Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

domingo, 30 dezembro 2012 15:20

Ciclo de dez(l)lembro

É uma iniciativa do cineclube da confederação núcleo teatral de Miragaia, 17 até 23 de Janeiro, pelas 21.30h

Trata-se de uma abordagem cinematográfica diferente, durante cinco dias, o auditório do grupo musical de Miragaia, mostra um ciclo de cinema dedicado aos 24 de Dezembros dos anos setenta, durante a guerra colonial. Segundo uma das cineastas convidadas para deste evento, Margarida Cardoso, “é-me difícil pensar neles como um ciclo, pois era essa a proposta inicial colocada a nós, Cineclube. É uma oportunidade que nos damos a nós mesmos, geração posterior, de tentar perceber esta teia complexa dos Dezembros Coloniais . A minha avó contava-me recorrentemente a história daquele dia 24 de 70’s em que recebeu uma bobine, em que dentro dela vinha meu pai. Esta coisa da distância parece-nos a nós, geração recente, coisa impraticável, Nós queremos, nós temos, (convenhamos que não é assim tão linear, mas quando assim falo, é tentando adivinhar a dor possível da avó Beatriz). A única nova que ela tinha de meu pai era a partir de uma fita castanha, que tão pouco podia ouvir repetidamente, pois não tinha o leitor que lho permitisse, encontrava-se dependente de um corpo reprodutor e de uma alma multiplicadora de saudade(s)” . Este é o mote para um dos documentários  “Natal de 1971” que mostra o retrato das vivencias dos militares portugueses em África, através do registo dessas memorias apagadas pelo regime salazarista. Mostram o país empobrecido e mudo que não punha em causa o designio nacional que exortava os seus jovens a partir para a guerra colonial. Outro dos destaques é o filme de António Pedro de Vasconselos com, “Adeus até o meu regresso”, que descreve alguns dos cenários mais significativos da guerra na Guiné e o destino trágico dos que retornaram com a “mistica paranóica”.

domingo, 30 dezembro 2012 14:57

Curtas flagrantes

São catorze filmes em exibição que pretendem mostrar a versatilidade e talento nacional, nos dias 13 e 14 de Janeiro no centro cívico de Câmara de Lobos. As curta-metragens apresentadas abrangem diversas temáticas da cinematografia e apresentam os novos valores que de pouco fazem muito.

O Curtas Flagrantes funciona como uma plataforma de divulgação de jovens realizadores e profissionais da área, levando a todo o país os trabalhos, que muitas vezes não saem das prateleiras, a percorrer uma viagem de reconhecimento e de descoberta de novos talentos. No decorrer das três edições, que tiveram lugar em 2009, 2010 e 2011, foram exibidos mais de 60 curtas‐metragens em 25 cidades, apresentando 50 sessões em 36 espaços diferentes, contando sempre com bastante adesão por parte do público. Este é um festival que parte da iniciativa de jovens ligados ao sector do cinema e audiovisual e contempla uma vertente de intervenção sociocultural, pois privilegia parecerias com outros dinamizadores culturais de vários pontos do país, permitindo uma maior aproximação dos interessados da área e do público em geral criando assim uma nova rede de comunicação no meio audiovisual.

Na Madeira, esta parceria experimental é promovida pelo núcleo de jovens do Grupo Coral do Estreito e visa dois objetivos: promover a consciência crítica para descodificar os discursos mediados, e propiciar a descoberta da criação cinematográfica por parte dos jovens da freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, explorando o potencial pedagógico do cinema. Uma abordagem visa a sensibilizar os jovens para a arte cinematográfica e para a perceção dos quadros de construção dos discursos mediáticos, e, por esta via, difundir valores fundamentais para o seu crescimento humano, como sejam o trabalho em equipa, a perseverança, a imaginação, o sentido crítico e a criatividade.No âmbito do projeto foram já realizados workshops de fotografia. Neste momento encontra-se em curso as actividades “pequenos grandes realizadores”, em parceria com a Escola Básica e Secundária do Estreito e através do qual pretende-se levar os jovens a terem um primeiro contato com o cinema, proporcionando a possibilidade de aprenderem a fazer a sua própria curta metragem.

http://cineanima.wordpress.com/

http://elemento-indesejado.blogspot.com/

domingo, 30 dezembro 2012 14:54

Extravagante

Os Uxu Kalhus são uma banda que revisitam o cancioneiro português. Venha conhece-los.

