Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

sábado, 29 dezembro 2012 18:50

Anaïl, anaïl

Liliane Anaïl é o alter-ego de Liliana Pinho uma jovem designer que não se confina apenas a moda. A expressão da sua criatividade surge na teatralidade das suas criações nas suas mais diversas vertentes. Ela mostra-nos a sua interpretação de uma realidade paralela, sempre em evolução, que visa apresentar o vestuário como uma peça de arte original que não se restringe ao banal. As suas colecções são únicas e singulares. Um mundo encantado que transpôs as fronteiras nacionais e se estreou nas passarelas da semana de moda Milão com grande êxito.

Como é que o teu projecto começou? Reparei que é uma realidade tripartida, pela moda, pela fotografia e as bandas.

Liliana Pinho: Em termos de fotografia começou no secundário com aulas extra-curriculares. Sempre foi apaixonada por esta arte, cresci com as fotografias do meu pai. Comecei com uma das suas máquinas fotográficas e gostava das fotos que ele tirou no ultramar. Foi sempre uma paixão que ficou e fui desenvolvendo. Posteriormente, fui crescendo no meio da fotografia, evoluindo e fazendo alguns workshops, conheci outros profissionais, comprei revistas, no fundo foi muito auto-didacta. Ao mesmo tempo tive sorte, porque conheci muitas pessoas que me deram uma mão ao longo do meu percurso.

Na moda, a minha mãe tem um ateliê de costura. Eu cresci lá. Comecei por fazer vestuário para as bonecas, como toda a gente começa e posteriormente para mim. Com o tempo criei peças para outras pessoas que apreciavam o meu guarda-roupa e de lá até aqui foi sempre um crescente. Já elaborei vestuário para bandas a título pessoal. Lancei-me recentemente como nova criadora no Milan Fashion Week(MFW).

Como surgiu esse convite?

LP: O convite surgiu através da internet. Eles é que me contactaram, porque gostaram dos meus trabalhos. Uma empresa decidiu apostar em mim como nova criadora em Itália. Acharam que o meu trabalho tinha valor lá fora e convidaram-me no sentido de apresentar as minhas criações no MFW e a partir daí foi uma troca de conhecimentos, apresentar uma colecção e expor toda a minha criação.

Qual foi a colecção que apresentastes em Milão? E o conceito subjacente?

LP: Foi a Black veil. O conceito por detrás desta colecção foi a reciclagem, de arte e materiais que não são tão usuais em termos de moda, por exemplo, trabalhei muito o látex líquido. Usei outros apontamentos recicláveis que também é raro ver-se no vestuário e a partir daí fiz algo que parece arte, mas ao mesmo tempo poderia não ser considerado como tal. Não arte. E mostrar que se pode fazer bons coordenados sem ser com materiais nobres e novos tecidos.

Para além do látex quais foram os materiais reciclados que usastes?

LP: Usei penas, umas partículas que são usadas nas árvores de natal, por exemplo Utilizei muitas pérolas e arames. O próprio trabalho que fiz com o látex líquido não é muito comum. Talvez tenha sido a primeira a moldar desta forma, pelo menos do que eu tenho visto no mercado. Decidi apresenta-lo como se fosse uma escultura. Usei-o como se fosse um tecido a partir de uma base.

sábado, 29 dezembro 2012 18:47

O fim de uma era

Um certo amadorismo que se verificava na moda tem os dias contados.

Cada vez mais se aposta na profissionalização deste sector em crescimento em muitos países. Portugal não é alheio a esta tendência vigente num mercado cada vez mais competitivo que exige qualidade a custos reduzidos. Num estudo intitulado “análise da indústria têxtil e do vestuário”, de Eva Vasconcelos, verifica nos seus resultados que englobam um período de 1999 até 2003 que, o crescimento económico do sector tem vindo a diminuir ao longo do tempo, “A estes resultados não são alheios os ajustes que o sector tem sofrido para se adaptar às novas circunstâncias do mercado, assinalado por uma forte concorrência externa e aumento do custo de mão-de-obra. A produtividade continua a ser um dos pontos fracos de algumas empresas deste sector. O problema parece residir nos factores de produção imateriais, ou seja, para este mau desempenho na produtividade poderão estar associados um elevado nível de absentismo e alguma falta de formação dos recursos humanos. As empresas carecem de quadros médios/superiores, que são normalmente o motor da inovação tecnológica e da adopção de novas soluções organizativas”.

