua segunda edição promete, mas antes venha conhece-los.
Como é que vocês se juntaram para idealizar este projecto? Já se conheciam anteriormente? Dê onde surgiu a ideia e a vossa parceria?
Jesse James: Apesar de ambos sermos Açorianos, só nos conhecemos na Faculdade, no Continente. E só entramos neste projecto, muito depois de terminar as nossas licenciaturas.
A ideia surgiu de um devaneio. No sentido em queríamos criar um projecto com mensagem, que gerasse confronto suficiente para se afirmar como um momento importante na nossa vida e nas das pessoas que entrariam em contacto com esse “evento”.
Diana Sousa: O facto de termos ido viver para outros espaços ajudou a gerar confrontos com novas ideias e conceitos e, uma das coisas foi a arte urbana e forma como ela intervêm no espaço.
Fomos entrando cada vez mais no universo street art e do conceito de arte pública, desde a expressão ao movimento, a procurar artistas e a avaliar estilos, conteúdos, projectos... acabou por se tornar numa pesquisa constante. Gerou-se um fascínio pela arte publica e especialmente pela forma ocasional e descomplexada com que ela comunica com o deambulante.
Criaram este evento porquê? Acham que pelo facto de residir numa ilha estão isolados em relação aos restantes movimentos artísticos, daí a necessidade do intercâmbio de linguagens estéticas?
JJ: Depois da pesquisa, vem a vontade de partilhar, e daí o conceito/movimento walk&talk. Como açorianos, fez todo o sentido desenvolver o projeto num local que vive sobre a sua insularidade. Queríamos provar que é possível descentralizar a cultura e que este género de acontecimentos adquire outro valor quando desenvolvidos num espaço com carências a esse nível.
O contexto geográfico e o próprio conceito de “açorianidade” de Vitorino Nemésio, reflectem-se na mentalidade e nos padrões culturais extremamente ricos mas, por vezes, pouco receptivos à mudança. E isso fica patente na experiência artísticas que tende a ser bipolar: popular/elitista. Faltava um meio-termo, algo que conseguisse criar curiosidade em vários públicos. E a arte pública tem essa vantagem porque é grátis e acessível a todos: é democrático.
A sensação de pertença também é maior, pelo que a curiosidade e a vontade de interpretação são intensificadas. As pessoas quando não são obrigadas a determinada situação usufruem muito mais dela, daí a insistência em criar um “museu” ao ar livre onde as pessoas são confrontadas com intervenções artísticas de uma forma ocasional.
Ponta Delgada como a maior cidade açoriana, por ter mais massa critica e paredes a necessitar de Intervenções, foi o palco escolhido para acolher o museu ao livre.
DS: Ao convidar os artistas um dos pontos essenciais era a diversidade do line-up, em termos de linguagem gráfica, contextos artísticos, proveniência dos artistas, e a velha dicotomia notoriedade versus novos talentos, (açorianos, nacionais e internacionais, ou mundividência). Tendo em conta esses factores, fomos escolhendo os artistas que mais gostávamos.
A contrapartida era participar no walk&talk com base em contribuição e mobilização, transformando isto em algo de todos. E aos poucos fomos reunindo os 30 artistas. Tendo o line-up definido, distribuímos os diferentes géneros de intervenção por toda a cidade, aos quais o público poderia se relacionar de uma forma muito própria, consoante os seus gostos.
E apesar de algum conservadorismo, foi um desafio vencido ao convencermos entidades e indivíduos a juntarem-se ao “movimento pelo fim das paredes brancas e o povo mudo”.
Uma das premissas do vosso movimento artístico é efectuar intervenções nas paredes de edifícios abandonados. E quando não houver mais espaços exteriores, o que pretendem fazer murais?
JJ: Nada na vida é estanque, e nós somos muito adeptos da mudança. É como diz o sábio Raul Seixas, “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. O mesmo se aplica ao walk&talk como festival de arte publica: tem que mudar e adaptar-se aos paradigmas sociais. Os muros são apenas um dos suportes que se podem usar, e nesse sentido há muitos espaços e meios a utilizar nas próximas edições. E isso acontece já este ano.
Foi difícil obter o apoio do público e das autoridades?
JJ: Não, porque havia o factor curiosidade. Claro que não foi fácil convencer o público e as entidades institucionais em apoiar um projecto que prometia encher a cidade de arte, mas insistimos e fundamentamos muito bem o projecto em termos de missão, objectivos, relevância e sustentabilidade. O apoio da Direcção Regional da Juventude (Governo dos Açores) foi sem dúvida determinante. Foi a primeira entidade estatal a demonstrar interesse pelo walk&talk e pelos objectivos que defendíamos, acabando por nos apoiar a 100%. Isso foi muito importante para ganharmos credibilidade junto de outras instituições como a Câmara Municipal de Ponta Delgada, Direcção Regional do Turismo e várias entidades privadas que também se juntaram ao movimento e tiveram um papel essencial. Sem elas seria impossível levar a cabo o festival, dada toda a logística que envolve o walk&talk.