As xucalhadas, (um novo leixo que criaram) que ouvimos neste álbum remetem-nos para uma nova abordagem das canções mais tradicionais do cancioneiro português. É um mundo de mestiçagem sonora, que ressuscita as nossas origens ibéricas salpicadas de composições originais e mais actuais. Ao todo são nove os temas a estrear, num CD com onze faixas desta banda que se define como folk tradicional com um travo rock. Extravagante é porta de entrada deste trabalho, uma música tradicional alentejana, associada ao universo vocal masculino transformado pela voz de Joana Margaça. “A saia da Carolina” é outra das pérolas deste trabalho discográfico pelos inusitados arranjos, ousados diria mesmo e o mesmo se pode dizer pela canção “erva-cidreira”, que foi também revisitada pelo grupo. Achei curioso a introdução de um baixo em muitas das canções em contra ponto á flauta e outros instrumentos mais tradicionais. As fusões destas diferentes sonoridades resultam até certo ponto, mas nem todos os temas beneficiam em termos sonoros com tantas alterações. Contudo, no geral é um álbum para as pessoas que anseiam sentir as suas origens musicais com um twist mais moderno e explosivo. Ouça sem preconceitos e deixe-se levar por este universo xucalhado de sons familiares e novos ao mesmo tempo.

domingo, 30 dezembro 2012 14:56

A visão da rita

Rita Azevedo Gomes tem uma longa carreira no cinema, embora tenha realizado e produzido poucos filmes. A vingança de uma mulher, seu mais recente trabalho, foi uma desculpa perfeita para falar sobre ideias, filmes e o cinema no nosso país.

A ideia de adaptar “a vingança de uma mulher” surgiu como? Onde descobriu a história?

Rita Azevedo Gomes: Este texto é um de Barbey D’Aurevilly que esta inserido num livro que é os “Les diaboliques” .  É um conto que li há muitos anos e pensei que filme extraordinário seria. Foi difícil para mim própria adapta-lo, porque o texto é espantoso, não queria de maneira não nenhuma fugir dele e pretendia conservar a escrita do autor. A adaptação para cinema passava de alguma forma por fazer a representação de uma era, embora não fosse um filme de época. Há factos é certo que direccionam nesse sentido, mas não uma vontade minha, podia rever-me no máximo através do imaginário. Eu achei que era um bom ponto de partida fazer uma simulação, daí a ideia do estúdio, porque representa uma mascara, há todo um artifício que serve para compor uma verdade. Houve depois várias tentativas para arranjar condições para filmar.

Escreveu o roteiro do filme naquela altura, ou só recentemente?

RAG: Eu na altura escrevi o argumento e concorri várias vezes a subsídios, não sei quantas vezes, tentei arranjar condições financeiras para arrancar com a produção, porque eu não podia avançar para este filme sem meios, como muitas vezes o fiz, requeria um trabalho de actores prolongado. Eu não podia pedir-lhes que estivessem comigo semanas a fio a trabalhar, porque as pessoas não tem vidas próprias para isso. Depois requeria o estúdio, porque sempre tive essa ideia desde o princípio. Portanto, foi sendo adiado com a hipótese de sempre se fazer até que se reunirem as condições mínimas e fomos avançando. Eu obviamente ia revendo o guião.

Era essencial para o projecto tantas semanas de ensaios antes de filmar? Há uma componente muito teatral?

