A arte de Nelson Camacho é fruto das suas revoltas interiores. É uma reflexão que procura gerar a indignação, um não à indiferença. Ele é sobretudo um artista que utiliza novas ferramentas para expressar a sua visão sobre o mundo, uma sociedade sob a égide do fogo, o seu último grito de rebelião.
Na tua exposição “o meu fogo” porque decidistes misturar dois conceitos, o corpo humano e a imagem manipulada de um incêndio?
Nelson Camacho: Eu se calhar vou mais atrás. Obtenho as primeiras imagens de muito má qualidade quando estavam a decorrer os incêndios de 2010. Estava a passar de carro e filmei-os através de um telemóvel, por curiosidade para mostrar aos amigos na internet e nunca pensei que ia utilizar essa matéria-prima para dar azo a uma viagem que foi “o meu fogo”. Na realidade são situações que ocorrem na nossa vida e sentimos uma grande tristeza quando tais desastres se verificam na nossa terra, tanto descuido, tanto crime e abandono. Um ano depois ao mexer nos meus arquivos (passo tudo para o computador) revejo outra vez essas imagens e começo a pensar que deveria fazer um trabalho, não sabia se era para expor, ou se era para quem quer que fosse, não sabia também por onde começar, mas procurei fazer algo novo. Estava farto de executar trabalhos de vídeo arte, tenho outras características, outras possibilidades, que gostava de explorar. Como dou aulas, há 22 anos, na área de imagem e multimédia possuo uma panóplia de ferramentas que posso usar, nomeadamente a pintura digital, foi algo que me inspirou um grande interesse e então decidi enveredar por algo estático. Inicialmente a qualidade das imagens não era boa, mas não desisti, considero-me uma pessoa criativa. Então achei primeiramente que deveria encontrar um significado para este trabalho e depois avançar para algo manipulado digitalmente. Então o que comecei a fazer? Um poema a partir das imagens de vídeo feitas com o meu telemóvel. Essa escrita depois de depurada, com qualidade do meu ponto de vista, gerou um texto de que gostei e que deu sentido as imagens de vídeo. Aí tive a necessidade de construir “o meu fogo”, a minha viagem criativa, mas precisava outro tipo de matéria e nesse ponto surge o corpo humano. Era a personificação do fogo para depois avançar para a pintura digital. Idealizei uma sessão de vídeo com uma modelo, retirei os fotogramas que me interessavam e parti para o trabalho digital. Não é propriamente fotografia. É o meu grito de revolta.
Foi então um processo longo já que demorou cerca de um ano.
NC: O processo não seria longo caso tivesse trabalhado as imagens no início. Elas ficaram em aquivo, guardadas.
Então o que te levou a encetar o processo criativo?
NC: Não sei. A minha vida é muito complicada, sou uma pessoa muito ocupada, dou aulas e não há tempo para pensar. Estava tudo arquivado, mas não sabia quando o ia usar. As revoltas estão lá, também é possível guarda-las na gaveta. Só que um dia tu decides usar uma delas e mudar o mundo. Claro, que não é bem assim, mas surgiu num momento em que tive mais tempo e era um assunto que me incomodava. Em termos quantitativos demorei seis meses até ter tudo terminado, tendo em conta que resulta do meu tempo das horas vagas, deu-me um prazer enorme pegar nestas imagens e trabalha-las. Resumindo, comecei a trabalhar as imagens que captei dos incêndios através do telemóvel, fiz um vídeo com isso, depois escrevi um texto que contextualizava a minha revolta interior, os meus objectivos, as minhas técnicas e o próprio contexto da exposição, depois nasce a sessão de vídeo com o corpo humano que direcciona para o meu grito. Quis alertar através da mulher sobre os processos que decorriam, queria fantasiar com esse aspecto e acrescentar um certo erotismo, os pecados da sociedade e representa-los nos quadros, mas sempre com uma réstia de esperança, é um grito de alerta para que as pessoas acordem para os erros que estão a cometer. Os meus dezasseis quadros surgem desse elemento do fogo que esta presente. Esta exposição surge dos incêndios de 2010, em 2011 inicia-se o processo de itinerância, chegámos a 2012 e infelizmente o tema é mais actual do que nunca, porque no dia da apresentação no Centro Cívico do Estreito de Camara de Lobos, em simultâneo estava a ocorrer um incêndio nas encostas daquela localidade. Era uma incoerência. Estava a inaugurar uma mostra com muito gosto e prazer e ao mesmo tempo tudo ardia, mais uma vez, estávamos perante os descuidos na nossa sociedade e este ano foi pior ainda em termos de incêndios.
