Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

domingo, 30 dezembro 2012 14:21

Jangada de pedra

É um filme baseado numa das obras de José Saramago. Uma adaptação para o cinema de uma fábula, de um sonho do escritor.

E se um dia se abrisse uma enorme fenda e a Península Ibérica se separasse do resto do continente europeu? Quem seríamos nós? A Ibéria é uma fábula encantada imaginada por José Saramago, a famosa jangada de pedra à deriva pelo Oceano Atlântico, que foi transposta para a tela de cinema pelo realizador George Sluizer. O filme é a adaptação do livro do prémio Nobel, protagonizado pela actriz Ana Padrão, Diogo Infante e Federico Luppi entre outros. Esta adaptação é no mínimo curiosa pela heterogeneidade cultural. Trata-se de um filme falado em espanhol, protagonizado por portugueses, argentinos e espanhóis, com um director holandês, engraçado não é? Imaginem o realizador a tentar transmitir um conceito a um elenco tão diverso? Contudo e contra todas as expectativas, o filme é muito pouco interessante e desvirtua a obra literária de José Saramago. Gosto muito do trabalho da Ana Padrão, mas em particular do Diogo Infante. Este actor, para além de ser uma brasa e um dos mais bonitos de Portugal, (perdoem-me o à parte, mas ele merece), é também um dos mais talentosos da sua geração. E neste filme se destaca pela sua interpretação bem conseguida.  O mesmo não se pode dizer do resto. A Jangada de Pedra é uma obra muito complexa e cheia de simbolismos que se perderam um pouco pelo caminho, tal qual o famoso fio do novelo que aparece no filme. De facto é um trabalho titânico passar as ideias subjacentes do autor e transpô-las para o cinema, se calhar há publicações que simplesmente não se conseguem adaptar. A jangada de pedra deve ser uma delas, se pensarmos bem, é extremamente difícil espremer em duas horas o essencial da mensagem desta obra. Valeu pelo esforço.

domingo, 30 dezembro 2012 14:15

Um regresso ao passado

Hugo Reis nutre uma paixão pelos registos da ilha da Madeira. Possui uma colecção com 70 filmes que mostram o quotidiano dos ilhéus no século passado. Um espólio que pretende preservar e mostrar aos madeirenses.

Como surge está colecção?

Hugo Reis: Ninguém coleccionava filmes, eles estavam esquecidos. De imagens há muitas pessoas a coleccionar. Eu verifiquei, através da internet, que muitos particulares, alguns até comerciantes que tinham à venda este tipo de material, seja no ebay, seja em outros sites. E verifiquei que poderia adquirir estes filmes por quantias insignificantes, outros nem tanto, cheguei a pagar mil euros por cinco minutos de filme da Madeira, só para dar uma ideia. O facto que me levou a coleccionar filmes é por tratar-se de um tipo de registo de imagens em movimento da Madeira. Se tivermos em conta que a RTP Madeira só surgiu em 1972, para atrás não existe, o pouco que existe tem de ser preservado. Este tipo de filme degrada-se com facilidade se não for digitalizado para um suporte que o conserve, senão perde-se para sempre.

Digitalizou então todos os filmes que foi adquirindo ao longo do tempo?

HR: Todos não. Apenas 40% da colecção tenho ainda o restante por digitalizar. Tenho cerca de 70 filmes, entre celulóide, película e bobines. Muitas delas poderão até não ser exclusivamente imagens da Região, poderá ter Canárias e Marrocos, até porque eram registos feitos por turistas de passagem, alguns dos cruzeiros paravam cá e depois seguiam para outros destinos. É claro que filmavam um pouco a ilha e também os restantes locais. Ao adquirir estas imagens, tenho de comprar o filme todo, já que apenas uma secção é impossível devido a fragilidade e estado de degradação da própria fita. Esses filmes são rudimentares, alguns datam de 1920-30, tanto na parte de focagem como de exposição, não havia mecanismos automáticos, era tudo feito pelo operador da câmara. O processo de revelação era muito caro, também nessa altura. E muita pouca gente tinha acesso a esse tipo de equipamentos. Como deve imaginar as imagens da Madeira eram muito poucas e a maioria já se perdeu para sempre.

Porquê?

HR: Na maioria dos casos os herdeiros deitaram fora porque não tem qualquer interesse em ficar com eles, ou estavam já num tal estado de degradação que não tinham valor comercial.À partir do ano 1996, com o advento da internet, abriram-se várias portas que permitiram adquirir esses filmes, possibilitou que as pessoas em qualquer parte do mundo, em vez de os deitarem fora ponham à venda online. É claro, que o meu interesse é adquiri-los para os preservar e que outras pessoas os possam ver. Gerações de madeirenses que ainda não tinham sequer nascido.