RAG: Na minha cabeça era. Pode dizer-se que há uma componente teatral, toda a gente diz isso, mas não é uma peça de teatro, nem nunca o autor o escreveu como tal. O que acontece? Eu trabalhei muito o texto com os actores, em particular a Rita Durão. Estes primeiros ensaios foram numa sala, toda esta preparação foi sedimentando algumas ideias, descobri outras que passaram para o filme através das marcações dos actores em cena. Há todo um trabalho digamos semelhante ao que se faz com um actor de teatro, porque não é uma peça encenada, não é com todos os actores, há pessoas quem nem sequer são profissionais também neste filme. Só depois aparece o Fernando Rodrigues que faz de Roberto e com quem nunca tinha trabalhado e gostei imenso, chegou na última da hora e entrou na pele da personagem da melhor maneira possível. Mas, sim há um trabalho diferente quando se tem um actor em frente, porque quando passa para o filme a técnica é outra. Suponho que num teatro há toda uma escola de movimento, gestos e projecção de voz que nada tem a ver com cinema. São vários factores em jogo que vamos procurando, mas foi muito bom em termos de trabalho prévio de preparação e quem dera que fosse mais e então sobretudo, durante a rodagem porque vamos apurando a técnica indefinidamente. O texto é riquíssimo e sugestivo. Os actores trazem, e que não estamos á espera, outros olhares, outras leituras, depois temos os elementos cénicos, do décor, do guarda-roupa e finalmente a banda sonora que de certa forma, permite acrescentar som aqui ou ali e tudo é construído a parte da voz do actor que é gravada em directo.

Quando focava a questão da teatralidade referia-me aos planos estáticos.

RAG: Eu tenho planos longos, mas neste filme por acaso alguns têm estão em grande movimento. É um filme lento. A câmara anda e está dentro daquilo tudo. Não é como num teatro, em que há uma caixa com profundidade em que o espectador escolhe para onde quer olhar. No cinema há uma câmara que vai mostrar o que se pretende, pode ser perto, afastado, é um ponto de vista diferente.

domingo, 30 dezembro 2012 14:55

A natureza invade o reid's

O mês de Maio de 2012 vai ser palco do primeiro Festival de Cinema da Madeira (MFF’12). Uma iniciativa que incide na temática do meio ambiente, mais concretamente na floresta da Laurissilva, como salienta o director deste evento Aitken Pearson. Durante cinco dias a organização pretende mostrar o que de melhor se faz em termos de documentários e curtas-metragens sobre a natureza, no Reid’s palace hotel. Um certame internacional que pretende marcar a diferença pela qualidade dos filmes em competição, pela defesa da natureza, mas que tem também uma forte componente educacional, já que todas as escolas da ilha poderão participar nesta mostra cinematográfica em três áreas distintas.

Qual é o objectivo principal do Festival de Cinema da Madeira?

Aitken Pearson: O Festival de Cinema de Madeira irá decorrer entre os dias 2 até a 6 de Maio de 2012. O objectivo fundamental do festival é homenagear a resistência da floresta laurissilva. Nós vamos fazer uma triagem das candidaturas que estão de alguma forma relacionadas com a natureza, ou tem uma conotação com o mundo natural.

A Madeira já tem um festival de cinema. Há espaço para mais um?

AP: Com certeza. Nós fizemos a nossa pesquisa de mercado e acreditamos firmemente que há espaço para dois festivais em Madeira. O MFF’12 tem lugar numa localização diferente, num período do ano distinto e temos um tema específico, que é a natureza.

Quantos filmes já foram seleccionados para o MFF'12?

AP: Nós ainda estamos no processo de selecção dos filmes. Acho que 90% dos projectos apresentados são de cineastas de todo o mundo. A qualidade é fenomenal. Alguns deles já foram premiados em outros festivais que incidem também na temática da natureza.

Foram submetidos alguns filmes Portugueses?

AP: Sim. Recebemos muitos filmes portugueses. Trabalhos excelentes em termos de qualidade. Eu não quero para já divulgar títulos, mas 40% dos projectos que pretendemos apresentar são nacionais.

domingo, 30 dezembro 2012 14:54

Manô

É uma das comédias portuguesas mais inovadoras no género.