A pouco referiste que para esta exposição não pretendias fazer vídeo arte. Achas que já explorastes tudo o que podias desta vertente artística, é isso?
NC: Não se trata de achar que já explorei tudo, cada vez que faço vídeo arte aprendo comigo próprio, gosto de faze-los quando não são publicitários, realmente, como tudo na vida, nós cansámo-nos de trabalhar com esta matéria. Apetecia-me enveredar por outra faceta e foi só isso, sabia que tinha condições para avançar para um estudo e encetar por uma experiencia pessoal. Curiosamente, a essência da exposição é a manipulação bitmap, mas mesmo assim está presente uma animação que surge na escuridão, no meio de fumo, devido ao conceito que pretendia imprimir a mostra. Criei um pequeno segmento, onde surgiu uma voz a declamar o meu texto, em paralelo, uma bailarina através da sua expressão corporal que batia nas pessoas, incomodava-as, exigia espaço, depois tocava na parede e aparecia uma obra banhada pela luz, a maior de todas, de 3x2 metros, a décimo sexta, é montado em 3D e surge no final, quando as cortinas caem. Fiz isto porque pretendia personalizar a minha intervenção.
É um trabalho em parceria a partir da letra A de Paul Valéry concebida pelos artistas António Barros e António Dantas. É o acto de escrever um livro numa linguagem e num formato diferente do que é comum. É o domínio do vizualismo com características morfológicas diferentes. É um entendimento da escrita na sua profunda actividade e visualidade. O espaço simboliza um livro, cada artigo revela a particularidade da identidade que é a Madeira e as suas características muito particulares no domínio da resiliência, da capacidade de inovar e recomeçar a cada momento, perante as adversidades que a natureza vai formulando. Começa com a palavra: “Ao princípio será o sono, animal profundamente adormecido. Morna e tranquila massa misteriosamente isolada, arca fechada e cheia de vida que transportas para o dia a minha história e o meu possível. Ignoras-me e conservas-me. És a minha permanência inexprimível. O teu tesouro é o meu segredo. Silencio, meu silêncio. Ausência, minha ausência...".
Que são estas electrografias?
António Barros: Só os trabalhos do António Dantas são electrografias. Os meus artigos afirmam-se em "obgestos", peças recentes,criadas a partir de 2010. É sobre a tragédia que ocorreu na Madeira e traduz-se o texto da obra "al(a)ma" . As gravatas (inscritas em insulae) são um elemento iconográfico que tenho explorado ao longo do meu percurso de poesia experimental. Também possuo outros elementos do traje, da roupa e dos contributos que são trabalhados para o revestimento da pessoa. A poesia afirma-se através desses elementos de comunicação.
A cor faz parte desta visão?
AB: Trabalho estas duas não cores(branco-somatório de todas as cores versus ausência de cor) que exploro dentro de um território de identidade. O meu trabalho é fundamentalmente, assim, como do António Dantas, dentro da relação preto e branco.
Daí a ínsula, porquê?
AB: É uma ilha, em termos originários e dentro da cultura romana são as vivências mais populares. É um elogio às minhas raízes e uma reflexão aos lugares de vivenciação que acabam sempre por existir na ínsula, que é uma ilha dentro do arquipélago e a Madeira é uma delas. Eu vivo em Coimbra que acaba por ser ter uma estrutura de insula, ela pode estar rodeada de mar, mas também pode estar circundada por terra. É um conceito.
