Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

domingo, 30 dezembro 2012 11:41

Tiago na toca

É uma compilação, uma homenagem do músico aos seus poetas amados.

Não é um disco, ou um livro, ou um personagem é um segredo bem guardado que se soltou, como o diz o próprio cantautor deste projecto, Tiago Bettencourt. Ele impôs-se o desafio de gravar poemas de poetas antigos, ajudado por amigos que convidou para cantar e com ilustrações de Mário de Belém no livro em anexo. Digamos assim, é um tesourinho musical. É um dois em um. Ouve-se a melhor poesia portuguesa musicada por este prodígio discreto. O título faz jus a este trabalho discográfico. É algo de tão íntimo que me traz à memória a anatomia da errância de Bruce Chatwin. Parece que nada a tem a ver, mas permitam-me discordar. A gruta do escritor britânico, é a toca do português, onde tudo faz sentido e nada é supérfluo. Como este disco. Voltamos aos elementos essenciais, a voz e um piano. As palavras e uma guitarra. Não se trata de um trabalho solitário, é feito das várias solidões dos poetas que a descreveram. É único e recria muitos temas conhecidos do público. Ouça! E… não pirateie o disco ao pedido do artista, já que as vendas revertem a uma organização de índole social. Mas, faça-o sobretudo, pelo respeito que merece este magnifico trabalho. Para mais tarde recordar.
www.ajudamewww.ajudameaajudar.org

domingo, 30 dezembro 2012 11:38

O recriador de sons

Reflicta por instante, o que é música? Já pensou? Pois, não tem nada ver. Jerome Faria, mais conhecido por NNY, desconstrói o nosso conceito sobre sons, cadências e ritmos criando uma nova tonalidade musical mais abstracta que se traduz numa experiência auditiva inusitada. Uma viagem com texturas e nuances que se faz acompanhar por imagens. Confuso? Nem tanto, basta ouvir e deixar-se levar…

Fala-me sobre o teu percurso musical.
Jerome Faria: Essencialmente comecei mais ou menos como os adolescentes começam, tocando guitarra e bateria em bandas de garagem. Entre os 16 aos vinte anos, fiz parte de vários grupos, desde rock, heavy mental e até participei em arraiais. Tocava piano, baixo, guitarra, consoante as necessidades. Entretanto em 2003 comecei a interessar-me pelo computador como ferramenta de produção. Aí comecei a explorar mais as possibilidades que existiam com o som, como matéria-prima para além do conceito de música como canção, ou pelo menos a estrutura tradicional.

O teu trabalho tem uma forte componente visual. Quando é que começou a fazer sentido inserir imagens nas tuas apresentações musicais?
JF: Eu previamente já tinha um interesse pela imagem antes de começar a trabalhar em música e dada a natureza abstracta dos sons com que trabalho achei que era um auxiliar interessante principalmente na Madeira. É um tipo de música que é pouco comum, pareceu-me uma boa ideia associar a imagem como representação visual com o que estou a fazer. As imagens que uso são reactivas, ou estão de uma maneira que as pessoas se podem aperceber mais facilmente da influência desses padrões. Acaba por ser mais interessante para quem não conhece, se deixar prender pela imaginação ao ver imagens e uma representação visual da música.

Fazes recolhas de sons na natureza antes sequer de criar estas novas tonalidades?
JF: Sim, mas não posso dizer que exista um processo fixo. Eu tanto posso usar instrumentos musicais, como a natureza e ruídos do dia-a-dia.

Como inicias esse processo criativo?
JF: É mais um processo de pesquisa e aprendizagem. Procurar uma nova técnica, um novo sintetizador, qualquer coisa que me permita adquirir um novo conhecimento. Os resultados acabam por sugerir outras ideias e misturo gravações anteriores com as actuais. Muitas vezes tento reproduzir sinteticamente um som natural, tento faze-lo a partir do zero. Ou mesmo do dia-a-dia e tento desconstrui-lo, ou decompor até ser uma coisa completamente diferente. É esse o processo de experiencia que acaba por sugerir ideias e depois é uma questão de intuição.

domingo, 30 dezembro 2012 11:36

Guia

É um dos grandes trabalhos do cantor António Zambujo, que vale a pena ouvir.

