Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

segunda, 31 dezembro 2012 21:01

Atreva-se no zonarte

As primeiras notas musicais de “tudo isto é fado” foram o mote para as primeiras pinceladas do Zonarte, uma iniciativa da artista plástica Taciana Gouveia, que visa dar espaço à criatividade e imaginação de quem quer, que seja que queira expressar-se através da pintura mural. É também uma fusão de expressões artísticas, que levaram o fado á rua, para gáudio do inúmero público que se acotovelava para ver os artistas em acção.

Qual foi o objectivo que te propusestes para o Zonarte?

Taciana Gouveia: O intuito desta iniciativa teve como objectivo primordial, tornar acessível à prática artística e não só. Para já trata-se de um projecto muito democrático, porque é atingível por todos. E quando o decidi pensei logo nesse aspecto. Criar um projecto artístico onde todos pudessem participar. Eu, enquanto artista, senti muitas dificuldades em expor os meus trabalhos. Todos sabemos que existem monopólios e nomes sonantes que ocupam o panorama das artes e que por isso, nem sempre é tão democrático como gostaria que fosse. Chama-se Zonarte, porquê? É arte na zona velha, através de pintura mural.

A escolha do mural tem muito a ver com o facto de poder ser partilhado por muita gente?

TG: Sim, exacto. O projecto está a ter muita adesão por parte dos artistas e se calhar para colmatar a necessidade de expressão que ainda a pouco referi. Da falta de espaços acessíveis e democráticos onde as pessoas se sintam à vontade. Um local onde possam chegar e dar asas à concretização plástica e a sua criatividade.

segunda, 31 dezembro 2012 20:59

O mundo Dheo

Mr Dheo é o pseudónimo usado pelo artista urbano que não se pretende esconder por detrás do anonimato, pelo contrário serve para reafirmar a sua originalidade e versatilidade, através do graffiti e mais recentemente o vídeo. Formas de expressão artísticas que utiliza para transmitir mensagens de alerta até uma sociedade cada vez mais caótica e desumanizada.

O teu graffiti é arte urbana para ti?

Mr Dheo: O graffiti é arte urbana. Aliás, é o seu principal expoente.

Achas que tens um estilo definido como writter e qual é ao teu ver?

MrD:Na minha opinião é quase impossível ser-se original. Quando surge algo relativamente novo é sempre resultado da junção de várias coisas que já foram feitas. Nesse sentido nunca poderei afirmar que tenho um estilo 100% criado por mim. Mas acredito que construí a minha linguagem e que a mesma, se estivesse sem assinatura ou qualquer referência ao meu nome, poderia ser facilmente reconhecida. Ao longo dos anos fui recolhendo muita informação visual, não só em termos de graffiti, que foi moldando o meu trabalho e a forma como me exprimo e que me diferencia. Procuro, acima de tudo, ser um writer completo e versátil.

Defines-te como artista plástico, essa é a evolução natural que pretendias em termos de profissionais? Ou seja, isso insere-se no teu objectivo de vida, ou foi algo que foi surgindo?

MrD:Hoje em dia é a minha profissão, mas não o planeei. Tanto que nunca estudei artes. Em criança e ao longo da minha juventude tive sempre uma ligação forte com o desenho mas nunca me passou pela cabeça viver da Arte. A paixão e a dedicação que tenho e sempre tive pelo graffiti foi-me abrindo portas nesse sentido e aos poucos fui percebendo que poderia transformar este vício num modo de vida. E, sem nunca forçar, isso aconteceu.

Achas que a única forma de sobreviver como writter é tornar a tua arte em um produto comercial, como o tens feito?

MrD:Não tornei a minha arte num produto comercial. Escolhi a via mais difícil, que é aceitar vender o meu trabalho tal e qual como ele é e como as pessoas o vem na rua. Rejeitei vários trabalhos até à data pelo simples facto de não serem trabalhos criativos, com a liberdade que eu acho que me deve ser dada. As marcas e as empresas com as quais trabalho procuram-me pelo que vem na rua, porque querem que eu conceptualize e crie a sua imagem. E essa é a única forma de eu aceitar fazê-lo. Há ilustradores que nunca fizeram um trabalho na rua e que apanharam a onda para se denominarem de "street artists" e ganharem uns valentes trocos. São esses os comerciais e são esses que vão destruindo em meses o que foi construído durante décadas.

segunda, 31 dezembro 2012 20:58

O criador

Trindade Vieira revisita na sua obra a natureza nas suas diversas vertentes artísticas, texturas e formas, tendo como base uma preocupação ambiental que explora através de pigmentos e materiais mais ecológicos. Uma dessas temáticas, a mais recente, reflecte o universo da ilha, através das bananeiras, com telas que interpretam a planta nas suas mais variadas formas, usando a seiva como tinta que ao contrário do que se possa pensar, permanece infinita no tempo. Imutável como um fóssil.