Sempre teve esse interesse pelo coleccionismo?

HR: Eu colecciono tudo o que tem a ver com a Madeira, em termos de imagens. Também colecciono fotografias da ilha, deve ser a seguir dos Vicente’s, uma das maiores colecções particulares da Região. A maior parte das imagens são amadoras, ou seja, não provém de fotógrafos profissionais da altura, tipo Perestrelos, Camachos, etc. Isso quer dizer que eram tiradas por pessoas vulgares que passaram pela ilha. Se fossem deitadas para o lixo perdiam-se. Umas mostram o carro americano que existia naquele tempo e que pouca gente sabe que existiu. Não são as típicas fotografias de postais antigos que estamos habituados a ver. Vai mais além disso. O que me interessa é esse tipo de imagem amador, porque captam o que é mais significativo, são únicas. Se desaparecer, o negativo, ou o suporte selado, perderam-se para sempre.

 

domingo, 30 dezembro 2012 14:10

Viúva rica solteira não fica

É uma longa-metragem assinada por José Fonseca e Costa sobre a vida de uma mulher que enviúva mais vezes do que deveria.

O filme “viúva rica solteira não fica” conta a história de dona Ana Catarina que regressada do Brasil acompanhada pelo seu pai, casa com um homem que não conhece e acaba logo de seguida por enviuvar duplamente, já que morrem quase em simultâneo o marido e o pai. Esta infeliz coincidência faz dela uma mulher rica e descomprometida que é um natural alvo da cobiça masculina.  A premissa deste enredo é o mote para uma comédia de época que  diverte pela originalidade do guião. É um filme acima de tudo que entretem com grande estilo. A prestação da actriz brasileira, Bianca Byington,  a protagonista, cria essa sensação de leveza através de uma persongem que vai enviuvando ao longo do filme. Uma criatura perversa com cara de anjo. As personagens secundárias protagonizadas pelo sempre magnífico José Raposo e a Cucha Carvalheiro, respectivamente o padre Palácios e a ama Mariana compõe um trio que de santos também não tem nada. O cinema de José Fonseca e Costa que realizou e escreveu o guião deste filme, é sempre um acontecimento, devido à destreza quase teatral que imprime ao filme. É um tipo de cinema novo, pelo posicionamento dos actores em frente das câmaras e pelos planos que intercala para criar a ideia de movimento. Sendo um cineasta quase maldito no nosso país, muito derivado as suas opiniões críticas sobre o cinema que se faz em Portugal e em particular, as instituições públicas que supostamente apoiam a sétima arte, José Fonseca e Costa filma muito pouco, segundo declarações proferidas numa homenagem que teve lugar no Fantasporto, “filma o que lhe permitem filmar”, o que na minha opinião é uma pena. Este filme pode não ser a sua maior obra prima, essa fica para uma próxima vez, mas é sem dúvida uma das mais divertidas. Bom cinema!

http://filmesportugueses.com/viuva-rica-solteira-nao-fica/

domingo, 30 dezembro 2012 14:04

O pré-island doc

Trata-se do ano zero do primeiro festival documental realizado na ilha da Madeira. O homenageado foi o cineasta, fotografo e pintor, William Klein, um dos mais influentes e controversos artistas do século XX, mas o projecto tem objectivos mais audaciosos já que pretende diferenciar-se pela busca da componente ilha nas próximas edições e uma aposta nos jovens cineastas do género documental.

Faz sentido mais um festival de cinema documental?

Henrique Teixeira: Eu acho que faz todo o sentido porque a Madeira tem que acompanhar os tempos modernos deste mundo global, existe uma lacuna no género documental e faz todo o sentido, porque você vê que existe um público que pretende assistir a este género cinematográfico. Isto é só o princípio mesmo, nem vou considerar esta a primeira, é uma edição zero. É experimental e tocar público leva algum tempo.

Então é necessário educar público português para assistir ao documentário?