Sinto uma fraqueza quando este homem canta. Derreto-me com esta voz tão quente e cálida, que aquece os corações numa noite de inverno em frente à lareira, com o seu indelével aroma a fado. O álbum guia é um louvor ao talento deste cantor de que pouco se houve falar, talvez porque aborda este estilo musical tão português de forma tão inusitada. António Zambujo interpreta vários géneros neste disco, aposta em diferentes tipos de arranjos, que conferem a este trabalho uma melancolia inesperada. O zorro de espada e capote é uma interpretação estonteante e granjeia todos os objectivos possíveis e imagináveis, o Luís Represas que me perdoe, mas o AZ é simplesmente divinal. É do tipo de melodia que deve ser sussurrada ao ouvido de alguém amado agora e sempre. A deusa da minha rua, do músico brasileiro, Nelson Gonçalves, é outro dos temas que merece um ouvido atento, a letra é deliciosa, uma ode aos românticos. Outra pérola é a canção reader’s digest, não, não é a publicação, mas um tema que interpreta com a ajuda da trompete de Laurent Filipe. Termino com as quatro luas e o mesmo se pode dizer de a vida é bela, neste fado quase nos basta a sua entoação, aliás é apenas isso que fica impresso na memória, a sua voz. Sempre essa voz que não deixa ninguém indiferente.

http://www.antoniozambujo.com/home.asp?zona=1&template=7&precedencia=0&idioma=1

domingo, 30 dezembro 2012 11:32

Os progressistas

Os Xarabanda são uma associação cultural que desenvolve várias actividades paralelas, onde há um trabalho de investigação, recolha, divulgação, edição musical e o grupo que é a sua face visível. Esta instituição de utilidade pública apoia ainda a escola de cordofones tradicionais orientado pelo professor Roberto Moniz para os mais jovens e um ensamble vocal que é as “seis pó meia dúzia”. Um processo longo de revitalização da música tradicional madeirense que estará disponível em breve num cancioneiro e no próximo ano na internet, como nos confidencia um dos seus fundadores, músico e investigador, Rui Camacho.

Uma questão inevitável, qual é o balanço que faz destes últimos 30 anos de existência do Xarabanda?

Rui Camacho: O balanço em termos musicais é sempre bom e positivo, porque acreditámos num projecto inovador, que criou impacto junto da população de uma forma contemporânea. Foi ao encontro das pessoas e do seu gosto musical, tendo em conta um aspecto estético musical que agrada, é aceite e como tal, é sempre positivo. Houve também uma preocupação crescente não só de recolha, como de inclusão dos temas tratados de uma forma moderna e contemporânea. Fizemos uma nova abordagem da música tradicional, que não é folclore. Vamos buscar as raízes o nosso som e adaptamo-lo criando um novo conceito de música popular tradicional urbana, explorando desta forma novas sonoridades. A pensar no presente, sem copiar, sem ser fiel à própria tradição, mas mantendo presente as características que lhe são inerentes, estudando, investigando e modernizando para ser devolvida à população de forma a ser aceite. E assim foi, graças a esta mudança de mentalidades, do conceito em termos musicais, todo o processo foi positivo.

O que é isso de música popular tradicional urbana?

RC: Todos nós sabemos que a música tradicional tem origem num meio rural, sabemos que é nas cidades que depressa toda estas raízes populares vão desaparecendo com o progresso e com a evolução. No fundo estas sonoridades vão ficando cada vez mais isoladas nessas áreas por diversos motivos que não vale mencionar, podemos observar estas manifestações musicais no contexto das festas populares, no trabalho do campo e ao longo do tempo tudo isso se foi perdendo. No contexto urbano, existe música popular que é feita por pessoas com formação académica, que provém dos conservatórios de música e são criadores de sonoridades populares de autor que não tem esta tradição secular, de acordo com o ciclo anual, com as quatro estações, com os calendários festivos. Nas cidades nós ouvimos música importada, provenientes de outras culturas através das rádios, da televisão e da internet e juntamos essas referências aos instrumentos ditos tradicionais que chegaram com os povoadores da ilha no século XV, juntando a calabaz, o acordeão e a bateria, por exemplo. Experimentando parcerias musicais com orquestras filarmónicas e coros de câmara. Cria-se aqui, uma nova música popular já de cariz urbano, tendo em conta esses factores culturais e informativos.