Há uma componente de ilha muito forte no teu trabalho? Vê-se a natureza quer através das texturas, quer da cor.

Trindade Vieira: Eu sou muito influenciado pelo meio onde estou. Podia ser numa outra ilha, num outro continente e seria sempre influenciado pelo meio onde estou. Como vivo alguns meses na Madeira, portanto a minha influência vem daí, eu nasci aqui, eu vivo cá. Não sei se reparou há uma grande preponderância que é a bananeira.

Porque a bananeira?

TV: Eu praticamente nasci no meio das bananeiras. O meu ateliê principal é no meio delas, antes eu trabalhava num sítio improvisado. No terreno usava a matéria orgânica envolvente com a tinta e abordava de certa forma a natureza, nem que fosse directamente direccionada para a bananeira. Depois surgiu uma inclinação para fazer um trabalho ligado com a planta. Levou-me imenso tempo descobrir técnicas e formas de representar este novo sujeito, no inicio fiz uma primeira exposição em que abordei a textura, cor e forma. A partir daí continuei sempre esta nova vertente por explorar, mais como ideia para o meu trabalho.

Não o fascina as naturezas mortas, ou outro tipo de vertentes artísticas, mais urbanas digamos assim, instalações?

TV: Já fiz coisas assim. Nem sempre as mostro na Madeira, se calhar é por isso que as pessoas não sabem. Tenho outro tipo de trabalhos com luz, por exemplo, tenho também fotografia, aliás eu faço muito trabalho de pesquisa como experimentação.

Como decorre o processo de criação, primeiro aparece a ideia, ou há um grande trabalho de pesquisa anteriormente?

TV: Depende. No caso da bananeira ele vai nascendo quase de uma forma orgânica, ele vai fluindo, trabalhei a forma e as texturas e agora estou a desenvolver a seiva. Ele nasce de uma forma muito espontânea. Eu não a procuro, ele vem ter a mim. A história da seiva surge com as minhas folias de criança, sempre brinquei no meio das bananeiras, depois ficava com as nódoas na roupa, derivado a seiva, que já não saia. Aí também nasce a ideia neste contexto. Embora, tivesse começado mais tarde essa abordagem. Ele nem começa, flui. Eu não faço muito a ideia do que vou fazer amanhã, já tenho uma linha de trabalho para o próximo, sem o procurar muitas vezes.

segunda, 31 dezembro 2012 20:57

Os opostos atraem-se

A Mouraria galeria de arte promove o trabalho dos artistas plástico ao nível nacional. Trata-se de um projecto inovador, fruto de uma parceira entre a arte contemporânea e arte antiga, que já dura a dez anos, no mesmo edifício. Fomos conhecer o novo desafio proposto pelo galerista Ricardo Ferreira “contraponto”, que aposta nas obras de arte de pequenas dimensões. Duas visões díspares sobre um determinado objecto.

Porque esta exposição contraponto?

Ricardo Ferreira: É uma época próxima do Natal, em que as galerias preparam colectivas de pequeno formato. Isto é, apostam em algumas das peças dos artistas com que habitualmente trabalham em pequenas dimensões pensando no lado mais comercial, porque é uma época de ofertas, mesmo no campo das obras de arte, ou seja, é talvez das melhores alturas do ano para se venderem estas obras. Esta mostra tem uma particularidade, ou pelo menos um lado mais original, a galeria seleccionou um determinado grupo de artistas, convidou cada um deles para apresentarem uma peça de arte para esta colectiva e por sua vez os desafiou para mostrar lado a lado, um outro artista do acervo permanente da galeria. A ideia resultou em algo curioso, que está divido pelas três salas do espaço. Em todas as paredes se encontram dois trabalhos em exposição. O da esquerda simboliza o artista apresentado pela galeria e a peça da direita seja escultura, pintura, fotografia ou desenho representa o autor convidado para esta mesma mostra.

Qual foi o critério de escolha para os artistas convidados?

RF: O critério obedeceu a uma grande diversidade das várias áreas artísticas. Englobam os quatro tipos de vertentes artísticas divulgadas e comercializadas em permanência nesta colectiva mista. Tentámos variar um pouco dentro da escultura, pintura, fotografia e o desenho. A ideia foi gerar um confronto, em estéreo, em sintonia, ou um contraponto, daí o nome da exposição e dividir o espaço da parede com alguém escolhido por eles e não pela galeria. A originalidade reside nesse ponto e todos os artistas gostaram da ideia e aderiram de imediato, agora vamos ver a reacção do público.