Se no passado a ITV (Indústria textil e vestuário) evoluiu à custa de mão-de-obra barata e baixos custos de produção, o presente tem-se encarregado de eliminar empresas obsoletas sem base tecnológica. O futuro indica que a liberalização do comércio têxtil mundial representa uma dificuldade não só para Portugal mas para todo o sector europeu (onde só os mais bem preparados sobreviverão). Isto poderá ser um campo de oportunidades num novo mundo de relações multilaterais, promovendo a inovação, criatividade, qualidade e conhecimento. A internacionalização das empresas da ITV portuguesa é hoje um factor-chave para a sobrevivência e para o sucesso”, como refere a economista.

Desde a publicação deste trabalho até os nossos dias pouco ou nada mudou. Os empresários portugueses continuam a não arriscar na criatividade nacional e nos potenciais profissionais preparados que todos os anos saem das universidades e dos cursos profissionais. Muitos continuam a insistir na velha máxima de copiar o que resulta nos mercados externos. Um cenário desolador que em grande medida advém do facto de que, a maioria das empresas deste sector serem pequenas e médias empresas de índole familiar, que também não apostam na formação continua dos seus quadros. “Em jeito de conclusão, depreende-se que em Portugal a indústria têxtil está em declínio em contraponto com a indústria do vestuário que se encontra perante cenários que induzem mais optimismo”, como concluí a economista, como vacticina e bem Eva Vasconcelos.

http://foreigners.textovirtual.com/edit-value/analise-da-industria-textil-do-vestuario.pdf

sábado, 29 dezembro 2012 18:46

O ser mulher

Dados estatísticos demonstram que a beleza física tem um peso significativo na sociedade actual.

Ser feia é um pecado mortal imperdoável a qualquer mulher. Na moda, no cinema, na televisão e na publicidade a aparência física conta quer queiramos ou não admiti-lo. Todas nós sabemos disso. Já o sentimos na pele de uma forma discreta, ou mais despudorada. A discriminação para quem não é “bafejado” com o rosto e corpo ideal é patente. Mais no caso das mulheres. Há sempre alguém pronto para criticar a nossa imagem, o nosso corpo, o nosso vestuário e a nossa postura. As revistas cor-de-rosa cada vez mais exploram esses “defeitos” de forma implacável, as pernas com celulite, umas olheiras profundas, mas o pior de tudo é a obsessão da sociedade actual pelo excesso de peso.

De acordo com um estudo de Joana Vilhena Morais, doutorada em psicologia clínica, sob o título, ser mulher, ser feia e ser excluída, “ a feiúra é, atualmente, uma das mais presentes formas de exclusão social feminina, e como tal, uma importante forma de agenciamento de subjetividade. Tomando a gordura como uma das atribuições mais  representativas de feiúra na cultura atual, apontamos para os processos de exclusão vividos por aquelas que nela se enquadram. Buscando demonstrar como a imagem da mulher e a construção da identidade feminina estão fortemente associadas à beleza, destacamos alguns dos qualitativos morais e estereótipos depreciativos mais comumente observados. Paralelamente, enfatizamos o novo paradigma cultural da contemporaneidade - o dever moral de ser bela como um adicional aos padrões estéticos de beleza que sempre existiram ao longo da história”. Mas, quais são as insignías atribuidas a feiúra? Três basicamente, o não ser magra, o não ser jovem e o não parecer saudável. São estes os novos paradigmas da sociedade actual. “Se, historicamente, as mulheres preocupavam-se com a sua beleza, hoje elas são responsáveis por ela. De dever social, a beleza tornou-se um dever moral. O fracasso, não se deve mais a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma incapacidade individual” como sublinha a autora. Para colmatar essas “falhas” existem actualmente no mercado inúmeros tratamentos estéticos que veículam a perfeição fisíca, que se traduz em termos de sucesso profissional e pessoal.