A associação Xarabanda possui uma outra vertente que lhes permite dar apoio a outros grupos musicais, como é feita essa ponte?

RC: Somos uma associação sem fins lucrativos, mas foi declarada pelo governo regional tendo em conta a nossa actividade virada para a população e não internamente, como uma instituição de utilidade pública de interesse regional, sempre que possível apoiámos num clima de confiança alguns grupos. Neste momento, há uma banda que esta a ensaiar neste espaço em troca de nada. Apoiamos outras bandas, como por exemplo, o projecto Novo Mundo para ser apresentado no “raízes do Atlântico”, desde que seja possível, com seriedade e disponibilidade aceitámos temporariamente aqui de acordo com as normas internas. Apoiámos também as escolas nos vários escalões de ensino e mesmo os professores da universidade da Madeira.

domingo, 30 dezembro 2012 11:29

O erudito musical

A Associação de Amigos do Conservatório de Música Madeira, ao longo de quase duas décadas de existência, promove e divulga a música erudita na Madeira, através de ciclos de concertos com artistas de craveira internacional. Festivais de música clássica que acolhem grande aceitação por parte dos turistas e uma crescente adesão do publico madeirense. À frente dos destinos desta organização de utilidade publica, está o professor, erudito, músico e pianista Robert Andres, que defende um programa ambicioso e de grande qualidade como cartaz cultural da ilha e como veiculo de financiamento para o jovem talento nacional.

Quais são os objectivos da Associação dos Amigos do Conservatório da Madeira (AACMM)?

Robert Andres: Nós organizamos uma temporada de concertos de música clássica. No passado, abordámos projectos inéditos, ultimamente propússemos um festival dedicado a Liszt no mês de Novembro. Antes disso tivemos um ciclo integral para piano de obras de Chopin e de sonatas para piano de Beethoven. A nossa actividade não tem fins lucrativos. A AACMM organiza concertos e canaliza o lucro da actividade para bolsas de estudantes de música.

Quando deram inicio a estes ciclos de concertos tinham a noção que havia um público para este tipo de eventos?

RA: Quando a associação começou não havia muita actividade nesse sentido, em décadas anteriores havia um enorme dinamismo, através de sociedades de concertos e até havia um festival de Bach, mas não era uma temporada organizada. Esse foi o propósito da criação da AACMM em 1993, assumi a presidência em 97’ e desde esse ano tentámos organizar uma temporada anual com cerca de 8 aos 10 concertos, por esse motivo a nossa actividade mereceu o estatuto de instituição de utilidade pública. A nossa orientação é pedagógica e cultural. Insere-se no cartaz turístico da região, uma vez que os nossos concertos na sua grande percentagem são frequentados por um público constituído por turistas.

Qual é o balanço que faz da actividade deste ano que passou e anteriores?

RA: Apresentámos em inicio de Dezembro passado o nosso bicentésimo concerto, únicos no seu género, porque raramente repetimos a programação. São duzentas experiências musicais com artistas de calibre internacional, onde também existe espaço para os músicos residentes da ilha e sempre quando possível dá-mos à oportunidade de uma primeira apresentação aos jovens que se encontram no final da sua educação musical.

Ao longo destes anos nota que o público português tem vindo a aumentar?

RA: Tem vindo a aumentar, mas não é na percentagem que se desejaria. O público local é um problema que se coloca a todas as instituições que organizam concertos de música erudita, a meu ver, resulta da falta do hábito de assistir a eventos culturais no âmbito familiar. Depois há uma outra vertente, esses concertos não contam com qualquer tipo de apoios, tem de ser pagos, a cultura tem despesas inerentes, a qualidade custa dinheiro e não podemos dar-nos ao luxo, nem seria uma boa prática habitual, que fossem gratuitos. Foi uma falha do passado em que o publico estava acostumado a que à cultura fosse gratuita. Talvez assim seja quando se trata de um trabalho pedagógico que se vai apresentar, porque não envolve custos de viagens, de estadia e pessoas com um curriculum que contribuem para melhorar o nível cultural das populações e que obviamente tem de ser pagos. Isto tudo se repercute no preço do bilhete e muitas vezes acontece que o publico que vem dos países escandinavos e do Reino Unido, às vezes acham os preços elevados, embora não se importem de pagar o dobro, ou triplo, para ver esses mesmos artistas em Londres. É uma questão de perspectiva. Neste âmbito, só há duas vias, ou se apresenta uma programação com qualidade duvidosa, que não implique investimento, ou se tem de garantir e insistir na qualidade, mas tudo isto tem o seu custo. Outro fenómeno que é muito interessante aqui na Madeira, é que nós como associação, oferecemos um pacote para o ciclo inteiro, praticamente a 50% abaixo do preço de tabela e em ambas as ocasiões tivemos apenas uma inscrição. As pessoas aqui não se querem comprometer em Setembro, para o mês de Maio, por exemplo. O compromisso que se pretende assumir por alguma coisa por muito boa que seja é mínimo. Isto diz muito sobre os hábitos culturais.