Como defines o mundo arte em Portugal, tendo já uma carreira assinalável nesta área?

RF: O meu percurso galerístico tem cerca de 15 anos. À frente da filosofia desta galeria estou a dez anos, os anos anteriores foram dedicados a um espaço em Setúbal, que tinha sucursais no Porto e Madeira. Depois foi destacado para essa galeria satélite no Funchal. O projecto terminou, eu desvinculei-me e fiquei por cá. Surgiu então, a oportunidade de fazer uma joint-venture entre um galerista e um antiquário. Esse tipo de união entre arte antiga e contemporânea, um local com antiguidades e uma galeria de arte ao mesmo tempo, no mesmo edifício para os madeirenses, mas não só. Também virado para o exterior, para as pessoas vindas do continente de norte ao sul do país e para o público visitante estrangeiro.

Eles compram arte?

RF: Atenção, os turistas representam um grande número dos visitantes, mas não compram. A maioria dos coleccionares de arte é local, ou nacionais e não estrangeiros que representam uma percentagem muito simbólica.

segunda, 31 dezembro 2012 20:55

A estrada de carla

É um tratado sobre o seu percurso pessoal que germina sob diversas representações artísticas, através de um processo de construção progressivo e limitado ao mesmo tempo. Preso pelo tempo e pela fragilidade física da artista. São olhares que engolem o mundo que ainda esta por descobrir e destrinçar. É a visão de Carla Cabral, a artista.

Como defines esta bio-grafiapresa, é um retorno à infância?

Carla Cabral: É uma auto-biografia, não é uma referência à infância. É todo o meu percurso até hoje. Podemos encontrar neste trabalho todas as técnicas que já abordei, desde que comecei a trabalhar. O desenho, o acrílico, o óleo, as colagens e a instalação de vídeo. É uma mistura muito grande de linguagens e que aborda sobretudo, o eu, o meu percurso.

Uma das obras é uma espécie de diário…

CC: Não me consigo separar das minhas agendas. Andam sempre atrás de mim. Transporto-as comigo desde 1993. Estão presentes nesta exposição algumas páginas que tirei das agendas de 1996 até 2011, que abordam a construção de outras exposições que tive em outros momentos, das técnicas que eram necessárias e os tipos dos quadros. Depois há apontamentos muito pessoais, tem referências a amigos meus. As pessoas mais importantes da minha vida estão ali, estão todas representadas, não me esqueci de ninguém.  Mensagens que me escreveram e que escrevi. Não sei se reparaste, existe um trabalho com frasquinhos. Foi feito pelas 39 pessoas que me conhecem, pedi que escrevem-se uma palavra que me definisse, com a ajuda delas construi meu auto-retrato.

Reparei nas gaiolas abertas e fechadas. O que simbolizam?

CC: É por isso que se chama biografia presa. Tem a ver com o meu percurso de vida. O meu eu. Estou presa, por causa de uma doença. É a minha gaiola.

Nesta exposição verifico que usas diversas técnicas. É uma constante na tua obra?

CC: Esta é a primeira vez que uso todas numa única exposição. Já as usei em outras alturas. Propôs-me fazer de novo todas as técnicas. Fiz também instalações, para poder reunir uma auto-biografia, a partir de um vídeo caseiro em que tinha cinco anos até aos 40 anos. Tem todo esse percurso.

segunda, 31 dezembro 2012 20:53

A caixa de pandora

No inicio 2010, Nair Morna transpôs um projecto de arte pública na cidade de Galway, na Irlanda, para a rua de Santa Maria, localizada numa ilha algures perdida no meio do Atlântico. A ideia ganhou consistência e são diversas as formas de actuação dos Mad Space Invaders, na cidade do Funchal. Uma intervenção artística que valoriza o património arquitectónico da urbe, e que conta com a ajuda preciosa dos seus já cerca de 30 membros com uma vontade indómita de transformar espaços abandonados e desprezados em autênticas obras de arte.

Em que contexto surgem os Mad Space Invaders?

Roberto Macedo Alves: Foi uma ideia da Nair Morna. O primeiro membro do grupo, que viu que havia na Irlanda um grupo de artistas que se juntavam para fazer intervenções em espaços abandonados e desprezados e que eram transformados em mini-centros culturais durante algum tempo. Ela achou que o conceito se aplicava à Madeira, por isso, juntou um grupo de amigos e criou os Madeira Space Invaders. A óptica da ideia era invadir com a autorização dos autores e proprietários dos espaços para fazer algumas intervenções.