Para Catherine Hikam, professora da London School of Economics and Political Science, existe um capital erótico no mundo do trabalho, ou seja, uma pessoa é mais bem sucedida, se além do aspecto físico, se dispôr de qualidades como a desenvoltua, charme, elegância e sensualidade em detreimento das suas capacidades intelectuais ee mesmo formação adequadas ao exercício de uma determina função numa empresa. Para reforçar este argumento, ela afirma que "pesquisas realizadas nos Estados Unidos e no Cana­dá demonstram claramente que homens atraentes (quer dizer, com mais capital erótico) ganham entre 14% e 27% mais do que os homens não atraentes - consi­derando que tudo o mais entre eles seja equivalente. Para as mulheres, a diferença varia entre 12% e 20%.

No fundo, o que todas estas especialistas acabam por reforçar é o argumento de que o grau feiúra é um índice com enorme peso na contratação de um indivíduo, embora não se o admita por ser politicamente incorrecto e mesmo se aplica a vida afectiva. Assim para Joana Moraes, " o ser feia, frequentemente associada à gordura, sofre uma das maiores formas de discriminação nas sociedades que cultivam o corpo. Para eliminá-la, mitigá-la, ou disfarçá-la, todos os esforços e sacrifícios serão dispendidos. Uma discriminação ostensiva, manifesta e sem culpa, ao contrário dos negros, pobres, gays ou qualquer outra minoria - discriminamos os feios e/ou gordos sem nenhum pudor ou vergonha". Contudo, há ventos de mudanças neste contexto, já se verificam na moda indícios de um novo paradigma de beleza, o aparecimentos das modelos XL e mesmo na música com cantoras mais cheinhas enchem as páginas das revistas da especialidade. A esperança e força de mudança é sempre a última a morrer.

http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0237.pdf
http://esr.oxfordjournals.org/content/26/5/499

sábado, 29 dezembro 2012 18:37

Lobos, raposas e coiotes

É um dos álbuns gravados pela dupla Maria João e Mário Laginha em forma de homenagem aos 500 anos do descobrimentos portugueses.

Este álbum vale por duas canções, não menosprezando as restantes melodias que são maravilhosas, mas a versão de Beatriz cantada pela Maria João ao som do piano de Mário Laginha é uma delírio musical que simplesmente arrepia a pele só de ouvir e emociona até o fundo da alma. Este tema escrito por  Edu Lobo e Chico Buarque, uma das  obras-primas da música brasileira e das canções mais amadas pelo seu povo, foi ao longo de décadas interpretada pelas maiores vozes femininas do Brasil. A versão lusa desta Beatriz, acompanhada pela Orquestra Sinfónica de Hanôver com a voz da Maria João é  soberba e se pudesse mais objectivos acrescentava, contudo não fazem justiça à capacidade vocal desta  grande intérprete.  Ela confere uma leitura própria a todas as canções que decide interpretar, muito em especial neste tema, imprimindo-lhe emoção, cor e calor, o que não está ao alcance de qualquer cantora. O vídeo promocional também é muito original, porque ambos estão pendurados por cabos, sob o Tejo, num final de tarde e princípios do anoitecer que remete para um cenário romântico que acresce ainda mais carga dramática a esta música.

Asa Branca, foi uma escolha pessoal de ambos, tendo sido criado para o efeito um arranjo especial para piano. Se ouvirem com atenção começa com um solo maravilhoso tocado por Mário Laginha e suavemente a voz da Maria João vai-se insinuando imprimindo as palavras desta quase sinfonia melódica, com tom de Nordeste. Divinal!

O título deste álbum foi sugestão da Maria João que ao ouvir pelo telefone os primeiros acordes desta música original tocada pelo Mário Laginha, achou natural que apenas lhe viesse à memória estes três animais correndo em liberdade. E é assim, que se constroem mitos. Naturalmente!

http://www.youtube.com/watch?v=KAggWL7WuGo

http://www.mariajoao.org/

http://www.mariolaginha.org

sábado, 29 dezembro 2012 18:44

A experimentalista

Sara Lamúrias é a criadora muito sui generis na forma como encara a moda. Ela procura através da aforest transmitir a ideia de conforto através de um conceito minimalista. Uma construção que abrange não só as peças de roupa, como também os acessórios. Uma visão intuitiva que explica sob a forma de histórias nas suas colecções.