É um processo interior?
AB: Toda a narrativa artística é um processo interior independentemente da narrativa que explora.
Tó Mané é um apaixonado pela fotografia e pelo mar desde muito jovem. Uma obsessão que o conduziu a uma carreira de sucesso como fotógrafo de eventos ligado ao surf, tendo até as suas imagens sido publicadas numa das maiores e mais conceituadas revistas do género ao nível mundial, a “Surfing” . Outra das suas paixões é viajar e conhecer realidades diferentes que transporta para as suas fotografias que compilou num livro e que podem ser vistas numa exposição na Avenida da Liberdade, 44, em Leça, até o dia 12 de Agosto.
Quando é que decides tirar fotografias do mar, dos surfistas de forma profissional?
Tó Mané: Comecei a surfar em 1988 e tirava fotografias por influência do meu avô que tinha diversos tipos de máquinas, tirar fotos sobre o oceano tornou-se em algo mais sério quando publiquei a minha primeira imagem do surf em 1998 e a partir daí continuei.
Acompanhas também os campeonatos de surf?
TM: Sim, sou convidado para fazer a cobertura dos campeonatos, mas também é uma área do meu trabalho.
Tiras fotografias dentro de água?
TM: Sim, há fotografias que faço dentro de água, estou em média 3 horas à espera da imagem certa, mesmo no inverno.
Submeteste um das tuas imagens a um concurso profissional internacional.
TM: Sim, é um concurso global, é um dos maiores ao nível mundial. O prémio pode atingir os 50 mil dólares. É um certame aberto a todo tipo de fotografia. Neste momento estou em terceiro lugar nos individuais, só peço que as pessoas votem na minha imagem. Também vou mostrar os meus trabalhos numa exposição. São imagens de um livro que publiquei este ano. Já apresentei outra mostra em 2010, as fotos eram a preto e branco, num total de seis imagens só sobre ondas.
É um livro sobre surf?
TM: Não, é um livro intitulado “travel”, é sobre as minhas viagens e seleccionei várias que gosto dos sítios que visitei, quer sejam a dez minutos de casa, ou a 5 mil quilómetros de distância. São periplos que fiz ao nível pessoal. São 19 fotos que também vão estar em exibição.
Para além do mar, há outras temáticas que te apaixonem?
TM: Gosto de paisagens com longas exposições, mas também de fotos de desportos, que impliquem muita acção. O surf é a minha vida, a fotografia reflecte isso, é algo de que gosto, com o qual convivo e que pratico. Actualmente dedico-me a fotografia comercial, faço de tudo um pouco, porque é difícil viver só do surf.
Se quiser votar na foto do Tó Mané, basta aceder e registar-se.
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As jóias contemporâneas de Paula Paour reflectem o seu universo de afectos, as imagens mentais que guardou na sua memória e até os odores da vida. São peças de design que servem para serem lembradas.
Como é surgiu a sua paixão pela ourivesaria?
Paula Paour: Desde miúda que sempre gostei de jóias, das menos comuns, mais históricas, como forma de expressão de outros tempos. Também gostava das peças de arte clássica, de escultura, que via nos museus e nos livros de história. Peças de ourivesaria portuguesa e das jóias de família que de uma maneira ou outra tocavam-me particularmente. Havia um lado estético e decorativo, mas também simbólico e afectivo, uma espécie de lado quase amuletico que a jóia tem e mais ornamental, por outro lado, com que as pessoas se identificam de uma maneira mais imediata, do belo objecto que nos faz sentir mais bonitas ainda. Todos estes aspectos interessaram-me numa altura, no décimo segundo ano, em que era normal seguir a universidade, algo que fiz anos mais tarde. Ao tentar descobrir o que queria fazer na minha vida, acabei por seguir este trajecto na joalharia. Foi para o Ar.Co, uma das melhores escolas artísticas do país ao nível da joalharia contemporânea, pela sua dimensão técnica e criativa e lá encontrei algo que não sabia muito bem o que era, mas que se foi tornando um caminho de procura pessoal, com influências de muitos lados, de tudo o que me rodeava no fundo, que agora se traduzem na joia de uma forma muito própria e especifica, que tem a ver com a escala, a relação com o corpo, com a sua portabilidade e até a relação muito íntima que as pessoas criam com a joalharia.