A história de Manô começa num velho armazém que vai ser demolido. Ele é uma personagem de um filme mudo, dos anos 20 que decide saltar para o mundo real, onde conhece uma rapariga por quem se apaixona, mas há um senão. Como sempre não vou descortinar o resto, vou apenas dizer que é uma comédia divertida. Basicamente, o enredo é suportado por três actores, George Felner, Adelaide de Sousa e Diogo Infante. Este último faz um trabalho notável neste filme, é o personagem mais engraçado, pela sua constante má vontade em ajudar o Manô, aliás, não é por acaso que ele continua a ser um dos actores mais requisitados pelo cinema português, devido sobretudo ao seu talento e também pelo seu enorme sex-appeal. George Felner protagoniza e também realiza este filme. A sua personagem por ser muda expressa os seus sentimentos numa linguagem não verbal, através das suas expressões faciais e corporais e embora consiga passar a mensagem, o facto é que não é muito divertido, como seria de esperar. Falta algo que não consigo definir. Como realizador imprime muito movimento ao filme, o que muito bom. Recentemente esta longa-metragem foi adaptada a 3D, sendo a primeira no género a ser adaptada para esse formato. O que proponho, contudo é que vejam o original! Bom cinema!

domingo, 30 dezembro 2012 14:48

O mundo AZ

 azeitonas1

Adoro concertos ao vivo. São um misto de excitação, ansiedade, suor, risos e muitas expectativas. Esperamos sempre que seja melhor do que alguma vez imaginámos. Almejamos tudo, mesmo o que não fantasiamos, o que interessa no fundo é que a nossa banda não defraude as nossas expectativas, ou seja, ninguém quer ouvir apenas o álbum. Se fosse só para isso ficamos em casa. Queremos sobretudo a magia, a garra, a energia e a empatia que se cria a partir do palco. Isto tudo para dizer o quê? Adoro “os azeitonas” e ainda mais ao vivo. Então assistir um concerto do palco foi um caso sério de amor para toda a vida. Por isso venha e aproveite a nossa conversa.

A vossa música remete-nos para outros tempos, das grandes bandas norte-americanas, com muito swing, muitos arranjos, é propositado esse estilo?

Marlon: Calha assim, é o nosso género musical. É o nosso gosto.

Salsa: É um misto das duas, nós escolhemos ou encontrámos músicos com os mesmos gostos que o nosso. Alguns bem escondidos, outros menos, que já tocaram com os “expensive soul” e estão connosco. Arranjámos um ponto comum que é o facto de todos gostarmos dessa música escondida, que é mais antiga.

Quando lançaram o vosso primeiro álbum ocorreu-vos que o vosso estilo musical estava direcionado apenas para um público muito específico?

M: Não pensámos muito nisso, sinceramente. Gostámos de fazer música e esperámos a reacção do público basicamente. Não pensando que íamos fazer este género musical para um tipo de pessoas, vamos fazer a música de que gostámos e aguardámos pela reacção das pessoas e ver quem é que gosta e quem é que não gosta.

Quais foram as vossas expectativas dos álbuns seguintes, em relação ao sucesso do “um tanto quanto atarantados”?

Salsa: O primeiro teve sucesso? (risos)

M: O primeiro é sempre o primeiro. Foi uma primeira experiência. Fazer um álbum já foi um sucesso, não o íamos fazer, nunca pensámos em gravar um álbum, foi uma novidade para todos gravar em estúdio, nesse aspecto estávamos um pouco “verdes” ainda, no segundo álbum houve um salto qualitativo, uma maior maturidade e aprendizagem. Nunca pensámos muito á longo prazo, ou atingir um determinado público, fazemos sim a música de que gostámos e mais uma vez, foi esperar a reacção do público.

Nena, como é ser a única mulher no meio destes homens?

Nena: Normalmente é fácil, mas prolongando-se muito tempo, as vezes falta-me o convívio feminino e fico maluca! (risos)

Marlon: Fica à procura de uma amiga!

N: Sim! É uma fêmea, vou ter com ela! (risos).