A forest é um conceito de moda que tem subjacente a ideia do ambiente? Falo disto pela escolha dos materiais que são algodões e lãs? E até o próprio nome?

Sara Lamúrias: A aforest tem o ambiente tão presente como eu o tenho, como designer e cidadã assumo essa responsabilidade. Mas não faço disso comunicação da marca. Os materiais são assim escolhidos por essa razão e pelo conforto também. O nome não teve nada a ver com isso, é o nome de uma canção dos The Cure: a forest, foi intuitiva a escolha.

Há também uma tendência minimalistas para maior conforto? Ou é apenas para realçar certos pormenores que são mais importantes, como as impressões em movimento?

SL: O conforto é essencial, é uma das regras de trabalho, para o design. A roupa não se deve fazer sentir,deve acompanhar o corpo e deve ser bonita. E sim, muitas vezes opto por linhas de construção mais simples quando o conceito tem a ver com algo mais gráfico.Resumindo, o que crio desenvolve-se de diferentes formas conforme a história que lhe serve de base.

As peças do object oriented são em grande medida de sports wear, até um certo estilo urban wear, qual foi o conceito subjacente nesta colecção?E as cores?

SL: A colecção object oriented aconteceu no seguimento do projecto combo e a preocupação principal desta era criar peças e acessórios com caracter de objectos. Havia uma preocupação em criar peças muito utilitárias e criadas com um percurso, um objectivo claro.

 

sábado, 29 dezembro 2012 18:42

A filosofia da andreia

A Andreia Oliveira é um nome a reter no panorama da moda nacional. As suas colecções são o resultado de um trabalho exaustivo e elaborado, que não termina nas peças, cada colecção é um conceito. Fruto de uma pesquisa e de uma reflexão profunda. Ela não tem medo de experimentar e transformar os coordenados mais básicos em conjuntos orgânicos, que quase ganham vida própria. Gosta de aprender, de criar novos desafios e de evoluir como profissional, em direcção a um futuro que ainda está a construir.

Na colecção Air raid a natureza foi a tua inspiração primordial?

Andreia Oliveira: Esta colecção tinha a ver com o taekwondo, que não usei de forma óbvia. O uniforme que eles utilizam, mas sim reflectir sobre a temática das artes marciais. No aspecto mais duro, mais bruto, misturado com uma tecnologia kitsch, meia rudimentar que eram as luzes e cintos com líquidos azuis. Foi essa a direcção que segui. Um taekwondo futurista com o kitsch.

É por isso que as linhas são muito direitas, decidistes simplificar?

AO: Sim, como jovem criadora que sou, novinha, eu sinto que estou a aprender ainda. Por isso, aproveito estas colecções para experimentar é para isso que elas servem. Eu já estava cansada das curvas e das formas arredondadas e por essa vontade de querer ir para linhas rectas, se calhar adoptei este conceito de taekwondo. Eu já tinha essa vontade de mudar e experimentar, portanto o conceito foi ao encontro dessa necessidade.

Quais foram os materiais que utilizastes?

AO: Usei malhas tricotadas. Gosto muito de usa-las porque podem aplicar-se muitos pontos ter texturas diferentes, consoante o que escolhemos. Escolhi também umas malhas elásticas, que era para enfatizar a questão de haver a necessidade de movimento ligada ao desporto e algumas organzas e sedas transparentes.

As cores escolhidas também tinham a ver com o conceito?

AO: Sim, mas também porque gosto bastante. Eu aprecio pegar num conceito que à partida chama uma paleta de cores, mas que decido mudar. Quando reflecti sobre o taekwondo, por ser um exercício mais duro, mais bruto deveria ter cores escuras, era o que as pessoas pensariam primeiro. Mas, decidi que era mais apropriado usar cores claras, frias e pálidas para acentuar o aspecto blindado e robótico que podia existir ligado ao futurismo e ao aspecto bruto que é o de uma pessoa vestida com o equipamento de taekwondo.

sábado, 29 dezembro 2012 18:39

A montra nacional

É um evento que visa promover a produção nacional, dentro e além fronteiras. Um acontecimento que irá decorrer nos próximos dias 20 à 23 de Outubro, para o lançamento das colecções de primavera-verão 2012.