Nas suas colecções há uma fusão de vários materiais. É uma dimensão do seu trabalho que surge desde sempre?
PP: Eu não misturo assim tantos materiais. Há fases em que misturo uns mais do que outros e não há nenhum à partida em que não consiga trabalhar. Todos eles de uma maneira ou outra são interessantes e tudo concentra-se em função daquilo que eu quero que a peça possa transmitir no seu aspecto, na sua referências, no imaginário que nos transporta para uma época, para um mundo de ambientes que tem a ver com esse tipo de materiais. Todos eles são importantes nessa medida e não ando só a experimentar, gosto de sentir essa liberdade de expressão.
Quais são então os materiais a que recorre sempre?
PP: No fundo os metais estão sempre presentes. Tem a capacidade fantástica de adaptarem-se a quase tudo o que quisermos fazer. Sujeitam-se a tudo, tem grande plasticidade, usando tecnologias muito simples podemos fazer peças incríveis. Com os materiais mais recentes, como os plásticos, existem mais limitações técnicas e necessitam de instrumentos muito sofisticados. A base são sempre os metais, embora haja também que dominar a questão técnica, o lado oficinal que nos ajuda com o material. Depois tenho um lado experimentalista, que gosta de utilizar outro tipo de materiais, gosto de explorar esse tipo de apontamentos, por exemplo, utilizar o acrílico numa peça, pela sua cor, pela sua expressão. Há ideias que se desenvolvem a partir do contacto com essa matéria, por vezes até fragmentos de madeira, ou peças antigas de marfim, restos que podem fazer parte de um outro objecto de uma outra vida, que também se podem transformar em jóias contemporâneas.
O processo criativo passa pelos materiais, ou pelas ideias?
PP: Pelas imagens, pelas ideias. É um conjunto. É uma conjunção de slides mentais que vão surgindo de uma peça que não esta definida ainda, mas que remetem-me para um momento que me marcou particularmente, uma viagem, ou um livro que estou a ler, os apontamentos, o cheiro que a vida nos traz.
O trabalho de Ana Mandillo vai ao encontro de três formas de expressão: a pintura, a música e a narrativa tridimensional. Uma reinterpretação dessas experiências íntimistas que transpõem para a tela, para as suas esculturas e instalações. Ela pretende transmitir acima tudo a leveza e beleza na sua arte. É a sua forma de estar de vida, de estar em comunhão com o universo.
A exposição é um encontro com quatro músicos. Como surgiu esta parceria e porquê escolheu as novas tecnologias como meio?
Ana Mandillo: Foi a partir da internet que surgiu o desafio de um pintor francês, para que pintasse as peças do Miguel Azguime. Ele conhecia o meu trabalho e também estava ligado à música electro acústica. A partir desse momento surge o intercâmbio com as outras pessoas.
Como aparecem os restantes membros que integraram este projecto?
AM: Surgiram com o Joaquim Pavão, compositor e guitarrista setubalense que me pediu para fazer minuto e meio de um vídeo para um filme de uma hora. Uma longa-metragem a preto e branco sobre a avenida de Aveiro. Fiz as pinturas para esse minuto e meio, o vídeo entretanto não foi para a frente e o Joaquim Pavão acabou por ceder-me a música, o projecto começou assim. Depois um pintor do Québec, Jaques Tremblay, pediu-me para pintar a sua música, enviou-me um CD, eu escolhi uma faixa e pintei. Depois enviei as fotografias de forma a obter um feedback, se gostavam ou não.
Como decorre o processo criativo?
AM: Oiço em loop constantemente o mesmo tema e isso inspira-me.
E quando pinta outros quadros?
AM: Estou sempre a ouvir música. Depende muitos dos dias, sinceramente. Gosto muitíssimo de Chopin.