domingo, 30 dezembro 2012 11:27

O melhor da música portuguesa

É a primeira sugestão musical deste ano e espero que goste.

Com o aproximar do final do ano, altura propícia para balanços e para listas definitivas de coisas que vai empreender no ano seguinte, sugiro um último álbum ao ver muito especial, porque reflecte a história do meu país, através de alguns dos temas e bandas que marcaram várias gerações de portugueses. Embora, não contenha algumas das canções que muitos de nós considerámos verdadeiramente emblemáticas de uma certa era, o som, o refrão das canções e as vozes que ouvimos remetem-nos na mesma para os concertos que assistimos com os amigos, as festas improvisadas de garagem, as peripécias e malabarismos que tínhamos que engendram para que os nossos pais nos deixassem ir até os concertos, os beijos roubados que demos ao som de algumas dessas músicas, as danças apertadinhas, as brigas e amuos de namorados e posso garantir que em todos estes cenários havia sempre uma banda sonora de fundo que marcava o ritmo dessas memórias. O melhor da música portuguesa é um desses périplos musicais que vai estampar um sorriso na sua cara, garanto! Vai recordar tudo isso e muito, muito mais, porque nada é mais português do que relembrar com saudade esses dias de encanto e desencanto e da juventude perdida. Bom ano.

domingo, 30 dezembro 2012 11:24

Cesária évora &

O seu último álbum é o reflexo da universalidade musical da sua terra amada, Cabo-verde.

A voz de Cabo-verde calou-se para sempre. Fica o registo das canções que povoaram o mundo com mornas cálidas e ritmadas, que falam de um povo sofredor, que tem a doçura como luta contra a dureza de uma vida magoada. Cesária Evora & não é talvez o melhor álbum da diva dos pés descalços, mas é o seu derradeiro trabalho. E para compensar um pouco a mágoa que esta cantora sempre sentiu pelo facto de ter sido ignorada por Portugal no princípio da sua carreira, deixo a minha homenagem através deste álbum. É um registo musical diferente do habitual, porque está recheado de duetos inesperados ou não? Atravessámos o Atlântico com “ e doce morrer no mar” com a inigualável Marisa Monte, somos depois embalados pelo bolero “história de um amor” acompanhada por Tania Libertad e terminámos este périplo pela América Latina com “negue” com Caetano Veloso. Façamos um pequeno desvio, rumo ao norte, com a homenagem ao país que a reconheceu como cantora, a França, que fica expresso com o dueto “elle chante” com Bernard Lavilliers, cuja letra citei no inicio deste texto. Atravessámos então o largo oceano retornando as origens, até a “África nossa” com o senegalês Ismael Lo. O regresso a casa, ao Mindelo, faz-se com “Moda Bô” com a participação de Lura. Não é mais do que um diálogo sentido entre uma aprendiz e a mestre da música cabo-verdiana e na despedida a incontornável canção “sodade” com a qual ficámos para sempre após a perda desta grande diva da música crioula. Bem-haja, Cesária Évora, até um dia.

http://www.youtube.com/watch?v=RhesEYcpa2g&feature=related

domingo, 30 dezembro 2012 11:21

Os alquimistas da guitarra portuguesa

Cantos & variações é uma fusão de estilos musicais que assenta na guitarra portuguesa. É um género que imprime uma evolução melódica ao próprio instrumento fazendo uma ruptura propositada com o fado. É uma lufada de ar fresco como se definem, que estampa uma nova sonoridade à música tradicional portuguesa.