O madeirense não está habituado. O documentário não chega as salas de cinema comerciais, se não fossem os festivais as pessoas não tem acesso a eles, a não ser em versões esporádicas de DVD, mas ver um documentário em casa é uma coisa, e vê-lo numa sala de cinema é outra, que é o local próprio para ver cinema. De maneira que os festivais de documentário estão a crescer no mundo porquê? Porque a audiência também cresce, o maior índice de audiência de todos os festivais que existem é o Doc.Lisboa, portanto eu penso que a Madeira não deveria deixar-se para atrás. É claro que fazemos tudo a medida da escala. Da escala da ilha. Eu fico muito satisfeito finalmente poder dizer que tem um festival de cinema documental. Não estou minimamente preocupado se tem muita, ou pouca adesão do público. O que tenho a certeza é que existe 100% de interesse por quem vier procurar este género de eventos.

Mas, o que vai diferenciar dos outros festivais do género?

Existe essa estratégia, não nesta edição de arranque. Existe um conceito que vamos agarrar e construir no futuro. E passa pela própria designação do festival queremos documentários em ilhas e chamar o conceito de ilha ao conceito de cinema documental. O tema é muito abrangente. O lado da emigração tem muito de ilhas. Falar de pesca e de isolamento isso implica situações sociais. Existem muitas ilhas no mundo e a produzir cinema documental e muitos festivais em ilhas e a Madeira não tinha e agora já têm.

Vai haver uma maior aposta em documentários nacionais, como foi o caso desta?

Tem que haver, até porque a produção do género documental em Portugal é de alta qualidade a julgar pelos prémios obtidos pelo mundo fora. Aqui vamos ter alguns exemplos disso. Temos o filme do Filipe Ferraz, “o Rock on Tchaikovsky”. “O pare, escute e olhe” foi um êxito de bilheteira e muito premiado lá fora. Vai ter também o objectivo e o dever de apoiar os jovens cineastas madeirenses, que são poucos. Quero que sintam que podem faze-lo, pode-se documentar muita coisa e só necessitam de uma câmara digital para filmar com alta resolução. Basta criatividade, não precisa de direcção de actores, nem grandes produções ao nível da fotografia.

domingo, 30 dezembro 2012 14:03

Aquele querido mês de agosto

Um dos documentários mais premiados do cinema português, que retrata a vida de uma aldeia no verão, que coincide com o regresso dos emigrantes.

O documentário de Miguel Gomes é o retrato actual do Portugal do interior, que ganha um novo fôlego com a chega dos emigrantes, durante o mês de Agosto. As aldeias da Beira e não só, ao longo do ano, são legados fantasmagóricos de um país envelhecido e do êxodo das populações para o litoral em busca da uma vida melhor. Excepto no mês de Agosto, período das romarias dedicadas aos santos padroeiros e de festas do concelho que coincide com a chegada dos emigrantes de França. O retrato de um país, que acompanha uma banda de música e as relações sentimentais entre os membros do grupo.

É um biopic da nação profunda, que ressuscita durante um determinado período do ano. Quem já não dançou num desses bailaricos? E Bebeu vinho numa dessas adegas particulares na companhia de amigos e vizinhos? Aquele querido mês de Agosto é a segunda obra do realizador Miguel Gomes, resultado de uma produção que sofreu altos e baixos financeiros, típicos percalços de um filme made in Portugal. Mas, que compensou em termos de guião e montagem.

http://filmesportugueses.com/aquele-querido-mes-de-agosto/

domingo, 30 dezembro 2012 14:02

O filme da treta

É uma comédia sobre dois dos bons malandros mais famosos de Portugal, o Zéze e Toni. Um filme com muitas peripécias protagonizadas pelos dois maiores cromos da cidade de Lisboa.

O filme da treta foi o segundo maior êxito de bilheteira no nosso país, com cerca de 279 mil espectadores que foram ao cinema para ver ou rever as desventuras destes dois bons malandros, o Zezé e o Toni, respectivamente, os actores José Pedro Gomes e o já infelizmente desaparecido António Feio. Estes dois comediantes protagonizaram sem dúvida uma das maiores duplas do panorama artístico português. Esta comédia com realização de José Sacramento resulta da transposição para cinema de uma paródia radiofónica que, resultou por sua vez numa peça de teatro que esteve anos em cena um pouco por todo o país, tal era o êxito destas duas personagens muito sui generis junto do público português.  Eu escolhi este filme, porque quero prestar uma homenagem a estes dois monstros sagrados do teatro português, e afirmo-o com convicção, porque ao longo dos anos tive o prazer de vê-los em palco em mais do que uma ocasião.