DS: Há também outras associações que se juntaram à Anda&Fala interpretação cultural, na organização e promoção do festival, género cultura em rede. A Associação Cultural Corredor disponibilizou-nos espaços de trabalho e filmou o documentário do Festival. A Cooperativa Descalças adicionou actividades paralelas ao walk&talk com várias performances artísticas e exposições ao longo das 2 semanas e a Solidariedarte com intervenções sócio-culturais com os artistas do Festival.Contudo, a receptividade da população local foi o mais surpreendente. Antes de começar o walk&talk, apesar dos bons indícios que estávamos a ter e da aparente curiosidade das pessoas e da média, era uma incógnita a reacção da sociedade micaelense à introdução de arte no espaço público. A verdade é que a meio do festival já tínhamos pessoas a oferecerem paredes para os artistas pintarem! Gerou-se uma conversa muito saudável à volta da arte urbana, dos artistas preferidos, das intervenções pela cidade, da exposição colectiva na academia das artes... a população local estava curiosa e acompanhava o trabalho dos artistas. Todos os dias havia novidades, porque ora uma parede ficava concluída, outra estava a começar, e estávamos nós a correr de um lado para o outro.
A designação walk& talk aparece em que contexto?
JJ: O walk&talk expressa uma ideia de acção, mas essencialmente de continuidade e evolução, onde a deslocação física e mental que resulta numa interacção com o espaço, incitando-nos a desenvolver uma atitude e postura pró-activa na sociedade. A designação é exemplificativa dos objectivos e missão do movimento enquanto promotor de cultura no espaço público e defensor de uma estrutura baseada em mobilização social e contribuição individual.
O terceiro aniversário da Galeria dos Prazeres, na Calheta, foi o mote para a criação de um diário gráfico. Uma mostra artística interactiva e que nos transporta pagina, após página a um mundo criativo, colorido e pessoal dos artistas convidados.
Explica como chegastes a ideia de um diário gráfico?
Patrícia Sumares: A ideia surgiu para comemorar o terceiro aniversário da Galeria dos Prazeres, no dia 24 de Outubro de 2011. Nessa data foram distribuídos os cadernos aos artistas. Realizamos de novo um encontro artístico, como ocorreu na inauguração, no primeiro ano de existência do espaço. Fizemos um passeio em que juntámos os artistas daqui na ilha no Rabaçal e organizamos um jantar em que toda a gente trazia algo para esse convívio. No final, distribuímos os diários e cada artista fez a sua própria intervenção artística. O tema inicialmente era a ideia dos Prazeres, como nem todos podiam estar presente nesse fim-de-semana, porque houve artistas que foram convidados e que não residem na Madeira, tive mesmo de enviar o diário por correio, então lembrei-me de alterar o tema para “outros prazeres”. Os artistas podiam desenhar, registar ideias, imagens e resultou nesta exposição.
Como foi feita a selecção dos artistas? Foram escolhidos tendo em conta já terem exposto os seus trabalhos na galeria, ou por serem madeirenses?
PS: Acho que o primeiro critério que uma boa galeria deve ter é escolher os artistas pela qualidade do trabalho. Esse é o primeiro ponto. Depois se tem uma ligação com a galeria, neste caso com a galerista e há artistas que já participam nestas mostras colectivas desde o primeiro momento de existência deste espaço. Dessa forma cria-se uma ligação. Uma galeria tem os artistas que representa. Esse espólio não se cria de um momento para outro. Leva algum tempo para conhecer o trabalho do artista e se é responsável ou não. A maioria deles já participaram na primeira edição e por isso o convite foi direccionado a essas pessoas. Alguns desistiram, outros surgiram, outros ainda mantiveram-se e é isso que se pretende neste espaço cultural. Que se crie um ciclo que não seja vicioso, mas sim dinâmico e intentar sempre mudanças que sejam positivas, é sinal que há vitalidade e é isso que interessa.
Foi por isso que escolhestes os cadernos, porque era fácil de usar?