Porque a escolha da guitarra de Coimbra?

Ângelo Correia: É uma história um pouco comprida. Comecei a estudar na faculdade de ciências e entretanto apareceu a oportunidade de entrar no grupo de fados da academia e por várias razões que não vem ao caso estreei-me como cantor, só que não tinha uma grande vocação, por isso, iniciei-me na viola clássica. O meu interesse pela guitarra de Coimbra surgiu quando ouvi os primeiros acordes e quando me ofereceram a minha primeira guitarra. Digamos que foi amor a primeira nota. A partir do momento que comecei a tocar, tive aulas e nunca mais a larguei.

Começastes a tocar a guitarra na faculdade, antes disso não tinhas tido nenhuma educação musical? Fostes muito auto-didacta em todo o processo?

AC: Não, não. Tive cerca de um ano e meio de aulas de guitarra portuguesa. Todo o resto foi aprendendo por mim, já toco a cinco anos.

Uma das questões que focas no blog do Cantos & Variações é que querem romper com o fado, porquê?

AC: Nós inicialmente éramos um grupo de fados de Coimbra, muito tradicional, com capa e batina, com o traje académico. A necessidade de romper com essa vertente tradicional surgiu com a entrada do violinista para o nosso grupo, é um músico muito peculiar, que vai muito para além da sua formação clássica. Ele conseguiu agarrar o projecto que lhe propusemos e transforma-lo. Nós temos muitos temas que subsistem por assim dizer, muito por causa dele.

Ele compõe também para o grupo é isso?

AC: Sim, todos os arranjos para o violino foram feitos com base nas suas próprias composições.

No entanto tu também compões, estive a ouvir a criação I e II e nota-se uma influência da música tradicional portuguesa. Como é que alguém que não tem qualquer tipo de formação musical já consegue escrever partituras?

AC: Isso é uma história mais complicada. Eu não tenho qualquer tipo de background musical, a não ser informal. Comecei por gosto. À medida que foi aprendendo, foi estudando. É um processo muito auto-didacta. Quando pegas e tocas o teu instrumento, vais conhecendo-o melhor e vais ouvindo muita música. Sem dúvida que esse é o segredo. As minhas composições tem uma influência da música portuguesa, porque sempre ouvi muito o Carlos Paredes. Nunca deixei de parte o tradicional e o grupo “sofre” também dessa ascendência, digamos que reinventámos a música à nossa maneira. Uma pessoa começa a compor, quando conhece muito bem o seu instrumento, quando perde muito tempo com ele.

Então se tocas a cerca de 5 anos, começastes a compor quando?

AC: A cerca de três anos e meio, compus e escrevi um fado e mais duas canções. As composições para guitarra portuguesa têm apenas dois anos.

A forma como abordam a guitarra portuguesa, a mistura de diferentes estilos musicais, não são encarados como insultos, pelos mais puristas?

AC: Eu tenho como influencia um senhor chamado Octávio Sérgio, tem a mesma idade de Carlos Paredes, e quando compôs também foi muito criticado pelos puristas, inclusive o Artur Paredes chegou a dizer-lhe que as suas peças eram muito boas, mas estavam vinte anos à frente do seu tempo. Agora, ando a aproveitar essas variações, fugindo ao tradicional e já recebi criticas negativas dos mais puristas, dos demasiado puristas, digamos dos velhos do Restelo. De resto, as pessoas que me ouvem, arrogam que o meu trabalho não está a pôr de lado todo o resto, mas assumem que é um género musical que esta a absorver o tradicional e a evoluir. A chave do nosso sucesso é que o público sempre encarou a nossa música como uma evolução.

domingo, 30 dezembro 2012 11:17

O fluxo açoriano

Os strëam atingiram o reconhecimento internacional através de um tema que lançaram pela internet, another story. Um sucesso estrondoso que lhes granjeou a atenção do público nacional, um reconhecimento tardio que não estranharam, não fossem eles, portugueses, mas acima de tudo ilhéus. Da ilha terceira para o mundo, esta banda açoriana, com os pés bem assentes na terra, pretende lançar mais um álbum de originais com data ainda por definir.

Como aparecem os strëam e o porquê deste nome?