A “confeitaria da mala” e o “cut furniture” são dois conceitos de design completamente distintos que surgem da mente criativa da Mariana Costa e Silva, açoriana, que interpretam de forma muito particular e eficiente os objectos do nosso quotidiano.
Quando é que aparece a “confeitaria da mala”?
Mariana Costa e Silva: Aparece na primeira ladra alternativa, numa feira. Uma amiga convidou-me um mês do evento, eu já tinha há um ano a ideia de fazer malas de alcatifa e pensei: vai ser isto mesmo. Na oficina onde trabalhava, havia uma máquina de costura, eu trabalhava fora das horas de expediente. Comprei a alcatifa, que custou na altura cinco euros e foi ensaiando, cosendo e correu muito bem quando os apresentei na feira.
Porquê escolheste alcatifa como matéria-prima?
MCS: A alcatifa tem corpo, a mala mantém a forma, para além disso, não desfia nas bainhas e tem o factor económico apetecível, até agora não encontrei nenhum material com um preço tão acessível.
Reparei que há várias malas, em diversas cores e vários formatos.
MCS: Sim, sempre gostei muito de cor, desde o início que há tonalidades muito garridas.
As colecções propriamente ditas, estão associadas a uma ideia, ou por padrões?
MCS: Tenho interpretações livres sobre uma mala. Na minha formação como designer, tive muitos exercícios que serviam para transformar formas planares em tridimensionais, de maneira que era um tema onde me sentia bastante á vontade. Inicialmente comecei com formas muito redondas. Surgiam de ideias, ou interpretações de malas que já existiam, sempre como um modelo muito próprio, alguns deles são tão pouco convencionais que são difíceis de introduzir numa fabricação. Só recentemente as colecções começaram a ter temas, senti essa necessidade. O ano passado foi a horta e este ano é a cor, estou desenhar malas com várias cores, por exemplo, ter uma mala com vários tons e não apenas um. É um tema que vou lançar em Setembro.
É uma jovem artista plástica que tem marcado presença no panorama artístico nacional de forma segura e contínua. Fátima Spínola explora nas suas obras de arte o conceito do indivisível, do menos óbvio. A provocação, a interrogação e o pensamento crítico sob diversas vertentes artísticas.
Como te defines como artista. Verifico que no teu trabalho abordas diferentes correntes artísticas e diferentes materiais.
Fátima Spínola: É uma linha que tento manter, que são vários caminhos, várias abordagens em contraponto a uma vertente única. Normalmente sou um pouco contra isso, porque sinto em mim várias facetas desde pequena. Explorei a música, o teatro e outras áreas. Nas artes plásticas sinto também esse impulso de explorar os vários materiais.
Em relação aos materiais que utilizas, tu reciclas muitos dos objectos.
FS: Sim, isso provém de uma necessidade e para fugir ao facto de não ter capacidade financeira para concretizar muitos dos projectos que imagino. Então dessa forma vou criando algumas hipóteses que são viáveis e no fundo acabam por ter impacto, mas sem grandes custos.
Na tua pintura refusas o óbvio. O que procuras?
FS: A pintura provoca-me nervos. É a parte mais emocional do meu trabalho. É uma acção. O saber que me vou expor. Por isso, acabo por não pintar muitas vezes.
É a tua opção preferida ou não?
FS: Não tenho uma opção preferida. Gosto de abordar a instalação, a pintura e o desenho. Mas, a pintura das três causa-me uma perturbação maior. Pintar é fácil, em termos de técnica, o problema é o conteúdo, às vezes surgem coisas que não queria dizer, que não desejava mostrar.
Marco Fagundes Vasconcelos gosta de desconstruir os códigos estéticos de beleza. Metamorfoseia a figura, transfigurando-a, sem contudo adulterar a sua essência. Desenha rostos e corpos sem filtros, como parte de uma vertente hedonista, contando as suas histórias através das suas expressões faciais, das suas falsas posses. Neste “steacks, drawings and other stories” o artista ajudou a redescobrir a Guida Scarllaty, tornando-a carne e osso e ao mesmo tempo imortal, como peça de um museu, para ver no Forte de São Tiago no Funchal.