A versão cinematográfica da conversa da treta infelizmente deixa muito a desejar, na minha opinião, foi uma confusão. Os sketches eram em demasia o que criava uma certa dessintonia no decorrer da acção, foi demasiado para aquelas duas horas de cinema, menos teria sido melhor. O argumento de Filipe Homem Fonseca e Eduardo Madeira perdeu-se algures nas várias encenações que assistíamos ao longo do filme, o que deixou um certo sabor a decepção para quem já tinha assistido as peças de teatro e a série filmada para a televisão. Qual foi o sucesso desta dupla? Era a grande conversa que eles tinham sobre as idiossincrasias da vida, do seu quotidiano e da política em Portugal. Tudo isto perdeu-se pelo caminho. Teria sido mais producente ter havido menos “bonecos” e mais diálogos engraçados. O filme só teria a ganhar, já que o resto ficava nas mãos capazes de dois dos maiores comediantes de Portugal.

O mais positivo, para além de José Pedro Gomes e António Feio, foi o trabalho dos actores secundários. As composições de Marco Horácio, Maria Rueff , do João Raposo, António Melo e Rui Paulo são de louvar, pela qualidade que estes também comediantes demonstram e que compõe o resto dos “cromos” que fazem parte do universo de Zezé e Toni.

http://filmesportugueses.com/filme-da-treta/

domingo, 30 dezembro 2012 14:01

Um tiro no escuro

É um filme sobre amor, perda e traição tudo girando à volta do rapto de uma menor. Uma história com um grande cariz psicológico que não deixa ninguém indiferente.

O argumento de “um tiro do escuro” é um tema recorrente dos nossos dias e que inundam as páginas de jornais, no caso do texto de Jorge Almeida e João Nunes, o que mais aprecio neste filme é a tensão psicológica e moral com o qual o personagem de Joaquim de Almeida tem de conviver fruto de um acontecimento que vai alterar por completo o rumo dos acontecimentos da sua vida. É um excelente papel para este actor, com uma já longa carreira internacional, e que foi pensado para ele. A sua interpretação de este agente da polícia judiciária, o Rafael, mereceu até uma distinção, a meu ver merecida, porque ele é talvez a personagem mais complexa de todo o filme de Leonel Vieira. Ele, ama uma mulher que cometeu um crime de subtracção de menores e sabe o que tem de fazer como agente da Lei, mas ao mesmo tempo sofre porque tenta compreender o motivo que a levou a cometer esse crime. O contra-ponto é a personagem de Margarida Marinho, a hospedeira da TAP, e uma das minhas actrizes portuguesas preferidas. O trabalho dela neste filme é como um bolo por camadas. Ela, ao princípio, parece uma pessoa equilibrada, confiável até, mas a medida que o tempo passa vamos descobrindo outras facetas da sua personalidade mais obscuras, no final olhando para o conjunto deparamo-nos com uma pessoa com um grande desequilíbrio emocional que a leva a raptar uma criança. Vanessa Machado é o outro lado deste triângulo que vai fazer de tudo para recuperar a sua filha. Esta actriz desconhecida do público português faz a sua estreia neste filme de forma auspiciosa. O Ivo Canelas completa um ramalhete de actores de grande qualidade, na pele de um bandido, um papel aliás que lhe fica a matar se me permitem a expressão. O trabalho de realização de Leonel Vieira é seguro, na medida em que o filme tem um grande cadência que não esmorece á medida que a trama ganha contornos mais dramáticos. O facto de Joaquim de Almeida já ter participado em outros projectos cinematográficos do realizador, é uma mais-valia, ambos criaram já uma relação de entendimento que faz com que possamos assistir a grandes actuações do actor e que beneficiam em muito o filme.

http://filmesportugueses.com/um-tiro-no-escuro/

domingo, 30 dezembro 2012 14:00

Atrás das nuvens

Um filme de Jorge Queiroga sobre a aventura de um rapaz que decide encetar uma viagem para conhecer o seu avô. E acaba descobrindo algo mais…

É um filme ternurento, porque tem um tema delicioso que é tentar descobrir a justificação da nossa existência, não a minha, claro, a do Paulo. Este rapazinho sente esta ansiedade que não consegue aplacar, uma ânsia por si mesmo e para encontrar algumas respostas o que ele decide fazer? Faz uma viagem física para encontrar o avô paterno e descobrir as respostas às perguntas que quer formular sobre o seu pai.