domingo, 30 dezembro 2012 14:53

A noiva

É um pequeno esboço de um filme de terror

Este trabalho de Ana Almeida tem um tema recorrente do dito cinema de terror, que é o de um espírito insatisfeito com sede de vingança, que mata indiscriminadamente. A inovação está na forma como filma está história, com planos inusitados, como é o caso da imagem sobranceira do automóvel e dos dois jovens que no final se deparam com o corpo da jovem. Esta noiva inspira um certo suspense e dá ideia de estar inacabado, ou seja, o final seria afinal um ponto de partida, o princípio de uma investigação, ou o prelúdio de uma carnificina, ficámos sem saber. O que aconteceu ao namorado? Ou estaria ele envolvido no crime? Há muitas questões e poucas respostas. Merecia mais esta pequena curta-metragem. Merecia mais tempo para desenvolver uma ideia que me parece deveras interessante. Considero que se houvesse espaço criativo, financiamento e um guião consistente esta noiva poderia transformar-se numa longa-metragem de grande intensidade dramática e iria atrair muito público. Se a memória não me falha, há poucos ou quase nenhuns filmes de terror, ou thriller policiais, o que é um dado curioso no cinema português, mais, só os mais jovens cineastas é que porventura se aventuram neste campo da cinematografia, já que em termos de curtas-metragens há imensas no género. É pena! Fica contudo, o trabalho de Ana Almeida que nos apresentou esta noiva deveras perturbadora. Bom cinema!

http://filmesportugueses.com/a-noiva/

domingo, 30 dezembro 2012 14:50

Bernardo, o renascentista

Bernardo Nascimento escreveu, realizou e produziu um pequeno filme que reflecte as suas raízes insulares. North Atlantic é a singela história de dois homens que não se conhecem, eles próprios ilhas em si mesmos, isolados do mundo, com o oceano como único ponto de ligação. Um universo que versa as influências das suas origens e que venceu o seu 10º prémio, na categoria de curtas-metragens, no Funchal International Film Festival.

Este é o teu primeiro trabalho cinematográfico. Gostaria de saber se o ser ilhéu teve influência na escolha do tema?

Bernardo Nascimento: Teve toda a influência. O guião tem por base eventos reais a partir dos quais criei uma história. Li algo semelhante que se passou nos Açores - foi mais um dos muitos artigos que eu guardei a pensar que um dia daria um filme -  e a poesia do encontro entre aqueles dois homens seduziu-me. Na altura, até estava a trabalhar noutro guião mas descobri uma solução para filmar os planos do avião e isso entusiasmou-me. Fiquei a pensar nisso e mais tarde enquanto tocava guitarra sozinho decidi que o filme teria música, o que na história original não acontece. Portanto, foi uma notícia do jornal, a ideia da animação para os planos exteriores e o meu background como músico, ou seja, juntei estes elementos todos, depois fiz mais pesquisa, encontrando várias histórias semelhantes e usei elementos de várias tentando preservar a poesia do encontro. A intenção não foi documentar uma história concreta.

E onde encontrámos o factor ilha?

BN: Há uma identificação geográfica entre as personagens. Um é ilhéu e outro provém de uma vila piscatória na Escócia. Há um identidade geográfica em todos nós, que é em mim muito importante, não falo do aspecto socio-cultural, falo mesmo da nossa relação com a natureza, neste caso com o mar, que é difícil de explicar, inclusivamente a mim próprio. Esta história tinha esse aspecto que me seduzia, ecoava em mim. A história é sobre a solidão, o isolamento das personagens. Os homens enquanto ilhas eles próprios. É um paralelismo entre os isolamentos antropológico e o geográfico se quiseres. Tem a ver com as minhas raízes, e foi ainda a oportunidade de fazer um filme falado em português e inglês. Sempre fui “muito emigrante”, vivo em Londres há sete anos e foi lá que consegui meios para fazer este filme, pelo que foi interessante encontrar uma história entre um português e um escocês e que fosse bilingue.

Como é que se consegue por em marcha um projecto desta natureza?

BN: Quando tive a ideia da música, escrevi o script de um dia para outro. Foi muito rápido, depois concorri para um subsídio para guião em Londres, ganhei, recebi cerca de 3 mil euros, que é muito pouco dinheiro mas serviu como arranque…

A ideia inicial foi sempre ser uma curta-metragem?

BN: Sim, foi sempre esse o objectivo. Eu sabia que queria fazer uma curta-metragem, porque era mais controlável, mais barata e serviria como cartão da visita para uma longa-metragem, que é o que quero mesmo fazer. Consegui esse financiamento e com muita ajuda de amigos arrancámos para a produção. Trabalhei na área durante dez anos, como assistente de realização, mas este era o primeiro trabalho criativo que assinava. O meu objectivo, mais do que venda era a exposição nos festivais e depois a venda para televisão, video on-demand, seja o que for. Ambas as coisas tem corrido muito bem.

domingo, 30 dezembro 2012 14:48

Os sonhos de sofia

Ela é uma cidadã do mundo que quase por acaso nasceu portuguesa. Escreve por um impulso interior que a levou a criar uma das curtas-metragens em competição no Funchal Internacional Film Festival’11. Sofia Caessa é também a mente por detrás do projecto little film academy. Venha daí conhece-la.