É difícil propor aos proprietários e as autoridades locais fazer este tipo de intervenções?

RMA: Às vezes é, se bem que agora é cada vez mais fácil, porque as pessoas começam a dar importância a este conceito de arte pública, como tem funcionado, devido ao impacto que teve as portas abertas na Rua de Santa Maria, as pessoas começam a ver que isto de pintar os espaços públicos é bom. Serve para valorizar estes edifícios e para trazer pessoas que não estão habituadas a lidar com arte e cultura no dia-a-dia, a expor obras de arte nos seus locais de passagem. De repente, as gentes que residem aqui olham para as portas e para os murais, residentes que nunca entraram numa galeria de arte e que acabam por criar outro tipo de sensibilidade para a pintura. Olham para os desenhos, analisam, avaliam e dão a sua interpretação, sem nunca antes terem tido a oportunidade de entrar num museu e agora de repente tem outra abertura para este tipo de manifestações artísticas. As autoridades locais começam a verificar o impacto positivo e tem colaborado de forma cada vez mais intensa. No caso deste mural foi mais fácil, trata-se de um prédio privado, de modo que os herdeiros autorizaram a intervenção na fachada.

segunda, 31 dezembro 2012 20:52

A arte das portas abertas

José Maria Zyberchema, é um madrileno, que se apaixonou pela ilha da Madeira. Foi como um amor à primeira vista e logo percebeu que havia edifícios na cidade do Funchal que necessitavam de um novo rosto, uma intervenção artística. O projecto de arte portas abertas nasceu e aos poucos conquistou os corações dos cidadãos, que tinham perdido um certo carinho pela sua herança, e do mundo que as visita.

De que se trata o projecto portas abertas?
José Maria Zyberchema: A arte de portas abertas começou em Agosto de 2010. Como uma ideia para mudar as ruas da cidade, sentia-me triste quando tirava fotos em torno da cidade, de edifícios abandonados e ao fazer uma conferência com essas imagens, bem, decidi intervir em tais lugares e assim apareceram as portas abertas, com pintura, com escultura, com qualquer tipo de artes.

Porque eles escolheram a rua de Santa Maria no Funchal?
JMZ: Realmente poderia ter sido ou que outras ruas que estão bastante danificadas na cidade. Mas, Santa Maria é uma das mais antigas e uma passagem turística, onde se vê muita gente e a sensação de quem passava não era das mais agradáveis. Bem, há cerca de 150 portas em que intervimos no inicio, quando eu propus a ideia à Câmara do Funchal, eu pensei em 200, ou mais, mas era para ter um início e um fim intemporal, em oposição aos eventos que podem durar alguns dias, uma semana ou um mês, eu queria que tudo isso estivesse na rua enquanto for necessário.

segunda, 31 dezembro 2012 20:50

As águas do tempo

Alice Sousa define-se como uma judia errante pelo mundo. O seu percurso reflecte todos os lugares por onde passou, as pessoas que conheceu, os escritores e as palavras que lhe preencheram os dias de saudades da sua terra natal e os amores que se perderam nas vagas da memória. Uma obra que, é uma viagem permanente pela sua inquietação pessoal.

A exposição águas do tempo tem uma forte componente poética e andorinhas. Há uma ideia de errância subjacente?

Alice Sousa: É possível. Eu sou uma pessoa muito inquieta. Nisso tenho uma afinidade com a Guida Vieira. Nós trabalhámos juntas, no atelier do Lido, até 2000 e a nossa empatia era sobretudo, porque havia uma inquietação dentro de nós. Tentámos sempre apaziguar esse sentimento uma com a outra. Eu realmente fui uma judia errante pelo mundo. Estive na Bélgica, na Venezuela só de passagem e vivi no Brasil, no Rio Grande do Sul. Ficava a uma grande distância do Rio de Janeiro, eram 36 horas de autocarro. Nesta minha actual fase da vida, em que estou num ciclo descendente e não quero parecer pessimista, eu escrevo para os amigos que já partiram, os poetas que eu amei e amo, as viagens que já fiz por esse mundo e que também já não as posso fazer por questões pessoais. Eu gostava de tudo isso e talvez isso se reflecte na minha pintura.

Esta exposição é acompanhada por música de Chico Buarque, porquê?

AS: Bem, o Chico Buarque foi estudante de arquitectura e colega do meu irmão, havia um coro na faculdade e eles montaram uma peça chamada “liberdade, liberdade”, da qual fazia parte o Paulo Autran já falecido e a Lígia Fagundes Teles, que também era muito boa actriz. Era um espectáculo extraordinário, interrompiam os actores para aplaudir e a música era de Chico Buarque. O gira-discos também me liga à Guida, porque eu bombardeava-a com música dele. Ela tinha que ouvir e tanto ouviu, que foi dela a sugestão de colocar música durante a exposição. Era um “massacre”.