Depois temos a outra travessia, que também é uma viagem, só que mágica onde ele começa a aprender algumas coisas sobre a sua família e sobre si mesmo. É um encontro espiritual, porque apesar da sua tenra idade ele tem a noção que para saber quem é precisa de conhecer a história dos seus pais, antes da sua existência. Gosto deste filme porque me lembra o quão, por vezes, muitas vezes, omitimos a verdade com a justificação do amor que supostamente evita dores maiores. E até pode ser verdade, só que bem ou mal, a verdade acaba por vir ao de cima e aí temos que enfrentar as consequências. Aqui, no filme tal não acontece, de forma abrupta e crua. Em “atrás das nuvens” mergulhamos mesmo fundo na fantasia e fazemos uma viagem muito especial de descoberta pela vida do Paulo e do avô. De como dois estranhos encetam uma ligação que durará para toda a vida. Gosto deste filme porque tem uma mensagem de esperança e porque tem um carro voador. Bom cinema!

http://filmesportugueses.com/atras-das-nuvens/

domingo, 30 dezembro 2012 13:59

Vou para casa

Um filme do incontornável Manuel de Oliveira sobre a idade maior. Uma visão pessoal sobre a vida de um actor no final de carreira, com a prestação do magnífico  Michel Piccoli.

Falar de “vou para casa” é falar do cinema muito pessoal de Manuel de Oliveira. Este filme narra a história de um actor numa fase descendente da sua vida. É o percurso do homem que perdeu quase tudo, o filho, a família, alguns amigos, a quem nada mais resta senão o neto. É a sua esperança, sua tábua de salvação e é a ele que se agarra para não mais se perder na sua dor.  Escolho este filme porque traça a história de um homem que se apercebe das suas fragilidades fruto do tempo e nem assim se dá por vencido. Não é um filme fácil eu sei. Já estão a pensar, mais uma seca do Manuel de Oliveira. Pois é. Para acabar de uma vez por todas com essa típica frase associada ao centenário homem, eu vou fazer minhas as palavras do meu professor de televisão, de sobrenome também curiosamente, Oliveira que explicou numa aula de forma simples a genialidade do cineasta e creio que muitos já o devem saber.

Manuel de Oliveira usa apenas uma câmara por sequência de cena. Vou passar a explicar e a culpa é dos americanos. Vejamos o caso de Steven Spielberg, este cineasta o que faz? Coloca várias câmaras nos pontos mais impossíveis e inimagináveis para filmar uma única cena. Depois, todos aqueles pequenos segmentos são montados numa única cena que resulta na tal perseguição infernal que nós tanto gostamos e a uma velocidade alucinante, porque a ideia de rapidez resulta desses vários pontos que foram previamente filmados, cortados e colados. Que faz o nosso cineasta mais incompreendido? Para a mesma cena, coloca uma única câmara e são os actores que interagem entre si, num único espaço, perante a lente. O resultado é uma sequência que parece lenta porque estamos já habituados a velocidade imprimida pelo senhor Spielberg e os seus congéneres.

E se o tempo parece que não passa nos filmes de Oliveira, recordemos o nosso próprio quotidiano. Se eu filmar todas as acções do meu dia, com uma câmara, sem cortar qual é o resultado final? Não é um Oliveira com certeza! Mas, também não é uma obra-prima alucinante. E esse é outro lado do génio de Oliveira, ele obriga-nos a ter a noção do tempo. O tempo passa como tem de passar, devagar e certo. E recordo sobre este tema, do tempo que passa, um livro de Umberto Eco, “ o nome da rosa”. É a história de um monge franciscano muito especial, que tenta descobrir o autor de uma série de mortes num mosteiro, mas onde se pode estabelecer a analogia com Oliveira? Em termos de noção temporal, o autor, descreve por capítulo apenas uma parte do dia do quotidiano dos frades, porque como ele próprio refere no prefacio, na idade média o tempo era medido pelo nascer e pôr-do-sol. Tinham um sentido de urgência menor. Vivia-se mais. Agora nos nossos dias, corre-se mais contra o tempo. Percebem, agora o Manuel de Oliveira? Os seus filmes quaisquer que sejam são para serem saboreados como um bom vinho. Calmamente e sem pressa. Exorto-vos a redescobrirem o cineasta, só que desta feita sem o comando na mão e sem levantar-se da cadeira. Vão ver que vão gostar. Bom cinema!

http://filmesportugueses.com/vou-para-casa/

domingo, 30 dezembro 2012 13:44

Imaginário 2013

É mais uma interpretação das tendências para a primavera-verão que deixo como sugestão.

Uma das grandes apostas, na moda, são as riscas, literalmente inundaram as passarelas, refrescando o olhar de quem as via passar, é a melhor forma de anunciar ao verão, em tecidos leves, quase flutuantes e que nos deixam até bem-dispostas por antecipação. Um dos bons exemplos desta tendência são as colecções de João Melo e Costa e Teresa Martins.

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