O que te levou a escolher o tema do “Should the wife confess”?

Sofia Caessa: Estava a trabalhar para uma revista, onde escrevia artigos sobre casais multi-culturais, eram pessoas que não conseguiam comunicar muito bem verbalmente. Tinham uma barreira linguística, conseguiam faze-lo de outra forma. Escolhiam a cidade de Bruxelas porque era território neutro e assim conseguiam uma forma de comunicar e de se entenderem. Eu sempre gostei muito de outras culturas e fiquei entusiasmada com essa ideia. Eu fui para esta cidade com o meu companheiro, dois portugueses nesta cidade, não é nada de invulgar. Comecei a pensar na comunicação entre duas pessoas, ela é baseada em quê? Na língua? Em comunicar e falar as mesmas palavras? Ou tem a ver com uma comunicação interior?

Mas no filme focas esse fosso cultural, essa diferença que os separa?

SC: Não isso fica em aberto. Nem se percebe, porque o personagem masculino, o marido, fala um pouco, mas não suficiente para se saber se são do mesmo país, da mesma cultura ou se são opostos. A ideia é que sendo do mesmo país, da mesma cultura, ou falando a mesma língua, se a comunicação interior não estiver presente, não há nada, não interessa usar as mesmas palavras, as mesmas expressões, se não houver essa ligação. Sem comunicação não há nada, foi daí que surgiu a ideia. Tenho a tendência de escrever coisas mais cómicas, mais irónicas. Esta curta tem esse vertente, um lado mais irónico.

Quando idealizastes este filme, o conceito era produzir uma curta-metragem?

SC: A ideia foi e talvez ainda seja fazer parte de uma trilogia sobre comunicação entre casais. Esta é a primeira, que é falta de comunicação. A segunda seria infidelidade e a terceira seria resignação. É a evolução de uma relação ao longo do tempo. Este primeiro filme tem um casal com 30 anos, o segundo seria de 50 anos e o terceiro seria de 70 aos 80 anos. Sigo o percurso cronológico dos casais. Essa seria a ideia e a intenção, mas quando não se tem financiamento, fica tudo em stand-by.

Achas que é essa a realidade do cinema actual português ou mais europeu?

SC: Eu não conheço muito bem a realidade em termos de financiamento para jovens cineastas. Sei como consegui produzir a minha curta. Eu quis faze-la. Era importante para mim levar o projecto em diante. Na altura estava a trabalhar para uma revista e entrevistei, o François Schuiten, ele desenha graphic novels, em português creio que se intitulam “ cidades obscuras”, foi falar com ele, porque renovou uma casa de Victor Horta, um arquitecto belga e transformou-a num museu, mas também numa espécie de casa cultura, com concertos, exposições, etc. A casa Autrique situa-se num bairro menos bom da cidade de Bruxelas, menos visitado pela comunidade internacional. Como a revista estava direccionada para esse tipo de público, eles queriam dar mais destaque a sítios que fossem interessantes e fora dos bairros mais populares e turísticos, onde as pessoas por norma circulam. Eu fui entrevista-lo e no final perguntei-lhe se eles aceitavam projectos. Ele disse que sim, bastava enviar o dossier e era avaliado. Na semana seguinte enviei os documentos a pedir que nos cedessem o espaço para as filmagens. Passados poucas semanas tivemos o aval para usufruir da casa. É um edifício lindíssimo, inspirado em art noveau ao nosso dispor. Não aproveitar isso seria crime. Na altura também estava em contacto com o director de fotografia e produtor, também ele português, que tinha muito equipamento. Ele precisava de uma longa-metragem escrita em inglês e assim fizemos uma troca de serviços. Eu e o Bernardo Camisão escrevemos um guião e ele em troca, cedeu-me o material e no final foi co-produtor.

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