Toni Vasconcelos: Os strëam vieram de um outro projecto e só começaram a existir como banda em 2002, eu só entrei em 2007, porque curiosamente éramos todos amigos e eu era uma espécie de rodie do grupo. Entrei como guitarrista, mas houve a oportunidade de passar a ser vocalista e assim ficou. O nome tem a ver com um fluxo, uma corrente, uma linha de energia que esta associada ao nosso som, que é uma mistura de rock e pop mais actual. Os dois pontos surgem na letra e, porque já havia uma outra marca, que nada tinha a ver com música, com o mesmo nome, assim para evitar futuras consequências judiciais optámos pela escrita com dois pontos.

Como é que uma banda do Açores chega à Austrália e ao top 40 do World Indie Countdown, com o tema another story?

TV: Curiosamente, tudo isso coincide com a minha entrada em 2007, quando tentámos promover o nosso trabalho de uma forma mais profissional, tendo em conta o mercado, as limitações de viver na ilha Terceira e a vida de um músico em Portugal. A minha entrada de certa forma alterou o estilo do grupo, trouxe mais influências daquilo que sou como músico e do que gosto de ouvir. Fui eu que compus o tema “another story” e decidimos gravar um LP num estúdio no Porto, no IM studios, com o Ivo Magalhães. Ao todo gravamos quatro temas, escolhemos dois para promover o grupo, o “another story” e o “invisible” através da internet que é um meio muito útil para quem vive numa ilha. As coisas começaram a enraizar-se e seguir vários caminhos, até chegar aos tops das rádios independentes da Austrália.

Eles ouviram o vosso tema na internet?

TV: Exactamente, mas também contámos com o apoio da nossa editora e depois foi uma bola de neve. Daí passou para uma compilação da cruz vermelha americana, o mesmo tema integrou a banda sonora do filme de Tom Green e gravámos o nosso álbum de estreia. Estivemos a promove-lo e agora estamos num outro patamar muito modesto, tendo em conta as perspectivas musicais aqui nos Açores. Demo-nos um tempo para descansar e ao mesmo estamos a preparar um novo disco.

Houve a possibilidade de fazerem uma tournée pela Austrália, isso chegou a acontecer?

TV: Não, há uma série de condicionantes para isso acontecer. Muitos teriam de abdicar do trabalho e hoje em dia faze-lo sem garantias são um risco muito grande. A maioria dos membros do grupo já tem famílias, pessoas que dependem do nosso trabalho e era arriscado. Mas, essa possibilidade não surgiu apenas para a Austrália, também houve essa oportunidade para os EUA e o Canada. Só que tivemos de ponderar bem para não atirar-nos de cabeça e sair magoados. Fizemos sim, uma mini-tournée pelo país.

domingo, 30 dezembro 2012 11:14

Parabéns, amadeus

Ao falar de música não poderia de deixar de referir à Orquestra clássica da Madeira e a sua dedicatória a Mozart.

A orquestra clássica da Madeira (OCM ) tem um trabalho notável e audível nos seus 43 anos de existência. A sua face mais visível é o maestro Rui Massena que ao longo destes últimos dez anos, adiu muita irreverência e jovialidade ao nosso imaginário sobre a música clássica, através de um reportório acima de tudo eclético que visa conquistar novos espaços e audiências. São do conhecimento do público em geral, as participações da OCM com músicos portugueses, nomeadamente os Da Weasel, Jorge Palma, Kátia Guerreiro e Mariza, maravilhosos apontamentos musicais que serviram sobretudo para mostrar a versatilidade e o virtuosismo dos concertistas que integram a orquestra. Quero abordar contudo, a faceta mais clássica da OCM se me permitem a redundância, em particular, um conjunto de cinco discos dedicados ao mais rebelde e genial compositor que já alguma existiu no universo da música ocidental, Mozart. A minha preferência vai para a sinfonia concertante nº 35, com o viola-d’arco, Luís Norberto e o violino de Norberto Gomes. É uma interpretação emocionante e sublime ao mesmo tempo. É também uma homenagem aos 252 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus, ao seu soberbo e ainda muito actual legado, que deixou para a posterioridade. No final deixo, uma pequeno regalo para os ouvidos.

http://www.youtube.com/watch?v=mjuXSVJW8b4

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