PS: Os cadernos surgiu de um diálogo com uma colega a Helena Sousa que até participou e foi uma ideia que tivemos a partir do curso superior de artes plásticas da Madeira que ambas frequentámos. Nesse espaço na rua da carreira havia uma pequena sala onde os artistas expunham, os melhores alunos, obviamente e que infelizmente deixou de existir. Em conversa, relembrámos a exposição de um artista plástico que fez vários desenhos em múltiplas agendas e que foram pendurados em fios. A partir dessa ideia, desse diálogo chega esse conceito, então porquê não juntar diversos artistas nos Prazeres, para desenhar, passear, jantar juntos e fazer no final uma exposição? Agora estamos em Fevereiro de 2012 a comemorar este terceiro aniversário. O que não faz mal, o que interessa é o objectivo final e o sonho que se concretizou.
Eu sei que é uma pergunta muito ingrata, mas quais são diários que mais te marcaram.
PS: Há uns que gosto mais pela ideia, pelo conceito. Há outros em que se verifica que foi dedicado tempo, agora é preciso nomes? Acho que não vale a pena. O que existem é trabalhos muito bons e é uma exposição que da forma como está organizada é uma mais-valia. A ideia é ser uma mostra inter-activa. As pessoas podem cheirar, tocar, virar as páginas e esse aspecto torna-a muito dinâmica.
Uma selecção de dez propostas dos artistas que integram o colectivo mad space invaders acorreu ao repto de realizar um obra artística contemporânea, tendo como base o "vinho". A temática explora as suas vinculações conceituais e literárias, a sua involvência, a vida, as circunstâncias intrínsecas, o seu acto e os seus prazeres num espaço simbólico que é do Instituto do vinho, bordado e artesanato na Madeira. Uma mostra que estará patente até o dia 17 de Fevereiro.
Como é que surgiu a parceria entre artistas e o instituto do vinho, bordado e artesanato da madeira (IVBAM)?
Fátima Spínola: Surgiu através de um contacto feito pela Nair Morna ao IVBAM. A ideia é realizar uma exposição relacionada com o vinho e fazer essa ponte num espaço que não é tão convencional em termos de mostras artísticas. Normalmente, ocorrem nestas instalações eventos relacionados com artesanato e musicais. Neste caso concreto, vamos realizar uma exposição de arte contemporânea.
De que género? O que vamos ver?
Hernando M.Urrutia: O vinho é só um apontamento para o trabalho dos artistas. Ou seja, não podemos retratar a temática tal qual, mas sim tendo em conta, o processo da embalagem, a vida, o ambiente que rodeia e o sistema que envolve o vinho. Todos os elementos inerentes à sua história e a forma de produção. São estes os fundamentos que servem para conceptualizar e manusear esta proposta artística.
Quando lançaram o repto aos artistas, eles tiveram que ter em consideração o local? Ou não?
FS: Nós fizemos uma primeira abordagem do local através de fotografia. Enviámos imagens e a planta do espaço a todos os artistas que participaram. Posteriormente, colocámos uma lista nas instalações do IVBAM para que cada um deles pudesse visitar à área designada para a exposição. Era muito importante ver o local em si e fazer um projecto a pensar neste espaço. É um edifício com uma atmosfera muito peculiar. Mesmo o cheiro, alguns orifícios que tem a ver com a produção e os barris que fazem parte da sala podiam ser utilizados. Todos estes aspectos foram referidos e pensados para que houvesse obras ligadas ao espaço.
Ventanias de Rui Carvalho explora a espontaneidade e a calma das situações adversas. A ideia subjacente é manter o calculismo no meio de uma ventania, de uma tempestade. De exorcizar os demónios que não gostam de papel. De cultivar a criatividade gráfica inspirada no quotidiano, nas memórias da juventude perdida, mas não esquecida. Do homem. Do artista.
A exposição “ventanias” esta povoada de personagens, o que é que simbolizam?
Rui Carvalho: Foram escolhidos ao acaso, não tem simbologia certa. Foi a espontaneidade do assunto, quando os desenhei estava numa fase, não muito boa, cada dia ia pegando num tema através do jornal, tinha que me desenrascar porque o trabalho tinha de ser feito, às vezes a inspiração não surgia, tinha de sacar imagens e motivações do dia-a-dia e assim aquela hora passava.
Inspirou-se em notícias que leu?
RC: Aquelas personagens são praticamente que tirei da imaginação e também tive modelos, que não desenhei tal e qual. Usei a imaginação, através do modelo. Por exemplo, a base era uma fotografia, da realidade imaginei outra coisa.
Então o que representa este mundo?
RC: É um mundo baseada na BD underground. A base é essa, os anos oitenta, mas que assenta num trabalho gráfico. Transformei a banda desenhada que era aficionado num trabalho gráfico.
Quais os autores que o inspiraram?
RC: Todos. Um dos autores que conheci em Lisboa foi o João Afonso Santos e ainda outras personalidades que entravam nessa mesma linha, por exemplo, o Rigo, mas nessa altura não eram só eles, na Europa eu conheci pessoas que faziam o mesmo.
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