O Brasil está sempre presente na sua obra? Nos seus trabalhos anteriores isso reflecte-se de certa forma no traço, nas cores fortes.

AS: Sim, sabe, eu fiz o quarto ano de pintura no Porto. Pedi a equivalência quando fui para o Brasil, fiz o quinto e só no sexto ano é que me formei. De modo que, na universidade gostavam tanto de mim, porque tinha escolhido aquele país para estudar, que em detrimento da minha formação, deixavam-me fazer o que queria.

segunda, 31 dezembro 2012 20:49

O rebelde com causa

A sua irreverência, ironia e sentido de humor podem ser avistadas pelas ruas das cidades portuguesas. Pertence a uma corrente de expressão urbana que não se prende as convenções do meio artístico. Define-se como alguém que expõem os seus trabalhos ao público, sem intermediários. É um dos novos arautos da modernidade, que não esconde a sua identidade por medo, mas sim porque não pretende que a mensagem seja corrompida pela curiosidade em conhecer o mensageiro que a transmite.

O tipo de intervenções que fazes nas paredes, ou qualquer outro tipo de estrutura urbana, é arte urbana ao teu ver?

Adres: Já percebi que as pessoas assim o vêem, mas a meu ver são mais intervenções urbanas do que arte. Não me considero um artista.

Achas que o que fazes e outros como tu, que pertencem a uma corrente urbana, é uma evolução em termos dos conceitos do que é arte?

A: Não sei se é uma evolução mas na minha opinão, é uma corrente mais interessante do que a "normal". Quem expõe o seu trabalho na rua, comunica mais directamente com o público e corta com intermediário, que é o museu ou a galeria. Para além disso, por vezes, existe o factor da ilegalidade dos trabalhos, que torna as coisas mais dificeís.

Os teus trabalho tem como base a ironia, mas tem um quê de rebeldia, isso é porque estás insatisfeito com os valores da sociedade actual e é a tua forma de demonstra-lo?

A:Assim tento. Acho que já percebemos que a nossa sociedade não está a seguir um bom caminho e o material está bem acima do sentimental. Tento gozar com tudo e pode ser que pelo caminho, consiga fazer um pouco de luz a quem pare para questionar.

segunda, 31 dezembro 2012 20:48

Com amor para ti

Guida Ferraz é uma artista plástica que olha para sua obra como um percurso de depuração. Busca a simplicidade, através de uma outra linguagem, patente na sua interpretação artística. De procura pela verdade. Pelas águas do tempo ela enceta uma viagem, uma certa busca numa solidão errante até chegar a quem está do outro lado… até ti. Uma mostra patente na Galeria dos Prazeres.

Qual é a ideia subjacente desta exposição?

Guida Ferraz: Normalmente na minha obra uso a técnica mista. Estive parada durante algum tempo, mas antes usava mais óleo sobre a madeira e outros materiais. Colocava peças de vários objectos. Desta vez deu-me vontade de trabalhar o desenho. Aqui a técnica mista é usada na colagem com o papel vegetal e isso dá-me a hipótese de brincar com as transparências. O ocultar e deixar transparecer, mas não ver completamente. Acho que existem potencialidades.

As andorinhas?

GF: As andorinhas têm a ver com um percurso, uma certa procura. Todos os trabalhos estão baseados num soneto do Pablo Neruda, numa frase desse texto que diz: que solidão errante até chegar a ti. No fundo dá uma ideia de um percurso, de estar à procura de qualquer coisa.

É um percurso solitário?

GF: Sim, no fundo é uma busca pela verdade. Dum lugar no mundo, própria do estar, do amor no sentido geral. De estar bem consigo mesma e foi esse percurso que quis mostrar, através de uma outra linguagem. Daí as andorinhas, que também tem muito a ver com a minha infância. Nasci em África e lembro-me de as ter perto de casa, nos beirais. É uma ave que acho bonita e está ligada a ideia de natureza. Existe uma procura de uma certa simplicidade. Uma necessidade de caminhar para uma paz, deixar para atrás tudo o que é mais supérfulo.

África está sempre subjacente na sua obra?

GF: Directamente não. Surgiu por um acaso. Foi até um sítio onde havia andorinhas e a memória veio aquela recordação, mas aqui tento depurar e cada vez mais. Como uma necessidade de eu própria ir-me depurando.

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