O Portugal Fashion( PF) surgiu em 1995 como contraponto ao Modalisboa. Ainda recordo o primeiro desfile na sede da Associação Nacional de Jovens Empresarios (ANJe). Uma escultural Claúdia Schiffer descia indiferente ao frio a escadaria, com um vestido de noite lamé com estampado animal assinado pelo já desaparecido, José Carlos, que aliás, triunfou nessa noite. A sua colecção intitulada, adequadamente diva, simplesmente arrebatou o público e a crítica da época.

Na sua génese, o PF não pretendia ser apenas uma montra dos designers portugueses, como também da indústria textil e de calçado. Foi a rampa de lançamento de várias marcas nacionais, conferindo maior evidência ao sector em termos de mercado.Outro dos intuitos deste evento, foi desde sempre a internacionalização. A ideia subjacente era que o projecto fizesse parte do cenário internacional da moda. Uma aposta que ganhou visibilidade mediática se bem se recordam com a contratação das grandes top models do momento, Carla Bruni, Eva Herzigova, Valeria Mazza e Linda Evangelista. Ao longo destes 16 anos de existência,  o Portugal Fashion amadureceu e não é apenas um acontecimento associado à moda. Potencia a imagem de Portugal, desde 1999, através da presença permanente de alguns criadores portugueses nos calendários das semanas de moda de Paris e São Paulo, como é o caso, da Fátima Lopes, Ana Salazar, Luís Buchinho, dos Storytailors e mais recentemente, do Felipe Oliveira Baptista, actual director criativo da marca Lacoste.

O PF fomenta ainda, o aparecimento de novos valores, através do programa aliança, criado em 2004, que visa impulsionar  a carreira de jovens talentos, potenciando futuras parcerias com a indústria. Recentemente, sob o título, a glow ball, as empresas de decoração de interiores marcam também presença neste acontecimento irreverente que decorre durante três dias de novo na cidade do Porto.

http://www.portugalfashion.com/

sábado, 29 dezembro 2012 18:38

A antiga camisa de forças

Eram um objecto de desejo dos homens ao longo de várias gerações.

O espartilho durante séculos exaltava à beleza feminina. A realidade contudo era muito mais dolorosa. Esta peça íntima provocava deformações permanentes no corpo feminino, sem esquecer os malefícios respiratórios que afectavam a saúde das mulheres. Os corpetes, já assim denominados durante o período do Renascimento, evidenciavam sobretudo os seios, os problemas, contudo, eram os mesmos. Ao longo de décadas criaram-se os modelos mais castrantes, mais ignóbeis e inimagináveis, que impunham ainda mais limitações à mobilidade feminina. Imaginem que foi apresentado, na exposição do trabalho de 1885, um corpete com seios artificiais que podiam ser insuflados.

A primeira guerra mundial, terminou com esta ditadura estética, já que as mulheres foram convocadas para assumir os trabalhos mais pesados, que antes realizados pelos homens e eram humanamente impossíveis de executar com esta peça íntima rígida. A cinta surgiu como substituto e gradualmente o espartilho foi desaparecendo. Só em 1947, foi ressuscitada pelo new look de Christian Dior, que valorizava o busto e a cintura fina. Os anos 60 foram os tempos da liberdade espiritual, mas também corporal. Soutiens eram queimados na praça pública e o espartilho foi novamente banido. Nos finais da década de 80, os designers Versace e Jean Paul Gaultier relançam este modelo para ser usado por fora da roupa e não por dentro, é a peça fetiche das suas colecções. Actualmente, os corpetes são muito confortáveis e estão de novo de moda, tanto como peça de lingerie, como de vestuário. Os storytailors, são criadores de moda portugueses, que apostam neste tipo de peças que estruturam a silhueta feminina e conferem um ar mais romântico ao conjunto. Afinal, o espartilho está aqui para ficar.

sábado, 29 dezembro 2012 18:37

Profusão do amor

A designer de moda Karla Vieira lançou recentemente num evento recheado de cor, de música e um certo romantismo a sua nova colecção e acessórios inspirados em Portugal.