Na sua obra gosta de referir que procura sempre testar os seus limites. Quais são?
Marco Fagundes Vasconcelos: É o até onde consigo explorar através do meu próprio grafismo. O que é muito difícil. Nós todos temos os nossos limites e com a idade, com a continuação deste processo de trabalho, eu acho que vamos questionando sempre: onde estão os limites? É muito estranho ter objectivos e depois há limitações, de suportes, de tempo e de espaço. Se calhar não tenho limites, obviamente que o resultado do trabalho tem limitações, por isso há uma exposição, embora não me cause qualquer impacto, porque eu acho graça ao processo criativo. O limite é dizer a mim mesmo quando paro. O limite também é saber parar. Agora percebo que tenho de saber parar, porque o principal é faze-lo no momento certo. Há desenhos que se eu continuar a rasurar, a querer pintar, acabo por não usar, não rasgo, porque nunca o faço, mas fico decepcionado comigo mesmo, porque eu crio os meus próprios limites e depois não consigo responder a mim próprio essa questão.
Outra característica da sua obra é ser associada ao grotesco. É uma forma de transmitir aos outros que há vários tipos de beleza?
MFV: Não. É mesmo estético. Não tem nada de profundo. Eu não trabalho como terapia. Para mim a arte é uma obsessão, desde criar novas personagens, dar outras intenções, outros contextos, suportes e materiais que vou usando. Sair do estereotipo da fisionomia normal que toda a gente esta à espera de encontrar. Eu gosto de massacrar as caras e isso tem tudo a ver com a estética. Essas figuras são muito mais genuínas, tem muito mais carga simbólica do que um rosto normal numa revista.
Falando desta exposição, apercebei-me de umas figuras muito rasuradas, enegrecidas, parecem quase cadáveres.
MFV: É um protótipo. Os meus trabalhos são todos ensaios, registos. Emoldurar uma peça faz-me confusão. Acredito que é mais comercial estar a emoldurar, ter um espaço próprio e fica um registo meu. Todo o artista quer deixar o seu testemunho, mas essa parte das bonecas quase figuras cadavéricas, sou eu a ostentar quase uma nova barbie, elas são sensuais, estão travestidas e quem tiver atento percebe que o molde do corpo é quase uma Guida Scarllaty. Retirei a cintura, as ancas e anatomicamente são muito exuberantes e marcam presença por isso. Acho piada o ter usado o meu ADN no cabelo, acho engraçado. É o nosso Bilhete de identidade.
É o seu cabelo?
MFV: Sim, é meu. Eu corto e guardo sempre, para ser usado um dia no meu trabalho. A ideia é essa. As bonecas são massacradas. São quase fósseis, podia vesti-las, mas queria que fosse o oposto da barbie, o tirar o tecido, o brilho e usar um elemento pop. A mim também interessa-me usar os materiais correntes, das fábricas e de lojas. Muitas vezes achámos que tem apenas uma função, eu gosto de aplica-las noutras vertentes, começo a reciclar. As bonecas estão vestidas, estão tapadas, mas há partes da fisionomia que estão expostas e isso interessa-me.
A Ana e a Maria João são uma dupla de criativas que pretende incorporar diferentes tipos de abordagens e materiais nos objectos do seu quotidiano. O seu lema é “reutilizar, reduzir, reusar, renovar e reciclar” peças de mobiliário transformando-as, recuperando-as para ganharem uma nova vida.
O que as levou a apostar na transformação de móveis?
Maria João Pinto: Nós já nos conhecíamos antes de iniciar o projecto. Também já fazíamos isto nas peças de decoração das nossas casas. Muitas delas são decoradas e transformadas por nós. A Ana e eu estamos sem colocação e juntamo-nos para potenciar as nossas capacidades e lembramo-nos disto, coisas que já fazíamos as duas e queríamos por em práctica.
Reparei que apostam em várias temáticas para os móveis. Como é que surge a inspiração, olham para a peça e já sabem o que pretendem alterar, ou não?
Ana Santos Silva: Olhámos para a peça e vemos o que ela está querer dizer. As vezes surgem várias ideias, discutimo-las e decidimos em conjunto qual será a mais adequada para a peça. O Miró é um pintor que a Maria João gosta muito e então decidimos colocar desenhos dele no aparador. Eu gosto muito de Pollock que coloquei na cadeira e nos pés. É só preto e branco, mas são cores que aprecio muito.
MJP: Como somos professoras e sempre pesquisamos muito na área da arte, também estivemos as duas a leccionar expressão plástica tiramos muitas ideias de revistas, online, com os colegas e antes de começar um projecto lançámos ideias, muitas ideias.
ASS: Também pensámos nos vários materiais.
MJP: Usámos também técnicas diferentes, pesquisamos em lojas, com os artesãos e reunimos tudo num pequeno dossier mental e físico (mais pequeno!) e quando começamos tentamos adaptar em cada peça a imagem que nos surge. É o resultado dessa reunião de ideias. Nós sempre começamos as peças juntas.
Como é que conseguem os móveis? São as pessoas que trazem até o atelier para serem alterados, ou vocês vão à procura de peças antigas?
MJP: As duas. Alguns móveis estavam para ir para o lixo. Outras as pessoas estavam cansadas delas e trouxeram-nas para fazermos o que quiséssemos com elas.
ASS: Também fizemos uma espécie de angariação junto das nossas famílias, nos nossos sótãos. (risos)
MJP: Há peças que as pessoas trazem para serem alteradas, porque estão cansadas delas e nós também fazemos isso.
Mas, personalizam ao gosto do cliente ou também há uma troca de ideias com as pessoas?
MJP: Os que estão em exibição são ao nosso gosto. Mas, se a pessoa quiser transformar uma peça que tenha em casa, fazemo-lo ao gosto da pessoa. Se deixarem nos lançamos ideias até chegarmos a um consenso.
ASS: Vamos fazendo pequenas reuniões, porque quando nos chegam as pessoas com a peça, nos transmitimos as ideias que visualizamos para aquele móvel e também para eles perceberem o que gostariam de ver. As vezes querem as fotografias dos filhos, ou dizem-nos que gostam de um determinado pintor, ou ainda trazem o recorte de uma revista e nós tentámos adaptar as ideias do cliente e as nossas.
A suricata design estúdio é o espaço criativo onde os amigos Tiagos geram conceitos versáteis, práticos, divertidos e visualmente apelativos nos objectos do nosso quotidiano. São como uma família, vertical na sua essência, jovem e muito dinâmica.
Como é que começou o suricata design estúdio?
Tiago Cruz: O suricata surgiu há dois anos, nós trabalhámos juntos em outra empresa e já tínhamos essa experiência. Formámos o estúdio para trabalhar em outras áreas do design industrial, já que estávamos mais ligados à área automóvel.
Qual é a ideia primordial por detrás do vosso mobiliário?
TC: A ideia base por detrás do projecto do banco era que pretendíamos um lado práctico e multifuncional ao mesmo tempo. Valorizámos a forma e o material que estamos a utilizar.
Tiago Matos: Utilizar as diferentes funções que o objecto pode potenciar.
O conceito é que seja o mais versátil possível?
TM: Não, depende. Neste caso específico da banqueta, foi criar um objecto dentro desse conceito. No caso do “touch”, por exemplo, a ideia seria criar uma peça com plasticidade, tentar transmitir através da madeira maciça o conceito de flexibilidade, de uma forma contínua que não esta sempre presente neste tipo de material.
Reparei que não trabalharam muito essa mesma madeira?
TM: Exactamente. Achámos que a madeira natural tem muito potencial e pode acrescentar valor visual ao objecto, por isso optámos por manter o seu aspecto.
TC: Nós neste caso só desenhámos, as peças de mobiliários são produzidos pela empresa “wewood”, que faz a produção do nosso design.
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