O antídoto da estilista Karla Vieira para estimular os sentidos é uma colecção, como ela própria define, que é principalmente “recheada de cor. Sentia que havia uma depressão generalizada e um estado negativo nas pessoas. Tinha a necessidade de transmitir energia positiva, através das cores, dos brilhos e das misturas que as pessoas não estão habituadas. De grupos de vermelho com rosa, de verdes e azuis e aí nasce uma paleta que tenta estimula-las um pouco, tipo uma vacina”. Uma conjunção de sedas ondulantes com cortes muito definidas e estruturadas, pormenores delicados feitos de contas e nervuras que realçam às curvas femininas. A dualidade de uma palete de cores aparentemente opostas, vermelhos e fushias, verdes e azuis, amarelos e laranjas, que no final são um antídoto para o olhar, uma mistura de tons aparentemente incompatíveis que, se complementam estranhamente. Modelos para uma ocasião especial que realçam a feminilidade, sem a ofuscar a personalidade que os interpreta, como a designer frisa, “momentos inesquecíveis, exigem roupa inesquecível”. Os pequenos apontamentos bordados em algumas das peças são uma profusão de tonalidades e formas da fauna da Madeira, que adornavam as bordas das saias e das blusas. Uma mistura muito hippie, mas sofisticada ao mesmo tempo para usar durante o dia.

A marca KV contudo, não se limita ao vestuário. Outras das componentes do look Karla Vieira são os acessórios. As contas são integralmente executadas à mão. São pequenas obras de arte entrelaçadas por fios e correntes com padrões inéditos e muito coloridos. Segundo, a estilista, “todas as jóias que faço são inspiradas na cultura portuguesa. Existe um com origem no bordado da Madeira, outro no galo de Barcelos. Há sempre um pequeno detalhe português, um azulejo, ou a natureza. Estive a trabalhar em Espanha bastante tempo, cerca de sete anos, mas depois senti a necessidade de começar por minha conta e divulgar o meu trabalho. Precisava de estar em contacto com os clientes e não por detrás. Começar com marca. Primeiro foram os acessórios, depois foram as colecções de vestuário.” Um conceito de moda que veio para ficar.

http://karlavieira.com/

sábado, 29 dezembro 2012 18:36

As velhinhas botas d'água

São o calçado mais em voga para o inverno de 2011. Um sucesso inesperado para uma bota com quase 200 anos de existência.

A origem das galochas é nobre ao contrário do que possa parecer. Nasceu do engenho de Artur Wellesly, primeiro Duque de Wellington em 1817. O nobre inglês, um homem muito prático, pediu que as botas militares fossem adaptadas. O novo modelo tinham um cano mais curto e eram mais confortáveis de usar. A passagem de couro para borracha aconteceu em 1853, com o processo de vulcanização desenvolvido por Charles Goodyear. A popularidade deste calçado surgiu com os soldados na primeira guerra mundial, que usavam as galochas nas trincheiras francesas. Durante séculos este calçado utilitário ficou confinado a determinadas áreas profissionais. Era o calçado-padrão dos agricultores, dos funcionários de câmaras frigoríficas e de limpeza. Sabia que a Nokia antes de ser líder mundial no mundo das telecomunicações vendia galochas?

Na Madeira, o termo comum para designar este tipo de calçado é botas d’água. Uma denominação que surgiu pela deformação das palavras botas para a água, usadas essencialmente quando se procedia à rega dos terrenos. No Brasil, existe uma expressão que é o chato das galochas, que de acordo com um professor de língua portuguesa e filologia da Universidade de São Paulo, Valter Kehdi, trata-se de uma pessoa muito chata e inconveniente. A expressão idiomática associada à galocha, deve-se ao facto de tratar-se de um chato resistente, como as botas referidas. As galochas após 195 anos de obscuridade foram reabilitadas recentemente nas passarelas internacionais. Existem em diversas cores, com os mais diversos padrões e com um design mais actual. São o calçado para este inverno. As botas d’água resistentes que não só duram para sempre, como ficam sempre bem, no campo ou na cidade.

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